Simone Zamprogno Scalzer

A vida e o trabalho no campo – Parte I

O trabalho dos imigrantes foi um elemento importante não apenas para a construção de suas casas, para a produção de alimentos e para a sobrevivência familiar, mas também para a construção do novo território em Santa Teresa (na época, Núcleo Timbuy).

Os primeiros grupos de imigrantes a se estabeleceram no novo território tiveram a opção de trabalhar para o governo, podendo obter uma renda nos primeiros tempos na colônia. Mensalmente os imigrantes trabalhariam 15 dias em obras do governo, como estradas e os outros 15 dias trabalhariam em seus terrenos. Segundo relatos de pesquisadores, inicialmente foi ordenado um revezamento de 3 em 3 dias.  Apesar disso, o dinheiro conseguido com os trabalhos para o governo ajudava a garantir a sobrevivência, mas não era suficiente. E havia mais um agravante, trabalhar em obras do governo não era garantia certa de renda, uma vez que eram comuns os relatos de atrasos nos pagamentos dos salários.

Como as lavouras ainda não estavam produzindo, os imigrantes precisavam comprar tudo o que necessitavam em Santa Leopoldina, tornando esta fonte de renda ainda mais importante.

No entanto muitos imigrantes não tiveram esta oportunidade inicial de trabalho. As entrevistas realizadas foram com descendentes de imigrantes que chegaram após alguns anos de colonização, não foi observado em nenhum dos casos relatos desse tipo de atividade.

Esses trabalhos ocorreram em um período que a administração da colônia precisava realizar várias obras no núcleo. Contudo, o objetivo principal do governo não era este. Criaram-se as colônias para que surgissem núcleos de pequenos agricultores, e assim ocorreu no Timbuy. Esperava-se que os imigrantes cultivassem café, e esta acabou sendo a lavoura predominante nesse núcleo colonial. Todavia essa só daria uma boa colheita após quatro ou cinco anos. Neste período os imigrantes precisavam garantir o sustento cultivando outros gêneros, como os cereais e hortaliças.

Mesmo após o início da produção do café, as dificuldades econômicas dos primeiros tempos no novo território, a distância e a difícil viagem para compras até Cachoeiro de Santa Leopoldina, sede da colônia, também obrigavam os imigrantes a produzirem seu próprio alimento. Mesmo assim, se faltasse algum alimento que não conseguiam produzir, como o trigo, ou alguma ferramenta, as estradas permitiam que a viagem para compras, mesmo que difícil, fosse realizada. Da mesma forma, as estradas permitiram o escoamento para produção, principalmente de café, até a sede da colônia.

A viagem Santa Leopoldina durava geralmente dois dias.

Pra fazer compras eles saiam daqui  e tinha que ir pra Santa Leopoldina. Ia com burro. Gastavam dois dias. Um dia pra ir, que tinha que descansar os burros lá.  Depois faziam as compras e vinham. Que não tinha nada! Querosene, por exemplo. Se faltasse o querosene faltava tudo (MELICIO MONTIBELLER, 2014).