A vida dos colonos italianos em Santa Teresa no relato de Arrigo De Zettiry – Parte 3
Simone Zamprogno Scalzer
O jornalista e pesquisador de imigração, Arrigo De Zettiry apresenta em seu relato uma divisão de Santa Teresa, que nomeia como Seções do Timbuhy:
Fonte: ZETTIRY, 2021, p. 62.
O primeiro ponto a se considerar é que em 1902, o recém emancipado, município de Santa Teresa possuía dimensões bem maiores, englobando também o território do município de São Roque do Canaã, emancipado em 1995.
Na observação desta tabela, quero destacar duas seções: a de Nova Valsugana com 85 famílias, uma localidade que pelas dimensões que conhecemos atualmente, já deveria ter seu território totalmente ocupado em 1902. E a seção de Tabocas com 10 famílias, que deveria estar ainda no início de seu povoamento, uma vez que se trata de uma porção do território com dimensões consideráveis e ainda com poucas famílias instaladas.
Segundo Zettiry (2021), a grande maioria dessas famílias falava italiano ou um de seus dialetos e segue destacando as difíceis condições de vida dessas famílias. Lembrando mais uma vez, o péssimo estado das estradas, sendo escassas e mal conservadas. Zettiry apresenta mais um trecho do relato do morador denominado Ruschi. Para este morador faltavam garantias para os colonos e estes estavam abandonados pelo governo local, sem assistência e proteção às industrias, estradas, escolas e serviços de saúde. Quanto à economia local Zettiry (2021, 63) conclui que: “Indústrias não existem, além da agricultura; os produtos são: o café (…) o milho, que é base da alimentação do colono; a cana-de-açúcar, com a qual se fabrica o álcool (cachaça); o arroz, o feijão e uma pequena quantidade de batatas”.
Vale neste momento destacar: o café que independente das dificuldades do período, sempre foi e continua sendo a principal fonte de renda da região; o milho com o qual se fazia polenta, que consumida nas principais refeições, incluindo o café da manhã. Quantos moradores de Santa Teresa, descendentes de italianos, possuem em suas lembranças seus nonos comendo polenta e leite ao amanhecer, ou até após o jantar, além das tradicionais combinações de polenta e linguiça ou polenta e queijo.
A cana-de-açúcar também fazia parte de nossas memórias na produção do açúcar mascavo, ou como se dizia: o açúcar da colônia. Em engenhos puxados por juntas de bois ou cavalos, as famílias trabalhavam juntas na produção desse alimento.
Em outro ponto do relato o pesquisador italiano dá destaque a produção de vinho local: “Aqueles colonos de Santa Teresa, especialmente os tiroleses, cultivam a vinha e fabricam um vinho de gosto muito agradável, parecido com o nosso Marsala e com o vinho do Porto” (Zettiry, 2021, p. 72). A produção de vinho se inicia nos primeiros momentos da colonização italiana em Santa Teresa, com famílias como a do senhor Melício Montibeller (2014), relatou que sua avó trouxe, da Itália, mudas de videiras em batatas e que na época ainda cultivava plantas originarias dessas. Mas vale lembrar também que na falta da uva é comum também fazer vinho de jabuticaba, uma frutinha tropical encontrada nessas terras.
Para completar a descrição das condições de vida Zettiry afirma não existirem médicos de verdade na localidade e que as escolas foram suspensas, restando apenas uma construída pelos padres capuchinhos italianos.
Poucos também são os relatos de escolas no município, a exceção é a Escola Professor Hausler, na localidade de Vinte e Cinco de Julho, reconhecida com a primeira escola do município, fundada em 1882 e a ESFA- Escola São Francisco de Assis, ambas escolas resistiram ao tempo e seguem com suas atividades. Um fato que também confirma a falta de escolas, é que segundo o senhor Alcebiades Feller (2014) mesmo bastante tempo depois da vinda do pesquisador italiano, teria sido alfabetizado a noite na casa de um vizinho.