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Invasão criminosa em Alto Santo Antônio

Carta aberta à imprensa, autoridades e a sociedade teresense.

O cenário dessa história real, faz parte da vida de Augusto  Ruschi e da reserva que carrega seu nome, patrimônio cultural federal de Santa Teresa do estado do Espírito Santo.

Construída às margens da Estrada velha de Alto Santo Antônio, região  de Santa Teresa ES, uma casinha simples de alvenaria e tijolos que resiste há mais de 80 anos, uma morada humilde em um local cobiçado, que hoje faz parte do famoso Circuito Colibri.

Apesar da moradia não possuir conforto, luz ou até mesmo água potável, era o recanto da família  e principalmente  do meu tio Luciano Lirio dos Santos, nascido, e o único da família que permaneceu morando e cuidando do local.

Devido a esquizofrenia que possui, há mais de 10 anos, com a gravidade dos sintomas, teve que ficar  em Vitória  para tratamento médico. Na casa de familiares. Porém mesmo estando temporariamente em Vitória. Nunca manteve o sítio abandonado, mensalmente visitava a propriedade, fazia melhorias como capinar e limpar o terreno .

Com a chegada da pandemia do covid, as idas à propriedade se tornaram difíceis e exatamente no mês que meu tio deixou de ir no local aconteceu uma invasão no sítio, isso aconteceu em Julho de 2021 .

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Vista parcial da área invadida, incêndio criminoso consumiu parte dos campos de altitude da propriedade.

Desde então, eu Deleuza do Nascimento, sobrinha e curadora de Luciano, junto minha mãe Zilda  do Nascimento,  estamos  lutando incansavelmente, contra um grupo de mais de 10  pessoas, que planejam  lotear a região, tentando legalizar de forma sorrateira, de acordo com  relatos dos próprios invasores,  até com ajuda de um cartório Coriolano localizado em Jacaraípe-Serra. Chegaram ao ponto de em  conversas gravadas, até de envolverem o nome do senador Contarato como comprador . Algo que o próprio senador já tomou ciência  através  de mim, e segundo o mesmo, não tem nenhum envolvimento. 

Cresce a lista de suspeitos de envolvimento nesta tentativa de posse indevida, como se já não bastasse todos os transtornos causados pelos invasores, com a ocupação indevida, furto residencial, destruição das plantações e degradação ambiental.

O pior e mais grave na minha opinião desses crimes é a devastação de parte da Reserva Augusto Ruschi no quilômetro 7,  trecho conhecido como Nova Lombardia, onde dificilmente  existe fiscalização, pois se encontra nas costas da reserva.

A Reserva Augusto Ruschi  é  confrontante à  propriedade, é uma área conjunta que infelizmente está sendo sucateada. Incêndios criminosos, corte de árvores de lei, além de caça  de animais silvestres. 

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Na foto, Luciano Lirio em sua casa na propriedade ao lado do sobrinho.

Minha família é  detentora da posse da terra há mais de 200 anos e  nunca cortou árvores ou destruiu, nunca incendiou, nunca  matou ou perseguiu um animal dentro da mata, e agora ver a propriedade ser devastada, é de cortar o coração.  

A propriedade foi doada pelo próprio Augusto Ruschi à família, como atitude  nobre, pois meus avós moravam dentro da reserva e eram os cuidadores da fauna e da flora.

 O Augusto Ruschi tirou minha avó  de dentro da reserva e doou a terra, registrando em nome deles. Isso tem relatos nos documentos do  próprio museu e faz parte da história de Santa Teresa. Mesmo estando nos nossos plenos direitos, fomos ameaçados  e coagidos. 

Clamo por justiça, mesmo porque a polícia não interveio no conflito, fui obrigada a buscar provas, conseguindo-as através de serviço de investigação,  áudios,  fotos e vídeos que foram e continuam sendo utilizados em vários processos e requerimentos.

Todos os invasores  já foram  identificados.  Já procurei os órgãos de proteção ambiental e fiz denúncia formal . Já notifiquei o Ibama através  de  email, relatando a devastação ambiental . Queimadas, corte de árvores entre outras infrações que foram  averiguadas  pelos órgãos competentes e dadas como procedentes. 

Também fiz uma denuncia na polícia civil  e segue o processo no ministério público, que afirmou estar dando prioridade ao caso. Além disso, já ingressei com uma ação processual  no Idaf que caberia aplicações de multas e até embargo. O órgão está analisando para as devidas providências.  

É muito cansativo esperar pela morosidade da justiça, e ainda ter que  tolerar o invasor fazer o que bem quer, tamanha falta de respeito ao ser humano. Permaneço confiante em Deus . Na busca de nossos direitos e tentando  preservar nossa história.

 

Dileuza Nascimento curadora legal de Luciano Lírio dos Santos

 

 

 

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408