Ei Shazan, ei Xerife, para onde iremos? Lenine, Bosco e Blanc respodem!
Por Kleber Medici
Em nosso imaginário, o último diálogo entre os amigos Shazan e Xerife, que marcaram tanto a nossa infância nos idos 1970, foi assim:
-Ei Shazan, para onde iremos?
-Xerife, vamos ficar. Descobri que a peça mágica estava na imaginação da criançada, que todos os dias torcia para ver a bicicleta voar…voar…voar! Pense bem meu amigo, e nós transportamos tantos sonhos durante este tempo na boleia da nossa “camicleta”, nossa bicicleta-caminhão.
– Ei Xerife, e agora, para onde iremos?
– Não sei Shazan, me desculpe, não sei mais!
E ao cair da tarde caia um… E via um adulto. No mesmo dia, quatro de maio, trajamos luto mais uma vez. Mesmo diante da dor, tentamos confortar a lua que, apesar de não ter brilho próprio, continuava refletindo os sorrisos estampados nas faces de crianças e adultos… Um brilho de aluguel!
E nuvens passaram a compor do seu jeito, naquele céu. Por aqui, ficaram lembranças de milhares de vidas adultas, velhos e jovens, filhos de Marias e Clarices, que choram no e pelo solo do Brasil.
É difícil compreender como Xerife e Blanc partiram num rabo de foguete, que não volta mais.
“Mas uma dor assim pungente não há de ser inutilmente”… Há esperança!
Shazan e Xerife, Bosco e Blanc, são bens imateriais, não se separam, são eternos!
Nestes tempos sombrios, na arte da guerra, precisamos reinventar estratégias capazes de vencer os inimigos invisíveis que estão ao nosso redor e, muitas vezes, morando dentro de nós.
Adiante, a arte, em sua plenitude, vai melhor contar este período da história: o teatro, o cinema, a música, a literatura, a pintura, a fotografia, a dança e tantas outras formas de se expressar.
Nesta efusão de sentimentos, “o show de todo artista tem que continuar”, com paciência. Aquela da canção de Lenine, que diz: “enquanto todo mundo espera a cura do mal, e a loucura finge que isso tudo é normal, eu finjo ter paciência (…). A gente espera do mundo e o mundo espera de nós um pouco mais de paciência (…). Será que é tempo que lhe falta pra perceber, será que temos esse tempo pra perder, e quem quer saber, a vida é tão rara!”
Com paciência, o que nos aconchega é a esperança de que a arte de Aldir Blanc e de Flávio Migliaccio (eterno Xerife), juntamente com a arte inexplorada de outros seres dignos, que também partiram, possam reascender o brilho da criança que existe dentro de cada um, para compreender melhor este mundo que ficou. Como o próprio Blanc imortalizou em “Resposta ao Tempo” fica a primeira lição: “O tempo, no fundo é uma eterna criança, que não soube amadurecer. Eu posso, ele não vai poder me esquecer!”