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Desmanche do Museu Mello Leitão

(continuação da entrevista com Piero Ruschi)

Santa Teresa Notícia – A criação do Inma e o atropelo do Museu foi planejado?
Piero Ruschi –
Analisando os acontecimentos entre 2014 e 2018, chama atenção a contínua repetição de três coisas: incoerências técnicas, desorientação da opinião pública via redes sociais e a pressão sobre representantes políticos. Um “bolo clássico com um toque do cheff”: se criou um problema, recusaram a solução viável apresentada pelo governo, e então “venderam” outra solução ao próprio governo, com o aval da população. A solução vendida é esse estorvo que tenta representar a memória do meu pai para esconder o desrespeito que teve.

STN – Quais as incoerências técnicas?
PR –
Incoerências evidentes nos registros de reuniões, relatórios técnicos, planejamentos científicos. Há um “pacote de males” com as criações de Augusto Ruschi. Exemplo: Um documento inicial que defendia preservar o nome do boletim científico do Museu Mello Leitão, depois no meio do caminho, outro documento fala em alterar o nome, e finalmente em 2017 o planejamento da direção inclui o desmanche do jornal científico.

STN – Você disse pacote de males?
PR –
Sim. O objetivo mais insistente do Inma, que é construir na zona rural e remover as coleções e laboratórios do Museu pra lá, foi defendido sem respaldo técnico algum. Tanto que não se concretizou na reunião com os representantes do MCTI que vieram a Santa Teresa. Aliás, aquela foi a única visita que tenho noticias da comissão de transferência, que deveria ter vindo outras vezes – a comissão foi deformada e reinstituída sequencialmente, com várias prorrogações.
Mas o atropelo maior foi depois que o MCTI comunicou sua decisão de unificar a direção geral dos institutos como alternativa para lidar com o alto custo da criação dos Institutos Nacionais de pesquisa. Uma solução simples e funcional em harmonia com a estratégia nacional econômica, assim não precisaria de tantos diretores, apenas responsáveis regionais. Ser nacional era o que queriam, mas sem abrir mão da direção.
Então, sem abraçar a solução do MCTI de como criar o INMA, nomearam essa solucao de “Extinção do Museu”, usando o nome que tinham abandonado (Museu Mello Leitão) para apelar ao sentimento de amor do teresense ao Museu, que foi convidado a abraçá-lo, pensando que se tratava de um tudo ou nada. Nesta época o Museu estava no limbo, sem identidade, com o patrimônio alienado para o Inma, que tinha sido criado por lei mas não estava aprovado (sem verba), e estava sem diretor e chefes técnico e administrativo. E com a dívida de mais de meio milhão de reais, e os animais sem comida, o teresense se solidarizou ainda mais para abraçar o Museu. Mas se quer sabia que abraçava o condicionante Inma imposto ao governo.

STN – O Sr. falou sobre desorientação via redes sociais, como foi isso?
PR –
A Sambio e o Movimento criado para defender o Inma (MoveINMA) utilizaram suas redes sociais e sites para divulgar textos curtos, mas com grandes contradições. Eles confundiram ao invés de esclarecer. Por exemplo, hora dizem que o Inma completava 66 anos de idade, tendo sido fundado por Augusto Ruschi, hora que completava 4 anos, hora chamam de Museu, hora chamam de Inma. Uma apelação. Coisas do tipo “para que o pior não aconteça…”. Nem o desastre de Mariana escapou: “quantos desastres mais terão que ocorrer para que o MCTIC possa concluir o processo de regularização do Inma?”. Para completar, falam em nome de Augusto Ruschi, alternando entre a suavização de um discurso que desmancha sua própria obra e curiosidades sobre sua vida. Se colocam como curadores de sua memória. Uma tentativa de acobertar a imoralidade a partir da moralidade ignóbil.

STN – E a pressão aos políticos?
PR –
Também divulgaram nas redes inúmeros textos soltos e cartas enviadas pela Sambio aos representantes políticos capixabas, especialmente em Brasília, para que pleiteassem a criação do Inma, (não aquele que o Governo tinha condições de pagar). As cartas pediam dinheiro para construir os prédios fora do Museu e também pediam urgência em escolher o diretor. Algumas universidades federais aderiram à causa, assinando embaixo desses requisitos em uma carta aos políticos, o que mostra a grande propagação da desinformação sobre o atropelo institucional.

STN – E esse ano, como estão as coisas no Inma?
PR –
Começaram 2019 questionando a inteligência e a honestidade de um Secretário do Ministério da Agricultura e Pesca. Está lá na capa do site da Sambio. Também foram à Assembléia Legislativa do ES, onde pediram dinheiro para a insistente meta de remover as coleções. Me difamaram publicamente. E recentemente gravaram um vídeo em que repetem “Museu Mello Leitão” quase 100 vezes, e nenhuma vez falam “Inma. Quase lavou meu cérebro. O pé de Inma que plantaram onde cortaram o pé de Museu só tá dando Inma’s. Nenhum museuzinho se quer, não é enxerto não.