A vida dos colonos italianos em Santa Teresa no relato de Arrigo De Zettiry – Parte 2
O jornalista e pesquisador de imigração, Arrigo De Zettiry descreve a viagem que era necessário realizar no início do século XX para chegar no Núcleo Timbuhy, atual município de Santa Teresa. Toda a visita a este município demorou no total seis dias, entre o tempo de canoa no Rio Santa Maria de Vitória a Santa Leopoldina e a excursão a cavalo de ida até o Baixo Timbuhy, em São João de Petrópolis e o retorno à Capital. Pouco havia mudado entre a viagem realizada pelos imigrantes nas décadas anteriores e a que acontecia algumas décadas depois:
“Para visitar o núcleo de Timbuhy é necessário subir o rio mencionado, de canoa, até a cidade de Porto do Cachoeiro, que é a sede do núcleo do mesmo nome, um dos três núcleos que compõem a ex-colônia de Santa Leopoldina. A viagem mal pode ser cumprida do raiar ao pôr do sol, sendo arriscado deixar-se surpreender pela noite. A viagem se divide comumente em dois dias; no segundo dia o viajante economiza tempo através de uma picada, bastante razoável, que o leva das margens do rio Santa Maria, onde se pernoita, até o Porto do Cachoeiro. Desta última cidade, fazendo mais 30 quilômetros a cavalo, se chega em Santa Teresa, sede do município, onde encontra-se o ex-núcleo de Timbuhy, com colonos italianos, alemães e poloneses” (ZETTIRY, 2021, p. 55-56).
Se no momento inicial o imigrante fazia o trajeto caminhando, agora verificamos que a viagem pode ser feita a cavalo, o que com certeza facilitava um pouco a viagem. Contudo, as condições das estradas e consequentemente a penosa viagem continuava a dificultar muito a vida dos colonos, pois dificultava o deslocamento e tornava mais caro os custos de escoamento do café, a principal fonte de renda do colono.
“O pobre colono está reduzido a trabalhar para o tropeiro, que deverá transportar o seu café até o próximo curso de água navegável, através do qual, por sua vez, uma canoa levará o café ao mais próximo porto de mar. Existem muitas localidades no núcleo de Timbuhy que necessitam de dias de carregamento para transportar o café para Santa Teresa e de Santa Teresa até o Porto do Cachoeiro, onde é carregado nas canoas até Vitória” (ZETTIRY, 2021, p. 58).
Como já descrito anteriormente, os tropeiros eram figura comum nas estradas de Santa Teresa do final do século XIX e início do século XX. E se o pequeno produtor era refém dos tropeiros para escoar sua produção, esta não era a única dificuldade enfrentada. O câmbio havia desvalorizado o café e os lucros eram cada vez menores.
“Quanto ao câmbio da moeda, se comparado a alguns anos atrás, melhorou muito para o importador e para o consumidor de produtos importados. É porém, desfavorável para quem vive como o produtor de café, da exportação. O preço do café, quando transformado em papel moeda, passa a ter um valor líquido menor que anteriormente. Por outro lado, o transporte, se for pago em papel moeda, é igual ao anterior. Se for calculado em ouro, fica ainda mais caro. Feitas as contas, o que resta para o produtor após ter pago o transporte do seu café? Dois mil réis, 1.500 réis ou até 1 mil réis por arroba, nas localidades mais longínquas de Santa Teresa” (ZETTIRY, 2021, p. 58).
Inicialmente, o imigrante não dominava as técnicas de cultivo do café, e lidou com situações que dificultavam ainda mais o início da produção, como terras de qualidade questionável e má qualidade das mudas, que por vezes já eram entregues mortas aos colonos. Sem contar que, o café só passava a produzir mesmo, depois de cerca de cinco anos. Agora os altos gastos de escoamento e a desvalorização do produto traziam novas dificuldades ao colono pequeno produtor. Zettiry, nos apresenta também o relato de um morador de sobrenome ilustre, que descreve a mudança dos bons tempos do café para o momento de crise:
“Ruschi informou-me ainda que, nos bons tempos do café caro, os italianos esbanjaram um pouco, assumindo a posição da cigarra ao invés da formiga; e quando chegou a crise tiveram que recorrer ao crédito dos comerciantes para poder comer, envolvendo-se em um crescente desequilíbrio financeiro, que colocou em risco suas pequenas propriedades, agravado pela hipoteca ou pelas possibilidades de perdê-las para credores” (ZETTIRY, 2021, p. 64).
Com a crise do café Zettiy, cita que alguns colonos perderam suas propriedades e se tornaram meeiros, reduzindo muito o padrão de vida dos mesmos. Seguindo no relato, o pesquisador italiano apresenta alguns casos de sucesso entre os colonos, citando comerciantes da sede de Santa Teresa, dentre eles um belga, um alemão, três tiroleses que compravam café e vendiam os mais diversos produtos (ZETTIRY, 2021).