Anselmo Gazzoli, o Ícaro Teresense
Morava em Vargem Alta com outro irmão. Os irmãos Gazzoli. Gente rústica, forte e de estatura avantajada. Espadaúdos. Desciam de lá do alto do Caravaggio, portando num saco surrado seus poucos produtos a vender, e levar da cidade aquilo que lhes era de necessidade. Anselmo e o outro irmão, inseparáveis.
Por raça e índole observador, de espírito irrequieto e destemido, talvez um visionário, Anselmo se intrigava muito ao ver lá das alturas do Caravaggio as aves voarem pros vales da Valsugana ou do São Lourenço, principalmente o urubu. Num desses longínquos dias do século passado, à sombra da tarde, sentado morro abaixo, com as pernas dobradas ao joelho e escorado nos pés descalços, paião descansado à boca, ia remoendo maravilhas do mundo: “Se o urubu avua, por que eu não posso avuá?” Assim ia pensando…! Com duas folhas de zinco bem presas numa ripa, com formato de asa, o aparelho ficou pronto. Esperou o domingo e subiu ao cume de cuja altura se vislumbrava ao fundo o cafezal. Seguro em seu aparelho, saltou para o espaço e foi cair lá em baixo. Salvou-se bem escoriado. Os moradores, então, perguntaram-lhe o que acontecera que andava todo arranhado. Simplesmente respondeu: “Avuá é bom; o difícil é apousá”. Ele mesmo narrou o fato e que, por sorte, caiu em cima de uma mexeriqueira, no cafezal. Mamma mia!!!
Podem ter como certo que quem inventou em Santa Teresa o “Voo Livre” foi o Gazzoli; quem primeiro concebeu a ideia da pista de voo livre no alto do Caravaggio foi o Gazzoli. Só falta erguer ali perto um monumento ao herói, nosso Ícaro teresense Gazzoli.