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A invisibilidade dos povos indígenas

Não me recordo se alguém se lembrou de comemorar a história dos povos que habitavam o Brasil pré-cabralino no 19 de abril. O esquecimento, encarado com normalidade pela sociedade, tende à indiferença.

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A marginalização dos povos indígenas remonta ao descobrimento do Brasil, melhor dizendo, ao achamento, porque não se pode ignorar aquela inocente presença, quando da chegada de Cabral ao Novo Mundo, registrada por Caminha. Ah! Este marco da nossa história presume-se que também passou desapercebido. Alguém se lembrou do dia 22 de abril?

E entre as datas podemos dizer que ficou enforcado o dia 21 de abril. Alguém se lembrou deste dia? Entre Vila Rica e Barbacena unidade não havia, muito mais do que o “quinto”, a “derrama” se tornou um inferno para a terra de Minas Gerais. Lá se foi Tiradentes, enterrado em nossa memória.

Assim, vamos fazendo com o nome e a história de nossos antepassados, com o nome dos políticos para quem votamos na última eleição, com os nossos compromissos. Nada disso parecer importar.

Voltando ao período do achamento, não se tratava de inocente presença continental dos povos indígenas, mas de uma rica e nobre cultura pré-existente, a qual foi quase dizimada pelos bandeirantes, embora tenhamos apreendido nos bancos escolares que estes eram os heróis.

Hoje, podemos compreender um pouco sobre o nascimento deste mito, que, na lição da historiadora Luíza Volpato, serviu para propagar uma suposta descendência de comandantes natos e garantir sustentação de políticos paulistas.

E por falar em “política”, o tempo tratou de contribuir para o silêncio dos inocentes. Muitos madeireiros, garimpeiros, fazendeiros, “missionários”, dentre outros, cada qual à sua maneira contribuiu para a invisibilidade da memória indígena. E, diante desta situação, indignados ficamos… só!

Nesse passo, em homenagem à minha irmã Maria das Graças, que trocou o consultório, a diretoria de escola para, em terras distantes, contribuir para a manutenção da identidade dos povos indígenas, vamos, daqui da doce terra dos colibris, soletrando a história e compondo as palavras, aprender que um suco de abacaxi e outro de maracujá, com pipoca, minimiza a preocupação com as saúvas que passam entre os pés de mandioca levando folhagens em direção ao ninho. Vamos perceber na outra margem, que não é a do Ipiranga, macacos comerem brotos de embaúba ao lado de urubus, que saboreiam bela carniça, presa entre os galhos de um jacarandá. Puro bucolismo!

A bem da verdade, minha irmã, infelizmente não percebemos o apoderamento do território pelas saúvas. Estamos consumidos pelo imediatismo, sem capacidade de reflexão e, como em um jogo de futebol, a invisibilidade da nossa equipe pelos próprios pares, permite que a equipe adversária desfile em nosso campo, enquanto damos cabeçadas, enquanto pipocamos. E isso nos fará perder o jogo e a memória, se não voltarmos a ser visíveis para a história.

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408