A epidemia de varíola e o isolamento de Nova Valsugana
Por Simone Zamprogno
Segundo pesquisador Renzo Grosselli (2008), quase todo o Estado do Espírito Santo foi vítima de epidemias de varíola. Tivemos casos registrados na Colônia Santa Leopoldina, a qual pertenceu Santa Teresa, desde antes da chegada dos primeiros italianos, em 1874. Por volta do ano 1920 houve uma epidemia de varíola, muito contagiosa, na localidade de Nova Valsugana, interior do município de Santa Teresa. Este fato é relatado pelos moradores locais e também no romance Karina da autora Virginia Tamanini:
“Ao chegarmos a Fazenda, soubemos que em Nova Valsugana, pertinho dali, havia casos de varíola.
Talvez sejam boatos – falei. _Não. Não são boatos. Já vieram alguns aqui com a pele escamando – informou Alfredo. Então o caso é mesmo grave. Será necessário tomar providências para que o mal não se alastre” (TAMANINI, 1980, p. 192).
“A varíola lastrou como fogo por todo o Vale de Nova Valsugana. Não havia uma família que não estivesse atacada do mal. O que punha tudo a perder era a solidariedade entre os colonos na adversidade. Essa virtude cultivada pelos primeiros imigrantes, por sentirem grupo à parte em terra estranha, tornou-se propagadora da morte. O contágio ia e vinha de casa em casa. A irrupção foi tão violenta, que famílias inteiras caíram de vez. O mal tomou proporções de tragédia. Fez-se , então, um abaixo assinado em que todos os habitantes da Vila apelavam para uma ação imediata do governo. E quando todos aguardavam que o governo mandasse uma equipe de médicos e recursos próprios para circunscrever o mal e combatê-lo eficazmente, mandou em vez, um destacamento volante da polícia do Estado. Aquartelado em Santa Teresa, que tomou sede, daí distribuía grupos de soldados para pontos de desembocadura das estradas, atalhos e trilhos que viessem da parte atingida pela epidemia. (…) As ordens eram severas: daí para cima ninguém podia passar. E quando alguém insistia, o sabre comia”
(TAMANINI, 1980, p.194).
Um romance não necessariamente conta com fidelidade um fato histórico, no entanto, os moradores locais descrevem algo bem parecido com o relatado pela autora Virginia Tamanini. Assim como descrito no trecho, foi feito um cerco para que ninguém entrasse ou saísse da comunidade. Os alimentos eram trazidos até certos pontos e a alguém da família do doente iria buscar. O Senhor Jaime Antônio Corona, contou que uma família vizinha da sua adoeceu. Na época sua avó deu duas galinhas para ajudar os vizinhos, no entanto, por medo de se aproximar e contrair a doença, amarrou as aves em pés de café e gritou para que eles viessem buscar.
Os moradores locais ainda contam que por ocasião dessa epidemia, foi realizada uma promessa para São Roque. Com a chegada e cuidados do médico Francisco Tine e o fim da epidemia, uma imagem de São Roque foi colocada no Altar da igreja. Não sabemos ao certo quanto tempo durou o cerco e isolamento daquela localidade, mas sabemos que a epidemia de varíola atingiu grande parte daquela população, causou muitas mortes e deixou essa marca na história local.