Simone Zamprogno Scalzer

A vida e o trabalho no campo – Parte II

Da sede do Núcleo Timbuy/Santa Teresa até Santa Leopoldina são cerca de 28 quilômetros. Mas as condições da estrada e o meio de transporte utilizado tornaram a viagem demorada e exaustiva. Em muitos casos a viagem era realizada a pé, sendo assim descrita por Müller (1925, p. 17): “assaz penosa, era uma verdadeira via crucis”. Essa viagem era feita também pelos tropeiros que transportavam o café produzido no Núcleo Timbuy para o Porto do Cachoeiro de Santa Leopoldina.
Temos relatos também de pequenas agroindústrias caseiras de embutidos, queijos e vinhos, tradicionais da cultura italiana; além, da produção de açúcar mascavo destinadas ao consumo familiar.
Com o passar dos anos o pequeno produtor rural do Núcleo Timbuy teve mesmo sua propriedade estruturada em torno da produção de café, sendo esta sua principal fonte de renda.

Tendo a ex colônia se esforçado (…) se dedicando especialmente à cultura do cafeeiro, têm estes três núcleos [Porto do Cachoeiro, Timbuy e Conde D’Eu] progredidos consideravelmente em lavoura e comércio, sendo digno de particular menção o do Timbuy, onde o número de cafezais aumentam de dia a dia, podendo assegurar-se, (…) que o número de cafezais novos, que ainda não produzem representa dois terços, dos cafezais existentes (FUNDO DE AGRICULTURA, LIVRO 27, p. 53, 9/02/1888).

Na impossibilidade de adquirir e manter durante todo o ano uma tropa de mulas, o pequeno agricultor vendia toda a produção de café a comerciantes, que a transportava até a Vila do Cachoeiro de Santa Leopoldina. Dali até o Porto de Vitória o café era transportado em canoas a frete, onde se juntaria a toda a produção da Província.
O pesquisador Renzo Grosselli, observou que era comum os comerciantes oferecerem crédito aos imigrantes durante o ano, para serem pagos com a safra de café na época da colheita. Esse tipo de negócio subordinava o pequeno produtor ao comerciante, que muitas vezes cobrava preços abusivos pelos produtos fornecidos.
Apesar das dificuldades de escoamento da produção e de por vezes o solo não ser considerado o ideal para tal cultivo, o café era o cultivo que apresentava resultados mais vantajosos para os imigrantes. Com a expansão da área cultivada e da produção, o café se tornou no último quarto do século XIX, uma verdadeira monocultura no Espírito Santo, cultivado pelos imigrantes e seus descendentes.
Além do cultivo do café e de algumas hortaliças e cereais, os imigrantes criavam alguns animais como galinhas e bovinos para o consumo familiar. Tivemos também pelo menos mais duas tentativas comerciais, como a criação do bicho da seda e o cultivo de videiras. A uva, cultura tradicional dos imigrantes, foi trazida pelos mesmos em sua bagagem.

Minha avô trouxe nove plantazinha de uva na batata da Itália. (…) E veio pro Brasil. Naquele tempo gastava quarenta e cinco dias e quarenta e cinco noite pra vim pro Brasil. (…) E afinal gastaram todo esse tempo. Eles vieram abriram um lugar lá e plantaram uva, só salvou seis pés de uva (MONTIBELLER, 2014).

O cultivo da vinha não era comum a todo o Timbuy. As lavouras concentraram-se principalmente nas proximidades da povoação sede do núcleo. A introdução deste cultivo no novo território, foi parte do processo de reterritorialização vivido por aqueles imigrantes. Quando não tinham a uva, uma alternativa foi produzir o vinho a partir da jabuticaba, planta típica da Mata Atlântica. O cultivo da uva perdurou e segundo informações do INCAPER, Santa Teresa é o município com maior produção da fruta no Espírito Santo, se destacando também na produção de vinhos.

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408