A régua do professor Olímpio
Essa tem história. Quando comecei a frequentar a escola, falavam que a régua de jacarandá, espeça e longa, tinha desaparecido e o professor agia com tabefes ou puxando fortemente as orelhas que sobressaiam das cabeças rapadas dos meninos e as escondidas das meninas. De fato, a predecessora da atual régua havia magoado um aluno do ano anterior que sumiu com ela. Foi motivo de muita busca, com promessas de prêmio e, depois, ameaças por parte do professor. Não se descobriu o autor apesar das suspeitas, mais tarde confirmação. Sabe quem fora? Nunca mais apareceu na escola o Arlindo, das bandas do Perdido, que a jogou no fogo, conforme revelado mais tarde por ele mesmo. Sobre puxão de orelhas, corria o célebre caso do Valentim Dalbén, lá de Itanhanga que teve a sua deslocada, tão forte o puxão. Mamma…!
Aos domingos, antes da reza, os ensinamentos catequéticos eram ministrados pelo professor, ajudado por três, quatro ex-alunas e ex-aluno como o Sabino Loss. Na catequese nunca houve castigos físicos. Quando faltava alguém, seu nome era anotado no quadro negro. Na segunda-feira vinha o acerto de contas com o próprio professor. Aqui começa a verdadeira história da régua. Faltaram vários catequizandos num domingo. Seus nomes foram anotados no quadro para o acerto na Segunda. Eu era bem novato, e aquela tábua que levava o relógio desenhado e com ponteiros de sola, onde aprendemos a ler as horas e os minutos, funcionou pela primeira vez em lugar da régua desaparecida. O professor pôs em fila os faltosos e, criativo como sempre, subiu na mesa com a tábua de dois metros em punho e, seja que menino que menina, deveria passar de quatro por debaixo da mesa do professor armado e, a cada uma ou um que ia passando, recebia uma bela tabuada no traseiro e era impulsionado para o outro da mesa. Foi a vez da Lódi Guss, de três listas na gravata, bem avantajada nas bandas detrás e, ao impacto da pancada impulsiva, saiu uma acha de uns quatro dedos de largura por meio metro, calculado, de comprimento. Foi assim que nasceu nossa nova e temida régua, larga comprida, bem pesada e bem arrumada. Mamma mia! Desde então tornou-se a motivação principal na escola, depois do professor.
Vamos lá. Aula de matemática com base na tabuada. Havia tabuada de somar, diminuir, multiplicar e dividir. O professor chamava logo dois alunos, que podiam ser um aluno e uma aluna, tanto fazia. À frente de todos, ele sentado na cadeira com a motivação na mão e os dois arguidos voltados de traseiro um para o outro. Oito vezes seis – pedia o professor – e a resposta devia vir rápida, sem contar nos dedos, na ponta da língua. Qualquer atrasinho começava o repique da régua nos traseiros, de um lado e de outro. Se um respondesse primeiro, o outro recebia algumas palmadas a mais. Quer dizer que a régua sempre cantava. Ela era a vigilante e a motivadora da disciplina e da aprendizagem, tudo era vigiado por ela.
E o caso do baile na escola? Qual era o instrumento que tocava e marcava o compasso da dança? Ela. Aluno do professor Olímpio não podia dançar. Chegou ao conhecimento do mestre que alguns alunos dançaram no baile animado do Baroni. Quais são os dançarinos? – perguntou o professor logo depois do hino cívico, na Quarta Feira de Cinzas. Levantaram-se oito, entre alunos e alunas, sendo três alunas e todos de três listas na gravata, menos uma que era de quatro. Bem ao vivo, na frente de todos, convidou os pares à dança. Não posso esquecer que um par foi de meu irmão Osório e minha sobrinha Isabela Erler. Dança forçada mas bem movimentada, pois o professor soava a régua sempre procurando mais os alunos que as alunas, e o Osório e seus colegas, a cada vez que a reguada vinha cantar neles, viravam a companheira como escudo de proteção e assim, caros, o baile foi muito movimentado, ao som da régua que procurava sempre o parceiro em luta com a parceira. Maestro? O professor. Mamma mia!!!