Lavoro Sacro – Jander do Nascimento
Por Mônica Ferrari – Escritora e psicóloga, dedica-se desde 2001 ao blog Cena Vitória, que visa promover a cultura capixaba.
Objetos organizadamente dispostos na ambientação da casa indicam as etapas de um ofício executado em detalhes. Moldura de elementos que vinculam rotina com a permissão do tempo. Mobiliário em consonância com artefatos. Reino de afazeres. Cenário de interlocução vida-arte.
Residente de seu próprio espaço de criação, o professor radicado em Santa Teresa JANDER DO NASCIMENTO descreve detalhadamente o passo-a-passo de seu processo criativo. A narrativa didática é de quem busca a perfeição. Ensaio de aprimoramento. Ciclo de construção num novelo de palavras. Audácia de quem tem a inquietação dos que tomam a pátria-vida para si.
“A estética da folha é linda”. Atraído pela beleza da fibra de bananeira, Jander faz embalagens para vinhos e caixas de diferentes tamanhos e formas. Começou a produzi-las há poucos mais de um ano. Teve sua curiosidade despertada ao estabelecer contato com alguns artesãos locais. “O que me influenciou foi que em vim morar em Santa Teresa”. Uma circunstância existencial.
Seu estilo inventivo possibilitou que testasse e desenvolvesse uma técnica singular: cartolinas reutilizadas, colas, tesouras, ilhoses, réguas e pequenas peças de madeira são encontradas em seu laboratório criativo. Elementos que espelham um trabalho realizado de forma sequencial. “É minha satisfação”. O sisal utilizado para dar o acabamento nas embalagens é pacientemente cortado na janela. “Eu limpava. No dia em que vi um passarinho pegando as sobras para fazer seu ninho, nunca mais limpei”. Fios de reaproveitamento.
Ilha circundada de liberdade, Jander executa seu ofício como quem realiza um retiro de si mesmo. Em seu templo de criação, a solidão torna-se invenção. O som do rádio dá o tom ao ato criativo. Passa o tempo. Escorre a noite. “Penso, rezo”. Janela meditativa da realidade.