O prazer de servir a comunidade
A importância do Agente de Saúde
Estamos iniciando um novo projeto, onde ressaltamos o trabalho de pessoas que fazem a diferença no ambiente onde vivem, trata-se do projeto “Gente que faz”. Começamos pela saúde, mostrando o importante trabalho executado por Claudinéia Frank Blanc, nessa entrevista representando todos os Agentes Comunitários de Saúde de Santa Teresa.
O principal objetivo do trabalho do Agente Comunitário de Saúde (ACS), é contribuir para a qualidade de vida das pessoas e da comunidade, por meio da informação acessível e também do olhar atento para a necessidade de possíveis intervenções.
O ACS representa a comunidade dentro da Unidade Básica de Saúde (UBS) e sua posição favorece a aproximação dos conhecimentos populares e técnicos. Esse profissional é peça fundamental no envolvimento da população nas ações de saúde, portanto é essencial que esteja bem capacitado.
STN – Quais os tipos de serviços prestados por um Agente Comunitário de Saúde?
Claudinéia Frank Blanc – Promoção, prevenção, tratamento e reabilitação são quatro tipos de serviços que atendemos, voltados aos problemas da comunidade, trabalhamos na atenção básica, somos o elo entre a comunidade e a unidade de saúde, mas a lista de serviços é grande, desde encaminhamentos, avisos sobre o atendimento nas UBSs, pesagem, registrar dados das famílias que chegam, mapear os diabéticos, atualização dos dados, e até apontar as dificuldades das famílias vulneráveis.
STN – Claudinéia Frank Blanc, 47, nascida e criada em Valsugana Velha Santa Teresa, nos conte um pouco da sua infância aqui nessa região?.
CFB – Quando era criança brincava, subia nas árvores, tudo que uma criança faz no interior, aos 7 anos, estudei numa escolinha perto de casa, Escola Unidocente de Valsugana Velha, enfrentamos dias difíceis quando tivemos que estudar na sede do município, meu pai queria que a gente continuasse os estudos, eu e meu irmão enfrentávamos barro da estrada, não tinha carona, nem transporte, as casas aqui na Valsugana, até hoje são distantes uma das outras. Era um tempo diferente àqueles anos, chovia muito, meu Deus como chovia, nossa mãe colocava um chinelinho ou às vezes íamos descalços, a estrada saía onde é hoje, o parque de exposição, onde tinha um charco de taboas e um riozinho onde a gente parava para lavar os os pés, pegávamos o paninho que ele tinha na bolsa, enxugava os pezinhos, botava um tenisinho no pé e íamos pra escola. O colégio que a gente estudava ficava onde é a prefeitura, depois que a gente foi para o Santa Catarina, e mais tarde para o Pinto Coelho, onde terminei o segundo grau.
STN – Ainda não havia o transporte escolar?
CFB – Só mais tarde veio transporte escolar, mas passava em Aparecidinha, a gente tinha que ir a pé até lá, à noite a gente voltava no escuro, e não tinha lanterna. Mas eu sempre gostei muito de estudar, por isso não reclamo a dificuldade, foi a melhor parte da vida da gente, as coisas que eu aprendi, nunca esqueci as palavras da professora, lembro até hoje os ensinamentos.
STN – Há quanto tempo você se dedica ao serviço de ACS?
CFB – Desde junho de 2012, quando ingressei no serviço público como agente comunitário, trabalho aqui em Valsugana Velha, de 4 anos para cá fiquei responsável também por Aparecidinha.
STN – Qual o maior desafio?
CFB – Agradar. A comunidade tem muita gente, houve um tempo difícil quando tive de me adaptar, pois saí de uma comunidade, indo para outra que eu não conhecia, com muita gente, de tudo quanto é país, têm até japonês. Além disso, é difícil entrar em uma comunidade que teve uma ótima agente de saúde por longo tempo e se aposentou, fiquei muito apreensiva, mas graças a Deus entrei e agradei. Mas é um desafio, você fica pensando, será que vai dar certo? sem apoio para me apresentar e me ajudar no início, meu Deus, o que eu vou fazer aqui?
STN – Você gosta do seu trabalho?
CFB – Sim. Eu ajudo a comunidade e eles me ajudam no meu trabalho, é uma troca.
Amigos meus que acham que eu trabalho demais, dizem que sentem pena de mim e perguntam: você está gostando do serviço? Aí eu falo que eu não achei nada de ruim até hoje. Não achei aquela pessoa difícil, não achei aquela família que eu não consigo entrar em casa, às vezes meu marido reclama comigo: Você vai atrás disso hoje? Eu acho que eu nasci pra isso, é algo que eu gosto de fazer. Eu acho que a gente tem que se colocar no lugar do outro, é o que falta para humanidade, se colocar no lugar do outro, ouvir os dois lados, cada um tem seus choros e sua razão. Isso é saber ouvir.
STN – O que mais te motiva?
CFB – Os problemas que o povo enfrenta, eu sei das dificuldades aqui, eu sei o que é pegar uma criança pequena no colo daqui para a rua para procurar um médico, e às vezes a mãe chega e diz que o médico não atendeu. Então, olha só, você trabalha dia na roça, perdeu um dia de sol, pois ela trabalhava de dia, imagina chegar lá com uma criança pequena, sem dinheiro pra comprar algo pra comer e eu ainda não conseguir resolver a situação. Então eu me coloco no lugar dessas pessoas quando eu ando nas casas, né? E eu sei que se eu não intervir, eles vão adoecer. E eu gosto de estar com eles, sou nascida e criada aqui no interior, nessa região, se alguém me liga e diz que está precisando de algo em tal lugar, subo na moto e tchau.
“Não há serviço perfeito, nada que não possa ser melhorado”
STN – Qual a maior dificuldade para a comunidade em relação à saúde?
CFB –A maior dificuldade que as famílias daqui dessa região têm, é a distância das UBS e a falta de transporte, é difícil deixar o serviço, por isso eles adoecem, se não tiver o agente de saúde para intervir eles não buscam a saúde por conta da distância, por isso o grupo de whatsapp ajuda muito no acesso à informação.
STN – Você tem uma comunicação diária com as famílias através de um grupo de whatsapp, isso ajuda?
CFB – Sim, muito. Criamos um grupo de WhatsApp para passar informações sobre saúde para a comunidade toda novidade sobre saúde é colocada no grupo, desde campanhas de vacina, dia de marcar consulta, dia que abre agenda de prevenção, dias em que a unidade está fechada, o pessoal do interior que trabalha na roça, não olham muito se é feriado. 7 de setembro aqui está todo mundo trabalhando, eles não sabem que a unidade está fechada, então o grupo ajuda eles a se manterem atualizados, mas acho que ainda pode ser melhorado, não há serviço perfeito, nada que não possa ser melhorado.