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Lavoro Sacro – Adelk Rangel de Moraes

ARTE FEITA COM AS CORES DA TERRA

Por Mônica Ferrari Seidel – Escritora e psicóloga, dedica-se desde 2001 ao blog Cena Vitória, que visa promover a cultura capixaba.

Ressignificar a saudade do lugar de origem por meio da produção de artefatos é o ofício de vida de ADELK RANGEL DE MORAES. Natural do Rio de Janeiro e radicada na cidade de Santa Teresa desde a década de 1990, Adelk trabalha com as cores da terra. Extrai sentimentos para além da superfície da mãe natureza. Tessitura de memórias. Impressão digital de uma vida esculpida onde habita a saudade. 

Foi em um curso que descobriu que a tinta elaborada com as cores da terra e utilizada na pintura de paredes de igrejas e no restauro de imagens sacras poderia ser experimentada em outras superfícies. Adelk desenha e faz pinturas em telhas. Utiliza uma técnica milenar. Com tons suaves, pinta novos sentidos para sua existência. A mistura harmoniosa de terra, água e cola produz a tinta naturalmente sustentável utilizada na execução de seu ofício. Arqueóloga da criação, Adelk faz da arte um ato de gratidão. “Recebo essa terra de graça e transporto para a peça o sentimento de respeito que sinto pelo dono”.

Conhecedora do elemento que lhe concedeu a possibilidade de reesculpir o presente, Adelk entende que a terra extraída das camadas mais profundas do solo tem maior poder de pigmentação, pois possui menor quantidade de matéria orgânica. Geografia da expressão alinhada com o lugar de pertencimento. Compreende que a natureza tem seu próprio tempo e que por meio de seu ofício desenvolve o exercício do ser sustentável.

No itinerário do encontro entre o que é externo e o percurso que constitui a sua topografia interior, Adelk oferece-se à elaboração experimental de novas cores. Encontradas em diferentes regiões do estado do Espírito Santo, a terra em tons de vermelho, marrom, branco e cinza azulado já totaliza mais de trinta diferentes cores de sua paleta inventiva.

Filha de bordadeira, Adelk faz de sua casa um cenário artístico inundado por pincéis, tintas e artefatos que contribuem para a divulgação da identidade cultural do município de Santa Teresa. Flores, casarios, orquídeas e colibris são temas presentes em suas produções. Marcas de quem esculpe o que vive. “Gosto do que faço. Aqui tem meus traços”. 

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408