A importância da igreja na manutenção do patrimônio histórico
O mês de março nos surpreendeu com uma emenda e um corte na linha que move o Patrimônio Histórico e Cultural da doce terra dos colibris.
A emenda garantiu o tombamento do Sítio Histórico de Santa Teresa pelo Conselho de Cultura do Estado.
O corte veio com o ofício 011/2019 do Secretário Municipal de Turismo e Cultura, que excluiu a Paróquia de Santa Teresa do Conselho Municipal de Cultura e Patrimônio Histórico, sob a fundamentação de que a lei fala apenas em pessoas ligadas às áreas de Cultura e/ou artística e/ou Patrimônio Histórico, Cultural e Artístico.
O tombamento é, sem dúvida, o principal instrumento legal para proteção de bens de valor histórico, artístico ou cultural. É a garantia da identidade específica de determinada comunidade.
Todavia, é preciso que a comunidade se conscientize da importância da preservação desta parte da história. Esta foi a grande preocupação da arquiteta e urbanista Viviane Pimentel durante os esclarecimentos sobre o tombamento do Sítio Histórico na recente reunião realizada na Casa da Cultura.
E por falar em preservar, perpasso a emenda e retomo o corte cultural. Aqui me permita vagar aleatoriamente pelas lições de Frei José Corteletti em sua obra sobre os Capuchinhos e a Instituição em Santa Teresa (2013):
“A primeira Escola de Santa Teresa em 1892, “Casa Canônica”, tinha por objetivo manter viva na alma dos imigrantes e seus filhos uma boa instrução humano-religiosa, a cultura e o amor à Pátria distante”. (pág.25)
“Em 1912 Frei Beto assim se expressa: “O Colégio vai muitíssimo bem; o melhor do Estado; inaugurou-se a banda de música […]”. Com a instalação do Colégio Ítalo-brasileiro em 1916, o ano subsequente ficou marcado pela construção de um auditório para teatro”. (págs. 36 e 47)
“Em 1924, no pátio do Ítalo-brasileiro foi construída uma grande área coberta com palcos onde se apresentavam grandes peças teatrais e promoções litero-musicais […]. No ano seguinte nos festejos de Santa Teresa três dias cheios de atividades e de expressões culturais […]. Em 1927 no festival do Colégio além da parte teatral foram exibidos também vários filmes” (págs. 53, 58 e 78).
Em 1935 é inaugurado o Seminário, Frei Jamaria, um frade culto e de visão larga, motivava os seminaristas através da leitura, da música, da recitação e do teatro. Adquiriu uma tipografia para o Seminário e fundou o jornal “A Voz do Seminário”. Posteriormente, inaugurou o “cinema recreativo-cultural”. (pág. 125).
Na década de 1970, com a passagem para Educandário Seráfico São Francisco de Assis, sob a direção do Frei José Corteletti o que falar do coral, do grupo de teatro, das mostras de música? Bem, vamos à memória do diretor: “acessando os relatórios anuais enviados ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) temos uma idéia de quantas atividades culturais extraclasse eram programadas no Colégio”. (pág.256)
Ah! Conheceram o “museu Seraphicum”, inaugurado em 1986? Conhecem o atual? E assim nos conduzimos no tempo…
A partir deste ponto poderia começar a escrever sobre a importância das atividades culturais desenvolvidas pelas Irmãs Santa Catarina e pela própria Paróquia de Santa Teresa, mas, nesse momento, limito-me a este singelo registro.
Quanto ao patrimônio histórico arquitetônico, prudente que visitássemos as capelas, a gruta do Convento (Casa dos Freis), a ESFA, o Colégio Santa Catarina, a Igreja Matriz…
Depois de passar os olhos nesta parte de nossa história é constrangedor reler o ofício da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura ao apontar que foi solicitado pelo Procurador Jurídico que retirasse a Paróquia de Santa Teresa do Conselho Municipal de Cultura e Patrimônio Histórico.
Ao mesmo tempo, a esperança retorna aos mesmos olhos diante do tombamento do Sítio Histórico. Ao alcançarmos o primeiro degrau de uma longa escada é preciso acreditar, ter consciência e participar ativamente para que se possa chegar a patamares mais elevados.
Afinal, é preciso refletir e compreender a expressão “matar” no sentido imortalizado pelo cronista esportivo Armando Nogueira: “matar a bola é um ato de amor”. Em tempos de tanta violência, destruição, apatia, não preservar a representatividade de quem se confunde com a história e cultura de Santa Teresa é dar bola fora.