Lavoro Sacro – Santo Pereira Melo
Por Mônica Ferrari Seidel – Escritora e psicóloga, dedica-se desde 2001 ao blog Cena Vitória, que visa promover a cultura capixaba.
Há muitas escolhas possíveis no itinerário de uma existência. Habitante de um território de inventividades, o artífice SANTO PEREIRA DE MELO encontrou na cidade de Santa Teresa o lugar geográfico-sentimental para tecer o enredo de seus dias. Da janela do ônibus que há aproximadamente trinta anos o conduziu até a Doce Terra dos Colibris avistou a fascinante biodiversidade da Mata Atlântica e redescobriu um sentido para instigar sua teia de identidades.
Natural de Baixo Gundu, Santo iniciou há um ano uma atividade artesanal que engendra modos de fazer e lança um olhar sobre a degradação do meio ambiente. Reaproveitando garrafas de vidro, Santo cria luminárias, jarras e cúpulas de abajur. Usa colas, correntes, furadeiras, grampeadores, fios e, principalmente, resíduos. O processo criativo é essencialmente experimental. “Não tenho fórmula. Inspiro-me em peças que vejo. Faço, desfaço, faço novamente”. Um exercício de liberdade por descobertas outras. Movimento que atravessa pontes. Santo é senhor de seu próprio desejo.
Desbravador da ousadia, Santo narra o fascínio pela curiosidade que o inquieta em um ofício inaugurado na cidade que o atravessa. Confiabilidade cativada ao longo do tempo sob o olhar de um povo reservado em sua forma de acolher os que em sua terra se abrigam. Fios de elos. Cordel de bem-querer.
Com uma filosofia de vida alinhada à cultura do município, que usualmente preserva objetos herdados, Santo enaltece a importância do reaproveitamento consciente. Com habilidade retórica, diz não ao desperdício e inverte a lógica do desenvolvimento econômico como forma de massificação. Cria artefatos com identidade socioambiental. Expressa lampejos de um ideal.
