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Santa Teresa nos surpreendeu

A encantadora terra dos colibris, têm essa magia de encantar quem a visita, e o segredo está na hospitalidade afável dos descendentes dos imigrantes italianos que fundaram a cidade há 148 anos.

Mario Luís Almeida

Santa Teresa, município da região serrana do Espírito Santo, nos surpreendeu! Já havia algum tempo que não a visitávamos. E a surpresa maior e mais agradável de todas foi a hospitalidade, o carinho e a simpatia com a qual fomos recebidos.

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O calor humano daqueles com quem conversamos, seja em lojas, pousadas, restaurantes ou cafeterias, deve-se à ascendência italiana dos habitantes locais, que tem  impressas  em  seu DNA, estas adoráveis características e atributos. 

Eu e minha esposa residimos desde o início da pandemia em Campinho, distrito sede do município de Domingos Martins, também na região serrana deste Estado, Esse ano, resolvemos “mudar de ares” por um tempinho, arrumamos as bolsas, colocamos na moto (uma Honda CBX 750 Indy “Sete Galo” 1992, relíquia e outra de minhas paixões!) e partimos, passando por Vitória, Nova Almeida, Biriricas, Fundão e, finalmente, Santa Teresa! São apenas 159 km de rodovias asfaltadas e sem pedágio, utilizando este trajeto.

Chegamos ao nosso destino em cerca três horas, parando em Vitória, rapidamente e em Fundão para um tradicional “lanchinho”… Em Santa Teresa ficamos hospedados no Cama & Café LáNoMadruga, simples e confortável, onde fomos muito bem recebidos pela Shirlei e pelo Edson, anfitriões de primeira qualidade. Como era uma quinta-feira, e a pousada ainda estava vazia, a Shirlei nos permitiu escolher a suíte que gostaríamos de ficar as duas noites que havíamos reservado diretamente com os proprietários (pagamentos via transferência bancária ou pix, não trabalha com cartões). Escolhemos a que fica no final do corredor, no andar superior, cuja janela dá para a rua e para o sol da tarde, o que deixa o aposento um pouquinho menos frio!

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Devidamente acomodados, moto na garagem coberta, deixamos a bagagem no quarto e saímos para perambular pela cidade e, quem sabe, depois de uma verificada in loco muito agradável, escolher onde iríamos jantar naquela noite!

Começamos a nos surpreender observando a quantidade e diversidade de restaurantes, cafeterias e bares existentes no Centro! Como já havia realizado uma pesquisa na internet, visitamos a “Galeria do Artesanato”, bem ao lado do Museu da Cultura e Imigração Italiana e bem próxima à Estação Rodoviária. Além de diversas peças do artesanato local, também ali são comercializados produtos locais como biscoitos, massas, vinhos e, o que me surpreendeu mais ainda: “Grapa de Jabuticaba” e “Cachaça de laranja”, das quais comprei um exemplar de cada!

Saindo dali fomos ao bar mais antigo, famoso e tradicional da cidade, o Bar Elite. Fica na “Rua de Lazer” e mantém preservados os móveis e arquitetura originais, inclusive o piso desgastado perto do balcão, uma relíquia. Devido ao horário, estava ainda vazio e fomos recepcionados pela Anésia, sócia-proprietária, muito simpática! Ela nos trouxe um folheto onde conta a história do bar, fundado em 1920! Cerveja gelada, petiscos variados e, claro, cervejas artesanais! Como petisco eu escolhi almôndegas com molho de tomates, as quais me lembraram muito minha infância, quando minha mãe preparava umas deliciosas! Minha esposa escolheu o “escudiguim”, um tipo de embutido produzido com o couro do porco e servido com feijão preto, que adorou! Eu ainda saboreei uma dose de grappa, mas de uva mesmo, fabricada na cidade!   Quando dissemos para a Anésia que aceitaríamos sugestões para nosso jantar daquela noite, ela imediatamente recomendou o “Hosteria Alla Botte” que, coincidentemente, pertence a seu genro.

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Voltamos para o LáNoMadruga para descansar um pouco, tomar um bom banho e aguardar a hora de sair novamente, no início da noite… Foi o que fizemos: Por volta das 19:00h já estávamos caminhando outra vez em direção à Rua de Lazer. No trajeto fomos bisbilhotando os cardápios dos vários estabelecimentos existentes por ali e nos deparamos com um local muito legal: Um sensacional aglomerado de trailers de gastronomia como, por exemplo, hamburgers, tortas, saladas, crepes, cafés e outros! Todas as pessoas que estavam ali para atender o público são extremamente simpáticas, nos receberam com um belo sorriso no rosto, explicaram o que cada um produzia, etc… Estão de parabéns!

Chegamos à Rua de Lazer, nos acomodamos na Hosteria Alla Botte, recebemos o cardápio e escolhemos: Nada de entrada, um nhoque de batata ao molho de quatro queijos para minha esposa, um filé a parmegiana para mim, um vinho chileno da uva Carmenère para nós! Todos os pratos bem servidos e saborosos, o atendimento adequado, os preços idem. Voltamos ao Cama & Café caminhando para fazer a digestão e dormimos “o sono dos justos”, como diria minha avó!

No dia seguinte, sexta-feira, pegamos a moto, após um excelente café da manhã, e fomos até a sede do município de São Roque do Canaã, principalmente porque a estrada margeia o famoso “Vale do Canaã”, lindíssimo. São apenas 31,5 km de estrada asfaltada que, continuando em frente, alcança Colatina, a “Princesa do Norte”! No retorno para Santa Teresa visitamos o IFES – Instituto Federal do Espírito Santo, cujas instalações, conforme nos contou um Professor que ali leciona, foram construídas para servir como uma das bases de treinamento dos pracinhas brasileiros que iriam atuar na 2ª Guerra Mundial, em 1942! Posteriormente transformou-se na Escola Agrotécnica Familiar de Santa Teresa e, na sequência, no IFES! Os prédios existentes retratam bem a arquitetura daquela época, estão muito bem conservados e, com certeza, são motivo de orgulho para os 1.100 alunos e os servidores da instituição! Hoje já possui até cursos superiores!

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De volta a Santa Teresa, seguimos mais uma vez em direção ao Bar Elite, onde iríamos petiscar outras delícias! E encontramos lá, sentados numa mesa na calçada, um casal de amigos de Campinho que resolveram, assim como nós, “mudar de ares”, e dividiam o espaço com um colega deles, a quem conhecemos naquele momento! Conversamos bastante, tomamos juntos algumas cervejas super geladas, saboreamos uma linguiça caseira muito bem temperada e fritinha e, no finalzinho da tarde, retornamos para nossa pousada.

Tomamos um banho revigorante, demos uma descansada geral e partimos de novo para a Rua de Lazer, onde jantaríamos no Gioconda Bar e Mercearia, recomendação de nossa filha. Entretando, passando em frente ao Restaurante Sabor Italiano, quase ao lado do Bar Elite, nos deparamos com uma lousa na calçada onde estavam escritas as preparações que serviam e, entre elas, “Ossobuco com polenta”, um prato de carne bovina do qual sou fã incondicional! Não tivemos dúvida: alteramos o plano inicial e nos acomodamos numa mesa no interior do restaurante.

O ambiente é muito agradável, amplo e muito bem decorado. Quem veio nos atender foi a Maria, sócia-proprietária, caixa, garçonete, cozinheira, Chef e etc. Muito simpática, descendente de italianos, como a maioria do povo teresense, nos contou que morou na Itália por duas vezes, trabalhou em cozinhas lá e trouxe consigo as receitas e técnicas da preparação das maravilhas da gastronomia italiana, a qual dispensa comentários! Eu, então, pedi uma porção do “Ossobuco com polenta”, que ela havia anunciado que foi preparado naquele dia, e minha esposa ficou entre o “Brasato de carneiro” e os “Ravioli de damasco, figo seco e parmesão ”. Ela fez uma pergunta para a Maria: você aceita uma proposta? Preparar um prato com meia porção do  brasato e meia porção dos ravioli? É que eu adorei as duas, ela falou… E a Maria topou na hora! Nós queríamos tomar um vinho, pedimos a carta e Maria nos orientou: os vinhos estão nas prateleiras, os preços estão anotados nos rótulos, você é quem escolhe e o pega… Assim foi feito: selecionei um chileno Los Thibas Pinot Noir chileno, muito agradável!

Passados uns 10 minutos, lá vem nossos pratos: o ossobuco fumegando e ladeado por uma polenta mole rústica, uma tigelinha com uma peperonata maravilhosa, com pedaços grandes dos legumes, saborosíssima!! Do ossobuco fica até difícil comentar: estava delicioso, macio, suculento, seu molho era espesso, tudo de melhor! A polenta? Cremosa, no ponto! Tanto o brasato quanto os ravioli também estavam “dos Deuses” (eu experimentei!). E, para fechar com chave de ouro, Maria me serviu uma dose de uma grappa também fabricada em Santa Teresa. Devidamente degustada, agradecemos a acolhida, a parabenizamos por tudo e prometemos que, sempre que possível, retornaremos para nos deliciarmos com outros de seus quitutes!

Partimos de volta à pousada, felizes e gastronomicamente muito satisfeitos, para uma boa noite de sono e nos prepararmos para a viagem de volta no dia seguinte.

No sábado levantamos cedo e fomos tomar o café da manhã, preparado com muito carinho pela Shirlei e pelo Edson. Em seguida nos despedimos, carregamos a moto e seguimos em direção a Santa Maria do Jetibá, pois resolvemos voltar para casa por outro caminho. Este trajeto segue pela ES-261, passa por Alto Possmoser, Garrafão, Alto Santa Maria e desemboca na ES-264, que liga Afonso Cláudio à BR-262. Pegando a BR-262 seguimos em direção à Pedra Azul e, finalmente, Campinho, 156 km rodados! Enfim, lar, doce lar!

 

 

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408