Celina Rodrigues
Por Antonio Angelo Zurlo
Pintores como Celina Rodrigues, Nair Vervloet e Alcebíades Ghiu tiveram a oportunidade de estudar na capital federal, onde permaneceram por períodos mais ou menos longos ou mesmo definitivamente. A introdução da pintora Celina Rodrigues no cenário artístico nacional acontece em 1944 quando foi premiada no 50º Salão Nacional de Belas Artes com Menção Honrosa pelo Auto-retrato em pastel, na categoria desenho. Parte do mérito dessa conquista pode ser creditada aos ensinamentos que vinha recebendo de Bustamante Sá, com cuja linguagem modernista Celina iria sintonizar melhor seus princípios estéticos. Entretanto, a partir de 1947, após passagem pela Colméia dos Artistas, de Levino Fanzeres, Celina marcaria definitivamente seu encontro com a paisagem tradicional ou naturalista. Essa temática foi eternizada nos vários aspectos do Vale do Canaã, na região serrana capixaba, e seria repetida em toda sua trajetória pictórica. Na cidade de Vitória a primeira exposição de pinturas dessa artista data de 1947 quando expõe 17 telas a óleo. Também são desse período as crônicas de Barbosa Lima sobre tal artista, que passou a chamar de “Pintora de Manhã de inverno” (titulo de uma pintura considerada por ele uma obra prima). Segundo o crítico tratava-se do mais belo trabalho na produção de Celina Rodrigues, pois tudo estava em harmonia na obra: planos, perspectiva e relação entre os motivos céu, terra, água, praia e barcos que permaneciam “perfeitos nas suas tintas e quietos na sua imobilidade”. Lindolpho Barbosa Lima.Com o objetivo de valorizar e incentivar a artista, o crítico mencionava as dificuldades existentes na elaboração dessa paisagem, e que Celina teve consciência da difícil tarefa de retratá-la, mas com persistência e estudo conseguiu obter êxito. Mesmo assim, Barbosa Lima advertia a pintora que a obra a que ele se referia ainda não podia ser chamada de obra de arte, pois não estava muito além de um esboço, um mero ensaio sobre tal paisagem. Nesse momento a pintora apresentou obras que evidenciavam uma tendência modernista, e talvez tenha sido esse o motivo para a reprovação do crítico. Percebe-se, no entanto, na observação de Barbosa Lima, que pelo fato de Celina Rodrigues marcar o relevo com planos de maneira sintética ou geométrica ele temia que ela enveredasse para a abstração, o que fazia com que ela revelasse um “estado de abstração como face de uma forma de encantamento do vale em todo seu conjunto maravilhoso”. Em outro momento distingue a obra de Celina como uma “pintura que se caracterizava por certa abstração, que permite sondar naturalmente a alma da natureza”. Entretanto, não encontramos nas pinturas da artista tal recurso, mesmo porque a pintora era assumidamente acadêmica.
Após angariar essas crônicas, Celina Rodrigues ainda permaneceu na capital carioca por alguns anos, conquistando outros prêmios em salões do Rio de Janeiro e de São Paulo. Volta em 1952 a viver em Santa Teresa, no Espírito Santo, onde sua produção desacelera, pintando apenas ocasionalmente, e regredindo pouco a pouco a um academicismo que se distanciaria muito da pintura e dos ensinamentos e de seu mestre.
A Gazeta, Vitória, 21 Out. 1947