ColunistasFrei José Corteletti

Anselmo Gazzoli, nosso Ícaro Teresense

Em virtude do delicado estado de saúde de nosso querido Frei José, republicamos uma de suas histórias mais queridas pelos leitores

Por Frei José Corteletti

Meados do século XX. Morava em Vargem Alta com outro irmão. Os irmãos Gazzoli. Gente rústica, forte e de estatura avantajada. Espadaúdos. Desciam de lá do alto do Caravaggio, portando num saco surrado seus poucos produtos a vender, e levar da cidade aquilo que lhes era de necessidade. Anselmo e o outro irmão, inseparáveis.


Por raça e índole observador, de espírito irrequieto e destemido, talvez um visionário, Anselmo se intrigava muito ao ver lá das alturas do Caravaggio as aves voarem para os vales da Valsugana ou do São Lourenço, principalmente o urubu. Num desses longínquos dias do século passado, à sombra da tarde, sentado morro abaixo, com as pernas dobradas ao joelho e escorado nos pés descalços, paião descansado à boca, ia remoendo as maravilhas do mundo: “Se o urubu avua, por que eu não posso avuá?” Assim ia pensando…!


Com duas folhas de zinco bem presas numa ripa, com formato de asa, o aparelho ficou pronto. Esperou o domingo e subiu ao cume de cuja altura se vislumbrava ao fundo o cafezal. Seguro em seu aparelho, saltou para o espaço e foi cair lá em baixo. Salvou-se bem escoriado. Os moradores, então, perguntaram-lhe o que acontecera que andava todo arranhado. Simplesmente respondeu: “Avuá é bom; o difícil é apousá”. Ele mesmo narrou o fato e que, por sorte, caiu em cima de uma mexeriqueira, no cafezal. Mamma mia!!!


Podem ter como certo que quem inventou em Santa Teresa o “Voo Livre” foi o Gazzoli; quem primeiro concebeu a idéia da pista de voo livre no alto do Caravaggio foi o Gazzoli. Só falta erguer ali perto um monumento ao herói, nosso Ícaro teresense Gazzoli.