Angelo Antonio ZurloColunistas

Lamento de um rio

Escrito por Metridates Roque Pretti, em maio de 1986.
Às 22 horas

Após minha jornada de trabalho me dirigia para casa, como venho fazendo ao longo de quase 30 anos.
Só que hoje, ao atravessar o pontilhão que passa por cima do “córrego”, outrora Rio Timbuy, ouvi uma débil voz que suplicava: “ Socorro. . . . . Por favor, não me deixe morrer dessa maneira tão humilhante! Parei, assustado e fiquei olhando em volta, tentando localizar de onde vinha aquele apelo tão triste. Foi aí que a mesma voz, agora um pouco mais forte, porém cheia de amargura, disse: “Sou eu, Roque, o Timbuy. O Timbuy de sua infância… Você pode ter esquecido de mim. Você que trocava tudo na vida, por um mergulho em minhas águas, outrora límpidas e cristalinas. Onde então? Leleu, Luiz, Isac, Neneu, Betinho, Caicó, Zé Araldo … E outros, que agora não me lembro! Uns eu sei que se foram para sempre. Outros devem estar por este mundo afora e talvez nem se lembrem mais de mim agora e vejam em que vocês me transformaram, eu que era o orgulho da cidade, com meus lambaris, mandis, traíras e jundiás, que também agonizam comigo, não passo, agora, de um esgoto sujo e mal cheiroso, que em lugar de orgulhar, envergonho minha querida Santa Teresa!
Alguns dias atrás, ouvi o alarido de uma passeata, que passava pelas ruas e gritava em altas vozes: Vamos salvar o Timbuy. Timbuy, rio ou esgoto. . . . . a opção é sua: Salvar o Timbuy é uma necessidade e outros baratos. Alguns, cheios de boas intenções, reconheço, em contraste com a podre demagogia de outros. Mas, triste ironia, essas mesmas pessoas ao chegarem em casa para se banharem ou fazerem suas próprias necessidades, mais sujeiras atiram para dentro de mim, ajudando mais e mais a me poluir.
Será que eu ainda tenho salvação ? Será que voltarei a ser para os seus netos o mesmo Timbuy que fui para você ?
Talvez! Se eu conseguir resistir até mudar a mente da humanidade, que destrói tudo, mesmo sabendo que está se destruindo. “
Fiquei ainda algum tempo olhando aquele fio de água suja e lodosa, em seu triste trajeto para o mar, mas que pelo menos agora levava alguma coisa pura que deixei cair e suas águas: Minhas lágrimas !
Sonho? Quem sabe? Talvez um sonho, porém, como a triste realidade.