Simone Zamprogno ScalzerSlide

A IMIGRAÇÃO ITALIANA E A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE “BOM CIDADÃO- BOM TRABALHADOR”

As representações sociais são instituições partilhadas por um grupo, elas podem ser resultado da história desse povo, sendo armazenadas e reproduzidas por seus indivíduos (Moscovici, 2003).  Desta forma, a representação social de “bom cidadão – bom trabalhador” surge na Itália ainda no século XIX. As propriedades familiares eram pequenas e com fertilidade reduzida, devido ao uso contínuo, chegando à exaustão da terra. Além disso, a belas paisagens montanhosas das Dolomitas eram pouco adequadas à agricultura (GROSSELI, 2008). Assim, o super trabalho tornou-se comum na Itália, da segunda metade do século XIX, sendo algo natural para manter a sobrevivência e tornando-se até mesmo um valor humano. Neste momento a representação social de “bom trabalhador” começa a ganhar forma na Itália.  Podemos comprovar a origem desta representação social, com um trecho da obra: Colônias Imperiais na Terra do café, do sociólogo italiano Renzo Grosselli, de 1952: 

“O trabalho, contínuo, prolongado, de todos os membros da família, incluindo crianças e velhos, foi o companheiro secular do camponês trentino. Na sua visão de mundo, tornou-se um valor em si próprio. Trabalhar não era apenas um dever, mas uma coisa boa e positiva, que de qualquer forma o camponês não podia evitar. Foi um meio de sobreviver no Trentino, mas também, (…) e por motivos diversos, no Brasil. E com a mensuração do trabalho o camponês avalia os outros, quer pertencerem ou não à sua comunidade, à sua cultura. De uma pessoa estimável dizia-se sempre que era “um bom trabalhador”. E diz-se ainda hoje nos vales trentinos, como também nos vales brasileiros habitados por brasileiros de origem trentina “(GROSSELLI, 2008, p.31). (grifo nosso)

Se a representação social é utilizada para tornar familiar algo estranho, o super trabalho foi naturalizado pelos trentinos como forma de subsistência para a vida. Transformando o trabalho em valor humano, este grupo começa a avaliar e a classificar os outros indivíduos segundo o critério de ser ou não ser “um bom trabalhador”.

A característica de trabalhador foi reconhecida pelo governo brasileiro ao buscar imigrantes italianos para ocupar terras virgens, onde em muitos casos pretendia-se cultivar café, e suprir a necessidade de mão-de-obra. O imigrante italiano seria um exemplo de ética no trabalho, que seria de grande importância para desenvolver a economia nacional (COLBARI, 1997).

No primeiro momento da chegada às novas terras, em muitos casos em meio a uma mata virgem, o trabalho era muito mais do que isso, apresentando-se necessário para garantir a própria sobrevivência. O cotidiano de trabalho enfrentado pelos imigrantes era difícil e árduo, da madrugada ao pôr-do-sol, e envolviam toda a família até mesmo as crianças: 

“Plantavam café, milho, feijão, e para manter a família eram obrigados a trabalhar em outras propriedades até o início da produção dos cafezais. Quando o cafezal estava formado, as atividades aumentavam e a família toda, inclusive mulheres e filhos, era mobilizada. As mulheres ajudavam na roça e assumiam as funções da casa, que incluíam a formação de hortas e a criação de galinhas” (Colbari, 1997, p.62-3).

Os fatores citados contribuíram para a manutenção e reprodução da representação social de “bom cidadão- bom trabalhador” no novo território, uma vez que o trabalho era a única alternativa para a subsistência da família. Mas mesmo na atualidade esta representação continua a ser reproduzida agora não pela necessidade extrema, mas como um valor humano deste grupo. 

A entrevistada IG (2012) cita dentre os valores que aprendeu com o pai está a “boa vontade de trabalhar”, os entrevistados Alcebiades Feller (2014) e Tranquilo Novelli (2014) afirmam que o grande ensinamento que receberam dos pais foi aprender a trabalhar. Ao ser questionado sobre o grande ensinamento que transmitiu para suas filhas, o senhor Alcebiades respondeu: “ensinei nada, mas, trabalhar eu ensinei” e o entrevistado Melício Montibeller (2014) cita o trabalho como primeiro valor de um homem.

Na manutenção de uma representação social o discurso pode ter um papel importante, assim quando os entrevistados afirmam que o grande ensinamento que receberam dos pais foi “aprender a trabalhar”, percebemos o papel do discurso na manutenção dessa representação social. Uma representação que já estava presente desde o século XIX no Norte da Itália, ainda é reproduzida pelos descendentes dos imigrantes dessa área. 

 

L’IMMIGRAZIONE ITALIANA E LA RAPPRESENTAZIONE SOCIALE DEL                        “BUON CITTADINO-BUON LAVORATORE”

 

Le rappresentazioni sociali sono istituzioni condivise da un gruppo e possono essere il risultato della storia di questo popolo, potendo essere conservate e riprodotte dai loro individui (Moscovici, 2003). In questo modo, la rappresentazione sociale del “buon cittadino – buon lavoratore” nasce in Italia ancora nel XIX secolo. Le proprietà familiari erano piccole e con una ridotta fertilità, a causa dell’uso continuato che aveva portato la terra all’esaurimento. Oltre a ciò, i bei paesaggi montani delle Dolomiti erano poco adeguati all’agricoltura (GROSSELLI, 2008). Così il super-lavoro divenne la regola in Italia dalla seconda metà del XIX secolo, un qualcosa di normale per sopravvivere e divenendo addirittura un valore umano. In questo momento, la rappresentazione sociale del buon lavoratore prende forma in Italia. Possiamo comprovare l’origine di questa rappresentazione sociale da un tratto del lavoro: Colonie Imperiali nella Terra del caffè, del sociologo italiano Renzo Grosselli, del 1952:

 “Il lavoro continuo, prolungato, di tutti i membri della famiglia, inclusi i bambini e gli anziani fu il compagno secolare dei contadini trentini. Nella loro visione del mondo divenne un valore a sé. Lavorare non era solo un dovere, ma una cosa buona e positiva, che comunque il contadino non poteva evitare. Fu una forma di sopravvivenza in Trentino, ma anche (…), per motivi diversi, in Brasile. E sulla base del lavoro il contadino valuta gli altri, che appartengano o no alla sua comunità, alla sua cultura. Di una persona da stimare si diceva sempre che era “un buon lavoratore”. Ed ancora oggi si dice, nelle valli trentine come anche in quelle brasiliane abitate da brasiliani di origine trentina” “(GROSSELLI, 2008, p.31). (nostro appunto)

Se la rappresentazione sociale è usata per far divenire familiare qualcosa di estraneo, il super-lavoro venne naturalizzato dai trentini come una forma di sussistenza alla vita. Trasformando il lavoro in un valore umano, questo gruppo inizia a valutare e classificare gli altri individui secondo il criterio dell’essere o non essere “un buon lavoratore”.

La caratteristica del lavoratore venne riconosciuta dal governo brasiliano quando cercava immigranti italiani per occupare terre vergini, dove spesso si voleva coltivare caffè e risolvere il problema della manodopera. L’immigrante italiano sarebbe stato un esempio di etica sul lavoro, cosa di grande importanza per sviluppare l’economia nazionale (COLBARI, 1997)

All’inizio dell’arrivo in nuove terre, spesso nel bel mezzo della foresta vergine, il lavoro era molto più di ciò, risultando necessario per sopravvivere. La quotidianità lavorativa affrontata dagli immigranti era difficile e dura, dall’alba al tramonto e coinvolgeva tutta la famiglia, persino i bambini: “Piantavano caffè, mais, fagioli e per mantenere la famiglia erano obbligati a lavorare in altre proprietà fino all’inizio della produzione di caffè. Quando il campo di caffè era produttivo, le attività crescevano e tutta la famiglia, includendo donne e figli, era coinvolta. Le donne aiutavano nei campi e facevano le faccende di casa, che includevano l’orto e allevare galline” (Colbari, 1997, p. 62-3).  

I citati fattori contribuirono alla manutenzione e riproduzione della rappresentazione sociale del “buon cittadino-buon lavoratore” nel nuovo territorio, visto che il lavoro era l’unica alternativa per il sostentamento della famiglia. Ma persino oggi questa rappresentazione continua ad essere usata, non per necessità ma come valore umano di questo gruppo.

L’intervistata IG (2012) indica tra i valori che ha appreso con il padre la “buona volontà a lavorare”, gli intervistati Alcebiades Feller (2014) e Tranquilo Novelli (2014) affermano che il grande insegnamento che avevano ricevuto dai loro genitori era stato l’imparare a lavorare. Alla domanda sul più importante insegnamento trasmesso alle sue figlie il Signor Alcebiades rispose: “non ho insegnato nulla, solo a lavorare” e l’intervistato Melício Montibeller (2014) cita il lavoro come primo valore di un uomo.

Nel mantenimento di una rappresentazione sociale il discorso può essere un fattore importante, così quando gli intervistati affermano che il grande insegnamento che hanno ricevuto dai genitori è stato “imparare a lavorare”, comprendiamo l’importanza di ciò nel mantenimento di questa rappresentazione sociale. Una rappresentazione già presente fin dal XIX secolo nel Nord d’Italia che è ancora oggi tramandata dai discendenti degli immigranti di questa area.

 

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408