ColunistasFrei José Corteletti

Escola Singular

As Escolas do interior levavam nos cabeçalhos do caderno ou da lousa (tabela de pedra com lápis também de pedra), para os exercícios de casa, o nome de Escola Singular (por ex. Escola Singular São Paulo do Rio Perdido), com um só professor para todos os alunos de quantas séries houvesse, numa só sala, de assoalho, sem forro e coberta de tabuinhas. Escadinha de madeira com três degraus dava acesso à sala com carteiras para dois alunos ou para duas alunas; de um lado os meninos e do outro, as meninas, bem separados como separados eram os recreios. No caso de São Paulo do Rio Perdido, o professor morava com sua família na casa canônica, perto da igreja, do cemitério e da escola. Em nossa região (São Paulo R.P., Várzea Alegre, Alto Várzea Alegre, Itanhanga e Alto Rio Perdido) só existiam professores homens. Nem podíamos imaginar que mulher desse para ser professora. Professor era como profissão de soldado. Só homem. Precisava ter coração de homem, força física e muita coragem… Quem ditava o ritmo da escola e exigia o procedimento dos alunos era o professor. O professor Olímpio da Cruz (primeiras décadas do Novecentos) tinha personalidade forte e suas exigências atingiam os alunos seja na escola, no caminho da escola seja na casa dos próprios pais, mesmo fora do período escolar (domingos e fériados). Pois bem, comecemos com as matrículas. Eram feitas na casa do professor, na cabeça de uma mesa grande, que bem me lembro. – “Vim matricular minha fi a (ou) meu fi o do meio -, dizia o pai convicto por estar cumprindo um dever de cidadania. – “Muito bem, o senhor quer levar para casa um homem ou um burro? – resumia o professor. – É claro, um homem. – Quer dizer que posso bater no seu fi lho (ou fi lha)? – o professor satisfeito(!). Assim o professor já estava autorizado a bater nos alunos. Se o pai falasse que não podia bater, o professor secamente lhe dizia: “Pode levar seu burro de volta para casa” e não o matriculava. Porém os pais que já conheciam o sistema do professor, logo antecipavam: “Pode bater, menos na cabeça”… Mamma mia!!!

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408