ColunistasSimone Zamprogno Scalzer

A colonização, a necessidade e a obrigatoriedade de desmatar

No modelo de desenvolvimento econômico que se pretendia implantar na Província do Espírito Santo, as florestas eram vistas como terrenos devolutos que deveriam ser ocupados. Vencer a floresta para o governo da época significava substitui-la pelo cultivo do café, por outras culturas e povoados.
Como parte deste projeto o governo passou a vender lotes de terras a imigrantes. Ao receber seu lote o imigrante assinava o Contrato de Designação do Lote de Terra junto ao governo local. Este documento impunha algumas exigências para que o mesmo obtivesse o título definitivo de sua terra.
Dentre as cláusulas do contrato três fazem menção a necessidade de desmatar. Na segunda obrigação que o imigrante devia cumprir para conseguir o título definitivo da terra, estava escrito: “No término de seis meses da data desta designação, deverá ser desmatada e plantada uma área de 1000 braças quadradas, e construída uma cabana de pelo menos 400 palmos quadrados.” A segunda exigência ainda diz que se não cumpridas as determinações os imigrantes podem perder sua terra e as benfeitorias que já realizaram. Na sexta exigência mais uma vez o desmatamento é citado: “As árvores após o desmatamento, deverão ser removidas imediatamente se estiverem caídas na estrada, isto para conservar o trânsito livre.” Por fim, na oitava exigência, temos a obrigação de desmatar para manter limpas as divisas dos lotes: “Os proprietários dos lotes deverão abrir caminho nas divisas com outros lotes, cuidar da conservação, desmatar e limpá-los anualmente, conservando as marcas divisórias como foi dito.”
Com o desmatamento sendo uma determinação e uma necessidade imediata para o estabelecimento do imigrante, em pouco tempo, após a chegada dos primeiros grupos de italianos ao Timbuy, já tínhamos registros da mata sendo substituída pela ocupação humana.

“Enfim, atiram-se todos, resolutos, à derrubada e queimada das matas a ao plantio do café e do milho. Erguiam-se, a cada volta da estrada, as humildes choupanas e, por entre as toras de árvores queimadas e chamuscadas, viam-se as plantinhas de café e de milho balouçarem suas folhas novas ao sopro suave da brisa”
(BIASUTTI, 1994, p.52).