A LEVADA DA BRECA
Maria Aparecida Rampinelli
– “ Sandra, entre já prá casa, senão vai apanhar, sua moleca”.
Era a ladainha de todos os dias,
Os pais chamando pela presença da filha sapeca,
Que não temia os gritos e as chineladas na hora de dormir, que eram coisas certas!
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Levada da breca; assim era tratada,
Era rebelde, não cumpria protocolo,
Brincava na rua de pés descalços, cabelos escorridos,
Não tinha mimos e muito menos, colo.
Corria às soltas, jogava bola, ferrinho, bolinha de gude,
Andava de pernas de pau e não temia as ameaças,
Era levada, brigona, e também, muito mandona.
Criança esperta, brincalhona, escandalosa,
Não gostava de usar fita no cabelo e nem roupa nova,
Rasgava os bolsos bordados dos vestidos que a mãe costurava:
subindo em árvores, pegando frutas, quebrando os galhos e ficando de cabeça para baixo, pendurada.
Brincava de Faroeste, montada no cabo de vassoura como o seu cavalo e um revólver de brinquedo na cintura.
Andava de bicicleta, mascava chiclete e não gostava de boneca.
E, assim, vivia as suas travessuras.
Essa garota moleca cresceu, e se mostrou uma talentosa mulher,
Estudou, formou-se em Serviço Social,
Foi jogadora de vôlei do fluminensinho,
Desfilou por várias passarelas como a moça mais bela: Miss Santa Teresa,
Foi Apresentadora de Festival de Música,
E esbanjou tanta simpatia e beleza, que se tornou dessa cidade, a Musa.
E, a levada da breca ousou ainda mais:
Foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santa
Teresa/ IHGST,
Escritora de livros sobre a imigração italiana: Santa Teresa do Espírito Santo.
Prestigiada em tv, jornais, revistas, por todos os cantos.
Lutou pela preservação da Mata Atlântica, da arquitetura dos casarios e da culinária de seus antepassados,
Membro da Academia de Letras e Artes de Santa Teresa/ALEAEST.
Premiada no Recall e na Itália,
Homenageada pelos seus talentos e beleza.
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Ah, essa levada da breca!
Que se despiu dos medos e se fez de guerreira.
Que soube olhar para si e valorizar os conterrâneos com as suas histórias,
É uma honra poder homenagear essa teresense italiana .
Que nos deixa uma bela trajetória de determinação, lutas e muitas vitórias.
Hoje, talvez, a sua memória possa não lhe ser tão fiel como merecia.
Mas, a sua luta está impressa na história deste lugar, fazendo jus a esta poesia.
Filha e amante da magia desta cidade:
Mulher bela, elegante e inteligente,
Uma mistura tão perfeita, que dá até inveja na gente.
Uma homenagem a: Sandra Maria Gasparini
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Nota: Levada da Breca: quer dizer: muito travessa.