Santa Teresa, a primeira comunidade italiana
Os primeiros imigrantes italianos chegaram a Vitória em 21 de fevereiro de 1874, no barco a vela La Sophia, com destino à fazenda de Pietro Tabacchi, situada na baixada Espíritossantense. Em 31 de maio de 1875 aportou o navio a vapor Rivadavia, trazendo as 60 famílias destinadas ao Núcleo Timbuy que hoje é Santa Teresa. Naquela época, em função de questões políticas com a Áustria, o Norte da Itália e os habitantes do Trentino viviam com dificuldades, inclusive a deficiência de terras para cultivo e sobrevivência. Mas, surgiu a notícia de que no Brasil havia enormes áreas de terras destinadas ao cultivo, o que entusiasmou os nossos imigrantes a partirem para o Brasil, com destino ao Espírito Santo. Desembarcando em Vitória, os componentes do Rivadavia encontraram muitos da primeira leva, que ali haviam retornado, em virtude do fracasso da empresa de Tabbacchi. Após alguns dias, em canoas a vela, subiram pelo Rio Santa Maria até o então Porto de Cachoeiro, e, munidos de exíguas ferramentas, escassa bagagem e crianças ao colo, através de trilhas abertas na floresta subiram a montanha, percorrendo os 29 km até a localidade hoje Santa Teresa. O Governo do Estado já havia providenciado abrigos, simplórios porem, e logo, a delimitação dos lotes de terra a eles destinados. No dia 26 de junho de 1875, realizou-se, por sorteio, a distribuição das áreas com destino às famílias. Imagine-se que eram áreas constituídas de floresta e que para atingi-las também era necessário atravessá-la. Mas, imbuídos do trabalho necessário em busca da sobrevivência, ali construíram barracos cobertos de palhas de coqueiro e iniciaram a derrubada, para o plantio de culturas de sobrevivência e café, cuja produção renderia meios para aquisição de outros produtos, inclusive o tão necessário querosene para as lamparinas. Ao Sábado à tarde, partiam, a pé, para Cachoeiro em busca de qualquer produto para sua manutenção (e o querosene?) retornando ao Domingo, porque segunda-feira já era dia de trabalho na roça.
No dia 02 de junho de 2008, foi sancionada a Lei Nº 11.687, instituindo o “Dia Nacional do Imigrante Italiano” a ser anualmente comemorado em 21 de fevereiro em todo o território nacional. Isto, em face da chegada da nave La Sofia, conforme acima referido. E em 11 de janeiro de 2018 foi sancionada a Lei Nº 13.617, instituindo no calendário oficial brasileiro o dia 26 de junho, a data do reconhecimento do Município de Santa Teresa, como o Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil. Isto, em face da fundação, conforme já registramos acima. Então, nosso profundo e sentido reconhecimento aos imigrantes, nossos fundadores e que nós, teresenses, não apenas orgulhosos, mas, acima de tudo, nos empenhemos em dar continuidade ao exemplo de luta e harmoniosa convivência que eles nos deixaram, não olvidando os indígenas, que ocupavam estas terras com tanto amor e respeito, sem nada destruir.
Mas, não é só o aspecto da luta pela sobrevivência. Outros fatos, merecem registro: É o caso, por exemplo, da busca de ordem coletiva, visando uma convivência harmoniosa e o respeito à natureza dadivosa. No dia 22 de fevereiro de 1891 foi solenemente instituída e instalada a Vila de Santa Teresa, nosso atual Município. Já escolhidos e após deferido o juramento legal, foi empossado o Conselho Municipal, assim constituído: Jeronymo Vervloet, Presidente; Fortunatto Broilo, Dr. Emilio Haessler, Alexandre Felippe e Julião Floriano do Espírito Santo.
Do brilhantismo dessa equipe de governo, vale ressaltar que a primeira Lei aprovada e posta em vigor, foi o Decreto Nº 01 de 21 de dezembro de 1892, que promulgava o Código de Posturas do Governo Municipal. Dessa Lei vale destacar um dos artigos, o de número 27, em seu parágrafo 4º: “É expressamente proibido: Fazer obra de qualquer gênero sobre o rio e, sem licença do Governo Municipal, dentro da Vila e povoações. Ao infrator, multa de dez a trinta mil reis, além de demolir a obra”. Vejamos o grau de preocupação dedicado ao então Rio Timbuy que corta a nossa Cidade! Mas, outro fato a relembrar: Qual foi a Segunda Lei? Ela vem confirmar o nível de responsabilidade e compromisso dos nossos imigrantes: O Decreto Nº 02 de 04 de janeiro de 1893, que “Orça a receita e fixa a despesa para o exercício de 1893”. Então, póstumos e devidos parabéns e agradecimentos da parte de nós teresenses, àquela brilhante equipe que de maneira tão eficiente, honesta e brilhante se desincumbiu de sua honrosa missão. E, primeiro, a Lei objetivando a organização, tão necessária. A questão financeira, em segundo lugar! Muito importante, também, ressaltar a dadivosa presença dos nossos Frades Capuchinhos. Chegaram a Santa Teresa, provindos da Cicília-Itália e constataram que os colonos estavam abandonados, por parte das autoridades competentes, no âmbito da educação escolar. De imediato construíram uma modesta casa Canônica, e, em 21 de outubro de 1901 criaram a primeira escola em Santa Teresa, que ali funcionava, dada a inexistência, ainda, de outro local mais apropriado. E,foi sob o comando deles, sempre, que o ensino escolar progrediu. E hoje, contamos inclusive, com a ESFA – Escola São Francisco de Assis que continua com a presença de nossos estimados Frades.
E que nós teresenses procuremos ostentar essa bandeira, evitando a ocupação desordenada da Cidade e seus distritos, respeitemos os rios e o meio ambiente. Pois, temos o exemplo do teresense Augusto Ruschi, “Patrono da Ecologia do Brasil”!
E não podemos olvidar um grande teresense, o Dr. Luiz Carlos Biasutti, Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que lá das alterosas não esquece sua querida Santa Teresa. Autor de várias obras referentes à sua terra, com dedicação e empenho conseguiu, inclusive organizar uma publicação referente à emancipação de nosso Município, contendo o elenco das primeiras 34 leis aqui publicadas na fase inicial da fundação de Santa Teresa.