A violência ainda cheira, professor!
No dia 29 de julho a mídia nacional deu amplo destaque à disputa entre duas facções criminosas no presídio de Altamira, no Pará, o que resultou a morte de mais de 58 detentos, asfixiados ou decapitados. Aparentemente esta guerra não nos pertence. Será?
É indubitável que muitos se preocuparam apenas em receber e retransmitir as imagens pelas redes sociais, sem qualquer embaraço, dando coro ao objetivo destes grupos: demonstrar força e poder, crueldade!
Em tempo de imagens chocantes, que chegam aos nossos lares produzindo uma espécie de comoção ultrapassageira, é preciso reconhecer a relativização de valores tidos como base para a sustentação de uma sociedade voltada para o bem comum e a justiça.
Desta forma, cada um pode dar a interpretação que desejar para o que denominamos respeito, responsabilidade, honra, dignidade e assim por diante. O que passa a importar é a satisfação imediata dos nossos desejos, ainda que esta atitude egoística vá causar, dor, sofrimento a outrem.
Ingenuamente passamos a acreditar que a impunidade, o desprezo e o descaso irão prevalecer sobre a verdade, sempre. Inconscientemente vamos nos tornando seres insensíveis e irracionais.
Os terríveis eventos recentes demonstram que esta relativização tem presenteado a sociedade com níveis cada vez mais alarmantes de violência e, no último dia do mês de julho, ela chegou, mais uma vez, para alimentar o sofrimento, a dor, da família teresense.
No silêncio deste trágico dia, ao revisitar as redes sociais, chamou-me a atenção a afirmação do pintor americano Mark Collen: “A arte transcende as palavras e é a melhor maneira de descrever a dor”. Não tenho dúvidas de que ela representa o sentimento de muitos daqueles que conviveram com o professor Atair Maciel de Freitas.
Neste contexto, recordo-me da obra “O Grito”, do pintor norueguês Edvard Munch , que representa “uma figura andrógina num momento de profunda angústia e desespero existencial”. (https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito)
Os críticos de arte relatam que nesta obra “a dor do grito está presente não só no personagem, mas também no fundo, o que destaca que a vida para quem sofre não é como as outras pessoas a enxergam, a paisagem fica dolorosa também (…).” (http://www.sabercultural.com/template/obrasCelebres/O-Grito-Edvard-Munch.html).
Munch nos impressiona! É certo que jamais conseguiremos medir a intensidade da dor que o próximo sente e os efeitos ao seu redor, mas poderemos contribuir para que a violência não seja encarada como algo banal.
É preciso agir, compreender e cobrar a efetiva presença da família, da religião, do Estado no enfrentamento desta grave crise existencial. Afinal, não podemos jamais esquecer que nós formamos esta sociedade reveladora de “prisões lotadas, casas vazias, famílias inteiras chorando…noites e dias! E é isso que se diz: ferro, fogo, água e ar, é preciso educar, cortar o mau pela raiz.” (A violência, KMC). Portanto, esta guerra nos pertence. Paz e bem!