Edimar HermógenesSlide

Inoperância e atraso da legislação, expõe o país ao ridículo

Vou compartilhar hoje com vocês leitores, uma experiência que tive tempos atrás, para que possamos lançar luz sobre o assunto e provocar ações.

 

Edimar Hermógenes – Empresário rural

 

Sou um conhecedor de queijos, da forma artesanal de fazer, porque sou mineiro, possuo vínculo com a bacia leiteira da região do Serro e por coincidência eu estava na França em 2017, quando tive o prazer de ver o Queijo da Canastra, saindo de Minas escondido em malas e se apresentando nas maiores mesas de queijo do mundo, na França, foi lá reconhecido e premiado. 

Depois desse fato, fiquei curioso e procurei saber, o que isso resultou para a região da Canastra? Estar fabricando um queijo agora premiado? Tive que ir à Canastra atrás dessa informação para me aprofundar e tentar desvendar esse mistério.

download Inoperância e atraso da legislação, expõe o país ao ridículo

Dois anos depois eu estava na Serra da Canastra, um lugar lindo, onde nasce o rio São Francisco, o rio mais social do mundo. Fiquei abismado ao ver a vida daquelas pessoas já transformadas pela mudança de crença e pude ver Estábulos melhores, famílias voltando, animais mais bem cuidados, novo modelo de ocupação de solo, e o que é mais importante, as famílias adquirindo dignidade com um produto tradicional e milenar. Qual é esse modelo?

No município de São Roque, que tem a 5ª maior renda per capita de Minas, têm no queijo, o segundo maior faturamento. Com renda, se conquista dignidade e faz melhor uso do solo. 

Mais abaixo, em Vargem Bonita, a primeira cidade banhada pelo “Chico” que havia sido devastada pela lavra de diamantes, hoje vive com um turismo pulsante com um modelo turístico sustentável. Lá se vê famílias trabalhando de segunda a quinta, e sexta e sábado, vendendo seu produto. De Vargem Bonita até o maior ponto turístico que eles tem, que é a primeira cachoeira do rio São Francisco, a famosa Casca D’anta com 283 metros de queda, isso dá cerca de 40 km e nesse trecho eu encontrei muitas pousadas e vários aparelhos turísticos. Curioso é que sempre à frente do negócio está as famílias da região, não vi parcelamento de solo e nem degradação, mas vi um turismo sustentável, vi gente do Brasil e do exterior, vi muita gente voltando para a Canastra, famílias que saíram por falta de oportunidades e agora voltando pela mesma causa, as oportunidades.

O que mais me choca nessa questão do queijo, é que nossa legislação não permite a fabricação de queijos a partir do leite cru, o que é uma vergonha, o resto do mundo ri de nós, ou seja quem faz as leis nesse país nunca cuidou de uma vaca, nunca tirou leite, hoje estamos tentando através do Túlio, produtor do Serro, que foi até o presidente Michel Temer pedir para mudar a legislação, o deputado Evair de Mello abraçou essa causa também. 

Precisamos entender que o produto artesanal sempre foi produzido com foco no produto e não na Indústria, não adianta ter uma fábrica toda no granito, se o produto for ruim, nunca vi ninguém morrer com aquele queijo que minha avó fazia, ou com a linguiça que os antigos faziam. A vergonha hoje é que nosso queijo, ouro em 2019 em várias categorias, obteve 57 medalhas na França, têm que sair escondido porque o produtor não pode gerar uma nota, o produtor não pode colocar o código de barras de exportação porque não existe norma no Brasil que atenda a fabricação tradicional com leite cru. Hoje somos atendidos pela normativa 51 que dispõe sobre o leite pasteurizado e está vindo a normativa 61 que fala do leite cru, mas ainda é pouco, precisamos construir uma quebra de crenças, precisamos entender que quem não produz, não pode fazer lei, quem nunca viu nada não pode mostrar o caminho de saída, as leis são feitas em escritórios, em gabinetes. Temos que nos preocupar com a segurança alimentar, que pra mim é um quesito de primeira necessidade, estudos dão conta que em 2050 a população será de 10 bilhões, então, temos que produzir. Ou garantimos nossa segurança alimentar para nossa região ou vai muita gente passar fome. Estou estudando, viajando, me aprimorando no tema para me preparar para estar em consonância com a atualidade que o Brasil deve experimentar.  

 

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408