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A “viagem” de compras para o Cachoeiro De Santa Leopoldina

Por Simone Zamprogno Scalzer – Mestre Gestão Integrada do Território-UNIVALE/MG, Graduada em Geografia-FUNCAB/ES

No ano de 1920, foi realizado o recenseamento de propriedades rurais. No Espírito Santo, foram recenseados 20.941 estabelecimentos rurais, destes, 1.412 pertencentes ao município de Santa Teresa. Devemos pontuar que neste período, o território correspondente ao atual município de São Roque do Canaã pertencia a Santa Teresa. 

Nel 1920 si tenne il censimento delle proprietà rurali. Nello Stato di Espirito Santo ne vennero censite 20.941 di cui, 1.412 nel Comune di Santa Teresa. Va sottolineto che all’epoca il territorio corrispondente all’attuale comune di São Roque do Canaã apparteneva a Santa Teresa.

Neste recenseamento, aparece documentado o nome do proprietário e a localização do estabelecimento rural. A lista de nomes inicia com Virgílio Lambert, imigrante italiano reconhecido na história de Santa Teresa, por sua atuação de destaque na sociedade e por ter construído a primeira casa em estuque do município. Na lista, observamos também nomes de imigrantes italianos e seus descendentes. Vale a pena mencionar que poucas são as mulheres registradas no documento de recenseamento como proprietárias de terra, aparecendo, geralmente, na condição de viúva.  

In questo censimento risulta documentato il nome per proprietario e la localizzazione dell’area. La lista dei nomi inizia con Virgilio Lambert, immigrante italiano conosciuto nella storia di Santa Teresa per il suo operato di rilievo nella società e per aver costruito la prima casa con uso dello stucco del comune. Nella lista si notano anche nomi di immigranti italiani e dei loro discendenti. Vale la pena sottolineare che le donne registrate nel documento come proprietarie di terre sono poche e, se presenti, perché vedove.

É interessante destacar que, em relação a lista dos proprietários com terrenos próximos ao Rio Cinco de Novembro, observamos alguns sobrenomes poloneses e, na localidade denominada Vinte e Cinco de Julho, sobrenomes alemães. Contudo, os sobrenomes que predominam no município de Santa Teresa, são os de origem italiana. 

È interessante rilevare che, in riferimento alla lista dei proprietari con terreni vicino al fiume Cinco de Novembro, vi siano cognomi polacchi e, nella località chiamata Vinti e Cinco de Julho, tedeschi. Comunque la predominanza dei cognomi nel comune di Santa Teresa è di origine italiana.

Este documento oficial analisado, registra um momento histórico específico dos teresenses, porém, associando-o com relatos orais, registros de entrada de imigrantes e outros documentos históricos, conseguimos confirmar informações relevantes da história local. 

Questo documento ufficiale analizzato registra uno specifico momento storico di Santa Teresa ma, se associato alla memoria orale, registri di ingresso degli immigranti ed altri documenti storici, ci permette di confermare informazioni importanti della storia locale.

Em seu relato, o descendente de imigrantes italianos, Alcebíades Feller (2014) afirma que, seu tio Agostino Corona, veio para as terras do Timbuy, antes que a família e, se instalou no Córrego dos Espanhóis. Neste recenseamento rural de 1920, podemos confirmar, também através de registros oficiais, que o senhor Agostino era proprietário de terra naquela localidade.

Nella sua relazione, il discendente di immigranti italiani, Alcebíades Feller (2014) afferma che, suo zio Agostino Corona, giunse nelle terre del Timbu prima della famiglia e si installò a Córrego dos Espanhóis. In questo censimento rurale del 1920 è confermato, anche grazie a registri ufficiali, che il signor Agostino era proprietario di terre in quella località.

Na segunda metade da década de 1850 é fundada a Colônia Santa Leopoldina, ainda como parte do município de Vitória.  Em poucos anos, Santa Leopoldina se tornou um dos principais pontos de irradiação da colonização. Com uma estrutura urbana considerável para a época com hospital, igrejas, escolas, prédios do governo e pontos comerciais. Como parte do processo de ocupação do território da Província do Espírito Santo, é criado o Núcleo Timbuy, atual município de Santa Teresa, pertencente inicialmente à Colônia de Santa Leopoldina. Durante muitas décadas e mesmo depois da emancipação os imigrantes italianos e seus descendentes precisavam ir a Santa Leopoldina realizar suas compras, bem como vender seus produtos. Para muitas famílias os únicos produtos comprados eram o querosene, o sal, trigo e tecidos, estas viviam basicamente do que produziam em suas terras. Para adquiri tais produtos os imigrantes e mais tarde seus descendentes precisavam periodicamente deslocarem-se até lá para comprar os artigos que lhes faltavam.

Qualquer mantimento, ferramenta ou remédio que faltasse, ou não pudesse ser produzido no terreno do imigrante ou no núcleo, era comprado em Santa Leopoldina (SANCIO, 2014; FELLER, 2014).  E esta era uma viagem que durava geralmente dois dias. O relato de Melício Montibeller, nos descreve a viagem para compras em Santa Leopoldina:

“Pra fazer compra eles saiam daí e tinha que ir pra Santa Leopoldina. Ia com burro. Gastavam dois dias. Um dia pra ir, que tinha que descansar os burros lá. Depois fazia a compra e vinha. Que não tinha nada! Querosene, por exemplo.Se faltasse o querosene faltava tudo” (MELICIO MONTIBELLER, 2014).

Da sede do Núcleo Timbuy/Santa Teresa até Santa Leopoldina são cerca de 28 quilômetros. Mas as condições da estrada e o meio de transporte utilizado tornaram a viagem demorada e exaustiva. Em muitos casos a viagem era realizada a pé, sendo assim descrita por Müller (1925, p. 17): “assaz penosa, era uma verdadeira via crucis”. Essa viagem era feita também pelos tropeiros que transportavam o café produzido no Núcleo Timbuy para o Porto do Cachoeiro de Santa Leopoldina.

No de 1879, temos marcado este caminho de Santa Leopoldina para Santa Teresa. Trajeto percorrido pelos imigrantes que chegavam para povoar/colonizar Santa Teresa e para ir até Santa Leopoldina comprar mantimentos.

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 Trajeto dos imigrantes de Santa Leopoldina à Vila de Santa Teresa. Recorte da Carta Colônia Santa Leopoldina 1879.

1- Porto do Cachoeiro de Santa Leopoldina; 2- Barracão de estadia provisória para imigrantes; 3- Estrada de Santa Leopoldina à Santa Teresa; 4- Vila de Santa Teresa e Barracão para abrigo de imigrantes.

Fonte: CATÁLOGO MAPOTECA APEES, N° A1456

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408