As barbáries de 1897 em São João de Petrópolis
A vida dos colonos italianos em Santa Teresa no relato de Arrigo De Zettiry – Parte 5 (As barbáries de 1897 em São João de Petrópolis)
Simone Zamprogno Scalzer
São João de Petrópolis, um dos distritos do município de Santa Teresa, localizado às margens do Rio Santa Maria do Doce, foi visitado pelo jornalista e pesquisador da imigração, Arrigo De Zettiry, em 7 de fevereiro de 1902. Zettiry explica uma curiosidade sobre o nome daquela localidade: “vilarejo mais comumente conhecido por Barracão de Petrópolis, por causa de um grande barracão que ali existia e abrigava os colonos no tempo em que se estava organizando aquela seção” (ZETTIRY, 2021, p.67). A sede do referido distrito, já era composta por um pequeno núcleo urbano, com locais de comércio e cartório, por exemplo.
Porém, o que mais impressionou o jornalista, naquela localidade foram os relatos das barbáries cometidas por jagunços na noite de primeiro para o dia dois de novembro de 1897. É importante ressaltar que Zettirry ouviu apenas relatos de descendentes de italianos, não era sua intenção naquele momento uma investigação histórica e/ou criminal, como por exemplo, o que teria motivado tais fatos.
“passei pela região de São João de Petrópolis que, em 1897, havia sido palco de barbáries, cometidas por bandidos (jagunços); barbáries que tiraram a vida dos italianos Giovanni Villaschi, Giuseppe Perini, Giuseppe Benetti e Giovanni, apelidado de que não pode, além de um súdito austríaco e de alguns brasileiros” (2021, p.46).
Zettiry (2021, p.47), relata que os fatos ainda estavam na memória de todos, e muitos colonos tinham medo de que algo semelhante se repetisse e descreve alguns relatos sobre o ocorrido:
“Nesse lugar, parei na casa do colono italiano, Pagani, o qual toma conta de uma venda. Sua mulher, que assistiu o assassinato de seu pai naquela noite fatal de 1º para 2 de novembro de 1897, desabafou em prantos pela sua dor, ainda viva.
Alguém foi chamar o colono Andrea Facchetti e este, com comovente simplicidade, narrou-me sua fuga dramática junto com seus numerosos filhos, ainda pequenos, após a meia-noite, através da mata, onde permaneceu escondido por muitos dias; o assalto à casa do delegado de polícia, que, aterrorizado pelos muitos ferimentos de faca, e julgado morto por aqueles endemoniados, conseguiu, favorecido pela noite e ajudado pela esposa corajosa, refugiar-se no cafezal. Contou-me também sobre o assassinato do velho tirolês, Giovanni Battista Vivaldi, pai do delegado, e em seguida o incêndio da casa onde foram queimados vivos os dois mineiros que não quiseram se juntar aos jagunços e tantos horrores de arrepiar. Entendo a insistência daqueles bons colonos em confirmar que não possuem nenhuma garantia de suas vidas, nem de seus bens, porque os soldados que, naquele trágico acontecimento, eram comandados por um oficial que não ousava avançar para protegê-los, cometeram outras barbaridades.
Os colonos não querem explicar muito sobre o acontecido, por medo de comprometerem-se. Mas o que falaram já foi o suficiente para me convencer.
A velha colona, Antonia Frecchiani, viúva, em cuja casa fizemos uma parada durante uma nova etapa da viagem, teve um filho que foi gravemente ferido por um projétil, no peito do pé, e eu pude ver o sulco profundo daquela enorme cicatriz” (ZETTIRY, 2021, p 67-8).
A leitura deste relato histórico, nos leva a um momento muito próximo dos acontecimentos, nos instiga a ler e pesquisar mais, para assim compreender com mais clareza o fato histórico.
Aqui sugerimos a leitura de : https://stn1875.com/jaguncada-de-barracao-chacina-em-santa-teresa-completa-120-anos/