A alquimia de Clemente Luxinger
O chão de sua voz tem a sabedoria da terra. Amanhecido a orquídeas, o artesão CLEMENTE STANGE LUXINGER aprecia o palavreado da natureza. Habita seus sons quando, encorpado de vento, adentra a área da Mata Atlântica que circunda o município de Santa Teresa. Ecos de silêncios sopram-lhe os ouvidos e atravessam a via da criação. “Válvula de escape”, a arte nasce como princípio para tornar a vida mais leve.
De descendência austríaca e filho de agricultores, Clemente aprendeu a ler partituras musicais com o avô, e até os seis anos de idade só se comunicava em alemão. Foi enlaçado pela arte quando, ainda jovem, recebeu um convite para criar a trilha sonora de uma peça teatral. Tendo a natureza como fonte de inspiração, revela que seu saber artístico germina pelo rastro da observação. Dialoga com a humildade. “Você pode me ensinar? Eu quero aprender a fazer isso”. Entende que o “aprendizado é eterno”, e que a idade aprimora o tornar-se humano.
Clemente abriga a lua e seu bailar de fases. “A vida é feita de estações que se alternam dentro de nós”. Suas produções são cíclicas. Oscilam no entreato do desejo. Haver-se de alternâncias. Modo de impermanência a uma temática e uma técnica específicas. Em estado de sinergia com o desprendimento, seu processo criativo não obedece a nenhuma ordem preestabelecida. Faz parceria com o inesperado. A inspiração “vem de acordo com minha estação interna”. Alinhavado no espaço-tempo, elabora-se pela via da mutação. É terra, broto, árvore, flor, luz e sombra. Existência na scida de asas. “Você tem que perder para poder evoluir. Somos múltiplos, um pouquinho de tudo, e o pra sempre, sempre acaba”.
Artesão múltiplo, Clemente faz desenhos em grafite, peças em macramê, pinturas em madeira, aquarelas, fotografias, móbiles, mandalas, bruxinhas-guardiãs. Utiliza tintas, pincéis, papéis, lápis, linhas, tecidos, sucatas, pedras, cipós e sementes. Genuína alquimia. Interrogar do horizonte. Movimentos de nascentes, rios e folhas. Homem natureza, agradece: “Deus me deu esse prazer. Não é um dom. É um prazer”.