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ARTE EM RETALHOS

Artesã Claudia Brum

A vida tem muitas velocidades. Muitos são os dias num só dia. O tempo escorre. Em lugar de virar silêncio, torna-se movimento. Em cada parte extraída de um todo, a artesã CLAUDIA BRUM constrói uma existência andarilha. Passageira é o nome de seu lugar no mundo. Partidas e chegadas compõem o repertório de vida dessa gaúcha, descendente de portugueses e de alemães. Personagem de um mundo fluido e sem fronteiras definidas, Cláudia customiza o cotidiano. Atesta a imensidão do mundo. Com o corpo sempre habitado pelo novo, produz artefatos com o uso de retalhos. Seu ofício é moldado na arte da reinvenção. A relação com o artesanato é familiar. “Minha mãe fazia tudo”. Na juventude, ainda em Porto Alegre, confeccionava cachecóis e cartões rendados em papel vegetal.

Feito ventania, Cláudia, que já fez paragens em diversos pontos do país, esteve, pela primeira vez, na Doce Terra dos Colibris, em 1980, para retornar anos depois. “Pra mim é minha terra”. Cláudia vendeu acerolas e picolés, fez capina, faxinas, trabalhou em pousada, em loja de decoração e atuou como produtora de eventos. “Vou me virando, me virando…”.

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A produção das colchas de retalhos, iniciada há quatro anos, surgiu a partir de sua relação com a Associação Meio Ambiente Restaurado (Amare), entidade sem fins lucrativos, que visa a contribuir com o desenvolvimento humano por meio da capacitação de profissionais para atuação no setor de gestão de resíduos sólidos e no mercado da reciclagem. Cláudia reaproveita sobras de tecidos selecionados para descarte. Seu instrumento de trabalho é a máquina de costura. As colchas são executadas em dupla face. Cores e formas emolduram suas criações A união de retalhos à manta acrílica garante proteção e conforto às peças. Em um caderno. Cláudia registra e esboça os detalhes das encomendas. “Tudo meu é anotado”.

Cláudia desenha seu mapa de convivências. Encena seu modo de abordar os clientes. Comercializa seus artefatos pela via da comunicação encantadora. É sonora. Ecoa. Diz da praticidade dos produtos. Via de regra vive à espreita com o ineditismo. Pega carona no vento. “Vivendo do meu jeito, jogo tudo pra cima, faço as malas e vou embora”. Até a aurora de um novo itinerário, Cláudia segue criando e produzindo. Mantém os pés enraizados nas próprias verdades e as asas na mala do existir. 

 

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408