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Segurança nas escolas, onde reside a segurança?

Uma análise da situação pelo ângulo da experiência histórica e do comportamento de pais e filhos. Vale a pena ler.

Entrevista com Edimar Hermógenes

STN – Você acha que o Estado agiu certo nas políticas de segurança nas escolas?

Edimar Hermógenes – No ímpeto da indignação, quando as decisões são tomadas no calor da emoção, deixamos passar despercebido alguns detalhes. Está claro que todos esses assassinatos nas escolas são fruto de um desequilíbrio. 

Temos tratado o assunto da insegurança nas escolas, apenas como segurança pública, quando na verdade tem que ser tratado também como saúde pública. 

O Estado tem que entender que nesse momento, é necessário que se compreenda a cabeça desses jovens. A resposta do Estado (na minha humilde opinião) é formar professores com a capacidade de ler e diagnosticar os sinais do discente para que os professores tenham esse conhecimento. 

É falta de inteligência você achar que um professor sem essa formação vai detectar o desequilíbrio. Esse é o ponto, o Estado tem que dar uma resposta, esses lunáticos estão no nosso meio e podem fazer uma loucura a qualquer momento.

É preciso raciocinar e entender que esse assunto não pode ser tratado por nós, população, apesar de sermos maioria, não entendemos a cabeça desses psicóticos. Isso tem que ser abordado e tratado por especialistas.

STN – Na sua opinião, qual o papel da educação nesse processo de formação do indivíduo?

Edimar – Tenho observado ultimamente vários feelings, a creche foi criada para quem trabalha e precisa trabalhar, porém quem tiver condições e puder educar seus filhos, é melhor. 

A educação não pode ser terceirizada, foi um erro nosso terceirizar a educação, os professores estão lá para transmitir o ensino, eles estão se envolvendo demais na educação, isso é um fracasso. 

No Brasil se diz que a prioridade é o ensino, é uma mentira, nós assistimos durante a pandemia, os países europeus não pararam nem 60 dias e já estavam de volta com a escola, nós fomos um dos últimos países a voltar com o ensino. 

Não temos prioridade, quando vejo uma mãe levando a filha para a creche, e depois volta para casa e põe um short para passear com o cachorro, penso: é o fim, ou seja, parte da sociedade está doente. Estamos doentes e não podemos omitir isso, todos nós, tenho minha parcela de culpa, eu errei, mas estou melhorando, todo dia lembro disso, porque sei que é muito importante. É necessário termos um olhar amoroso e mais clínico para entender nossos filhos, eles  estão aí e os sinais estão aí, agora mesmo conversando com uma pessoa de comando do Ifes, ele me disse: Achamos entorpecentes com um dos alunos, ligamos para mãe, e ela fez a seguinte pergunta: “Quantas gramas vocês acharam com meu filho? Porque se achar menos 50g não é crime”. Nesse episódio dá para perceber a situação em que estamos. O crime está sendo tolerado dentro das famílias, meu pai dizia: Quem rouba um lápis é ladrão, igualmente quem rouba um milhão. Por isso precisamos de exemplos.

STN – Não temos tido bons exemplos vindo das autoridades brasileiras.

Edimar – Sim, o exemplo é tudo, eu costumo dizer o seguinte: a população precisa de exemplo, o poder judiciário tem a responsabilidade do exemplo, o legislativo precisa dar exemplo, e nós no executivo, precisamos dar exemplo. O servidor público tem que ser ilibado e tem que ser servidor público, não só no horário de trabalho, mas fora também, porque foi contratado para servir as pessoas. Imagina, um servidor da segurança pública, que tem que  tomar uma decisão de responsabilidade, e você vê todo dia ele no bar, ora, ele perdeu o equilíbrio, portanto o funcionário público tem que ser ilibado, o poder público tem que voltar a funcionar de forma ilibada. 

Fico perplexo com a ação do líder máximo da Igreja Católica protegendo os pedófilos, criticando a justiça brasileira, dizendo que ela se enganou ao condenar o “nove dedos”. 

Assistimos o líder Dalai Lama pedindo um menino para chupar a língua dele, e líderes de igrejas protestantes mergulhados em corrupção, interessados em lucro e dinheiro fácil, enganando a sociedade. Essas personalidades tiveram pais, mas como conseguem fazer isso? Parecem demônios.

STN – A escola com segurança de efetivos vai resolver o problema?

Edimar – Diz um provérbio chinês: “O sábio aprende com os erros dos outros, o homem comum, com seus próprios erros, o ignorante, nem com seus erros”. Numa sociedade equilibrada como a americana, isso vem acontecendo há mais de 20 anos, os Estados Unidos tomaram as mesmas decisões que nós estamos querendo tomar  hoje: segurança nas escolas, porta eletrônica, câmeras, e o que é incrível é que lá os ataques aumentaram em 10 vezes, não surtiu efeito.

Antigamente se roubava banco com revólver, então colocaram a porta eletrônica e o assalto ao banco multiplicou 7 vezes, Isso está constatado.

Em Santa Teresa, a quarta agência do Banco do Brasil no Estado, nunca tinha sido assaltada, porém hoje é comum chegar na agência, e ter alguém reclamando com o gerente  o dinheiro dele sumiu. Hoje os bancos estão migrando para o sistema digital, que não tem segurança armada e nem porta eletrônica, mas por que as pessoas estão indo para lá? 

Porque toda vez que você pede um serviço, quem paga pelo serviço é você, ele sendo bom ou ruim, os bancos comuns hoje tem muitas tarifas, taxa de retorno de juros, porém os bancos digitais não tem custo, por isso os bancos estão mudando.

Todo mundo se lembra dos hooligans, né? Os torcedores do Liverpool, aqueles torcedores que saíam para matar, o cume foi no jogo entre Juventus e Liverpool, na final de uma copa europeia onde morreram várias pessoas, naquele momento a Inglaterra tomou uma nova decisão, porquê já havia uma decisão judicial de afastar o hooligans do estádio, de manter os hooligans presos, mas isso não os detia, porquê o que eles queriam na verdade, era aparecer. Uma pessoa que vivia junto com os hooligans e tinha a mesma cabeça, vivia na mesma loucura, chegou e falou assim, o que nós temos que fazer para acabar com esses torcedores na verdade, é abrir os gramados, deixar o campo sem alambrado e ninguém dá holofotes para eles. Hoje você não vê no campeonato inglês nenhum jogador abraçando o invasor, porque aquele invasor transgrediu a lei e a motivação deles era aparecer. Temos que usar a inteligência para resolver esses assuntos. Cada vez que se procura resolver um problema com repressão, ele duplica ou triplica, vou trazer uma estatística interessante: na década de 80, o Brasil passava por uma crise de petróleo e o Japão por uma crise com o alto preço do café, o Japão comunicou o fato ao japonês e este diminuiu o consumo da cafeína em 27% . No Brasil o governo Sarney proibiu velocidade alta e pediu diminuir o consumo de combustível, conclusão, aumentou em 18%. 

STN – Esses doentes mentais que provocam esses ataques, parece que eles só querem aparecer, não é? 

Edimar – Sim tem muito a ver, na verdade eles querem atacar as crianças para ser o autor  da comoção, você vê no caso que aconteceu em Aracruz que aquela criança deu sinais, ele era antissocial, o pai já estava estudando psicanálise, o menino pediu simplesmente para sair da escola, a mãe aceitou. O nosso problema é saúde mental. Temos que começar a assumir nossas responsabilidades e parar com a ideia de achar que a solução está em algum salvador da pátria ou que está em alguém. A solução está na nossa casa.

STN – De que forma, na sua opinião, podemos melhorar nossa segurança?

Edimar – As pessoas acham que a Polícia vai fazer segurança pública, a polícia erra ao dizer que faz Segurança Pública, é uma mentira monstruosa, a polícia tem seu valor, é importante para equilibrar o meio social, para que o desequilíbrio não ultrapasse os 6%, mas você já viu algum policial chegar antes do assalto? O policial tem condições de avisar que um cara vai te assaltar amanhã? Não, ele só chega depois do crime. 

Quem faz Segurança Pública são as pessoas, é aquilo que eles fazem ou deixam de fazer. Quando você protege um criminoso você está fazendo uma ação que vai provocar desequilíbrio na sociedade.

Temos que nesse momento, olhar para dentro de nós, enxergar os problemas agora. 

Não se assuste se você perceber que estado e seus comandados estão fazendo politicagem com seu filho, e a população permite. Se não fosse politicagem, quando surgisse um assunto dessa natureza, eles chamariam um especialista, o gestor não é obrigado a saber tudo, por isso existem mestres em cada segmento. 

Na Câmara temos os deputado falando muito sem dizer nada, todos sabemos que nossa Lei é uma vergonha, Já deveria ter acabado o crime continuado, que é o caso daquele rapaz que matou quatro pessoas em Blumenau, ele só vai ser julgado pela primeira morte, as outras serão apenas agravante, ele vai pegar no máximo 30 anos de prisão, nossa legislação horrível diz que ele tem que cumprir um terço da pena, 10 anos, se ele tiver um bom comportamento, vai sair com 7, isso é uma vergonha, deveríamos exigir de nossos deputados uma reforma na Lei.

Temos o judiciário mais caro do mundo e que não funciona os deputados mais caros e que não mexem em assuntos espinhosos, Um presidente que incha a máquina pública, governador que incha o Estado, prefeito que incha a prefeitura e o povo aqui embaixo pedindo socorro como se tivesse mendigando um favor. O povo é que deve exigir, eles são nossos funcionários, quem faz reforma é o povo, o povo tem que votar em quem se comprometeu com a reforma.

STN – Uma palavra parcialmente conclusiva sobre o assunto?

Edimar – Estamos vivendo um momento de profundas transformações. Há anos a mulher vem conquistando independência e assumindo importantes papéis, graças a Deus.  Feministas se arrogam donas do seu corpo, fazem o que querem com seu corpo, mas ela não se preparou para ser mãe, também o  garoto não se preparou para ser pai, ser pai e mãe exige uma preparação, pois é um acontecimento que te coloca em outro mundo, quando se tem um filho, o mundo é outro (só quem é pai e mãe, entende), é pular para outro patamar, muitos jovens ao se ver com um filho, entregam para a mãe, transferem a responsabilidade. Entendemos os avanços dessa geração, mas tudo traz benefícios e malefícios. Hoje tá chegando a conta da negligência na educação, essas crianças desequilibradas, são  justamente aquelas abandonadas por pais ativos, mas ausentes, os pais transferiram a responsabilidade, nunca souberam ler os sinais, e vai se criando esses monstrinhos por aí e a gente escutando frases como: “Foi Deus que me deu esse carro” aí você vê seu pai com câncer e pergunta: Será que Deus deu um carro para alguém, e um câncer para o meu pai? as pessoas não tem um direcionamento, tudo começa na escola com sistema de aprendizado da grade, aí vem alguém muda tudo, já diz que aquilo não é bom, que a nova é a boa, isso na cabeça de uma pessoa que ainda está em formação, essa mente, se você der chance ela para dúvida, ela vai tomar caminhos desconhecidos. 

Temos que olhar também para as famílias, tem que saber ler os sinais, em alguns casos têm que tratar não só o filho, mas a família. Os pais tem que passar por tratamento.

Lá em casa, a minha filha todo dia quer uma chancezinha, então eu mostro para ela o caminho do exemplo, aquele que seu pai seguiu. Temos nos tornar exemplo na formação dos nossos filhos, isso passa pela sociedade o exemplo tem que vir de casa principalmente.

 

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408