ColunistasCulturaHistória

A viagem migratória da Itália para o Núcleo Timbuy/Santa Teresa-ES

Por Simone Zamprogno Scalzer – Mestre Gestão Integrada do Território-UNIVALE/MG
Graduada Geografia-FUNCAB/ES

Na segunda metade do século XIX o Norte da Itália enfrentava problemas políticos, sociais e econômicos. Destes problemas a pobreza e as guerras eram as que mais amedrontavam os camponeses italianos. No mesmo período, o governo da Província do Espírito Santo, pretendia povoar as terras do Timbuy e implantar o cultivo do café.   Com a promessa de receberem terras férteis e conquistarem a tão sonhada paz, perdida em tempos de guerra, mais de quatro mil italianos migram para o Núcleo Timbuy/Santa Teresa. Esses imigrantes iniciavam então uma longa viagem que em alguns casos poderia durar mais de dois meses.

Após embarcarem nos portos italianos (em alguns casos ocorreram embarques ilegais na França), a viagem durava entre 45 dias na década de 1870 a 29 dias na década de 1890. Alguns navios atracaram no Rio de Janeiro, outros no Espírito Santo. Após o desembarque os imigrantes cumpriam uma quarentena de pouco mais de 15 dias. Os imigrantes aportados no Rio de Janeiro eram colocados em navios menores e trazidos até Vitória. A viagem até o Núcleo Timbuy continuava em embarcações menores, seguindo pelo Rio Santa Maria da Vitória até o Porto de Cachoeiro de Santa Leopoldina. Em Santa Leopoldina, recebiam instruções, ferramentas mantimentos e seguiam a pé até o Núcleo Timbuy. 

hn A viagem migratória da Itália para o Núcleo Timbuy/Santa Teresa-ES
Canoeiros de Santa Leopoldina responsáveis pelo transporte de passageiros e mercadorias.
Fonte: http://www.ape.es.gov.br/imigrantes/html/caminho_imigrante.html

A caminhada até o Timbuy não era fácil, os imigrantes precisavam carregar suas bagagens e ajudar as crianças. A estrada de Santa Teresa era pouco mais larga que uma picada, aberta em meio a Mata Atlântica. Com muitas áreas íngremes, em tempos de chuva, esta caminhada tornava-se ainda mais difícil. Ao chegarem ao Timbuy os primeiros imigrantes ficaram alojados em barracões. Nas décadas seguintes, os grupos alojavam-se em casas de parentes ou amigos até receberem o tão sonhado lote de terra e construir a própria casa. Apesar das dificuldades muitos enviavam cartas à parentes e amigos encorajando-os a migrar também.

“Eles gastaram quarenta e cinco dias e quarenta e cinco noites (na travessia marítima). (…) Em Cachoeiro de Santa Leopoldina tinha um navio, certo? (…) Diziam que era um barco. (…) E daí então eles vieram para Santa Teresa que tinha estrada de chão. Tinha as picadinhas, assim, no meio da mata” (MELÍCIO MONTIBELER, neto de imigrantes, 2014).

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408