Sonhos que guardei, em Santa Teresa criei 0
Hoje vamos entrevistar a escritora, poetisa e artista plástica, natural do Ceará, criada no Rio de Janeiro, apaixonada pelas letras, Maria Vieri, que encontrou em Santa Teresa, inspiração sustentável para suas peças.
STN – Você é escritora, mas também molda e transforma coisas com técnica própria, quando você se descobriu uma artista plástica?
Maria Vieri – Minha expressão como artista plástica se tornou evidente quando mudei para Santa Teresa, fui morar na roça, foi quando eu comecei a olhar para as coisas de um modo mais encantado, na admiração eu conseguia transformar objetos, reutilizar coisas, minha casa estava em obras, havia muitas sobras de tinta, então eu comecei a pigmentar com insumos naturais que eu conseguia na natureza, descobri multicores com urucum, e com outras plantas a pigmentação lilás, utilizei frutas, enfim comecei a desenvolver um trabalho com essas tintas. Também tinha esmaltes, e eu não queria jogar fora e comecei a utilizar na pintura, fiz alguns trabalhos, um dia recebi a visita de um senhor, um reitor ou função importante na Universidade Federal de Colatina, que admirou e elogiou muito meu trabalho, então tive a ideia de pintar uma tela para homenagear os 100 anos de Colatina, inclusive enviei essa tela de presente para a universidade.
STN – E a escultura da Virgínia Tamanini apresentada no Poetize-se? O que te inspirou a empreender essa obra?
Maria Vieri – Foi a admiração que eu tenho pela obra da Virgínia Tamanini. Também meu esposo, pois ele tem uma amizade com um parente de Virgínia (já falecido) que morava em Brasília e eu entrei em contato com o filho dessa pessoa e a gente conversando eu falei: -Esse ano gostaria de homenagear a sua tia Virgínia. Ele vibrou com a ideia, depois que eu disse isso, dei continuidade a ideia de utilizar o caco de vidro como matéria prima, então moldei esse busto e escrevi a poesia que eu recitei no Poetize-se, onde cito várias obras dessa dama da cultura capixaba que deixou um legado muito honroso para Santa Teresa. Era uma mulher à frente do seu tempo que deve ser lembrada sempre.
STN – Como foi a experiência de participar do Poetize-se?
Maria Vieri – Estar lá é mágico. Para mim o Poetize-se é mágico, fiquei muito feliz quando fui convidada para participar em 2022, e ao ser convidada novamente em 2023, eu trouxe a bandeira de Virgínia. Eu acho que deveria ter mais eventos em Santa Teresa nesse formato de fomento de arte, aqui tem muitos artistas, de várias vertentes, é necessário que tenham um apoio maior, é preciso que as pessoas olhem com um pouco mais de carinho para esse trabalho, pois em Santa Teresa e adjacências tem tem muitos artistas, e a poesia não precisa ser necessariamente escrita, a poesia é toda inspiração que salta de dentro de você. Eu acho que seria muito interessante que esse evento crescesse e abraçasse mais pessoas.
STN – Você nos disse que a escrita é sua paixão, como surgiu esse amor pelas letras?
Maria Veri – Minha paixão pela escrita é antiga, sempre gostei muito de escrever, faço composições e me surgiu de repente a ideia de escrever contos infantis e me apaixonei, inclusive já tenho alguns livros prontos.
STN – Nos fale sobre seus livros?
Maria Vieri – O primeiro que eu escrevi, eu não publiquei, dediquei ao meu neto quando ele era bem pequeno, a gente descobriu que ele tinha um problema de visão e precisou usar óculos, diante disso, escrevi uma estorinha que eu dediquei a ele.
A partir daí eu fui me encantando por contos infantis, publiquei dois livros, fui contemplada com o edital de Santa Teresa com uma pequena estorinha que faz referência a Santa Teresa e aos 150 anos da cidade.
STN – Você disse que gosta de reciclar, quais materiais você utiliza ou já utilizou?
Maria Vieri – Nessa nessa pegada de reciclagem, eu pintei várias coisas, usei a casca de coco e a proteção do cacho como tela, fiz também algumas peças utilitárias com a casca do coco, enfim eu tento aproveitar da melhor forma as coisas que encontro na natureza.
Recentemente me veio a ideia de aproveitar vidro que foi o que eu usei pra fazer essa homenagem à Virgínia Tamanini, que ficou em exposição durante o Poetize-se.
Neste busto reciclei cerca de 50 garrafas de vidro, nesse momento saí um pouco da literatura, ando também escrevendo algumas poesias.
STN – Fale um pouco mais sobre sua história e a relação com as artes?
Maria Vieri – Fazemos a história, a história é interessante para mim, sobretudo escrever, pois eu não tive oportunidade de estudar, mas sempre fui muito apaixonada por leitura, por escrita. Eu já escrevia antes de entrar na escola, com 7 anos eu já sabia ler e escrever, essa paixão é desde a infância mesmo, mas com uma história muito difícil de vida, eu saí da escola, ainda não tinha ainda não tinha concluído o sétimo ano. Mas sempre esteve dentro de mim a necessidade de desafiar o destino, porque dentro de mim eu entendia que havia algo mais que simplesmente aprender a ler e escrever.
Sim, a vida é muito difícil, e vai passando, o tempo vai passando, mas aquilo que você guarda com carinho dentro de você, permanece. E isso eu guardei com muito carinho dentro de mim, a paixão pelas cores, então eu me arrisquei a colorir algumas coisas, não possuo técnicas acadêmicas, mas eu coloco no papel aquilo que está dentro de mim, não me considero uma artista. Coloco a minha essência na matéria prima que é que me é colocada nas mãos.
Até na música, confira: