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As rosas não falam

Por Kleber Medici

Neste mês de janeiro, com a retirada dos enfeites de natal, a embalagem utilizada para entregar o presente de fim de ano chamado jardim, evidenciou, a princípio, a sua utilização para minimizar a irresignação da população, registrada repetidamente nas redes sociais, ao perceber que o presente, jardim, não era aquilo que se esperava diante de tamanho investimento.

E como se não bastasse, caminhando pelas ruas de Santa Teresa, percebi, pelas palavras e olhares de moradores e empresários, uma torcida inusitada para que não haja o mesmo tipo de embalagem para a rua do lazer.

“Volto ao jardim na certeza que devo chorar, pois bem sei que não queres voltar, para mim”. Não sei o motivo, mas ao pisar na areia do jardim ouvi ao longe a música “As rosas não falam” do saudoso Cartola. Lembrei-me daquele jardim do início da década de 1970. Parei por um instante e ouvi toda a canção, ali, no silêncio, observando aquele mundo ao meu redor…

Depois de uma breve reflexão, deixei os limites da areia da praça Augusto Ruschi convencido de que a letra traduzia a resposta aos meus questionamentos e que, possivelmente, são os mesmos de muitos teresenses: “as rosas não falam!”.

Adiante, na reunião realizada no dia 13 de janeiro, com representantes das Secretarias de Turismo e de Obras do Município, moradores e empresários da rua do lazer demonstraram extrema preocupação e insegurança com o que possa ser implementado naquele espaço.

Relembraram as modificações realizadas na primeira parte do projeto, principalmente em relação à quantidade e qualidade dos postes de iluminação pública, que se distanciaram, em muito, do previsto no projeto original. Nesta parte a Administração Pública limitou-se a dizer que a modificação para o tipo denominado, por populares, “posteamento de rodovia”, ocorreu por solicitação da SECULT.

Na tentativa de não serem agraciados com um presente de grego bem embalado, na busca por arrefecer a insegurança gerada pela falta de informação, moradores e empresários pediram detalhamento das obras do sistema de drenagem de águas pluviais; questionaram se este sistema suportará o escoamento das águas em período de fortes chuvas a evitar inundações e, ao final, indagaram como seria o estacionamento naquela rua, já que o projeto contempla calçada (passeio) e pista de rolamento em um mesmo plano.

As respostas não conclusivas do engenheiro foram o suficiente para aumentar a aflição dos presentes, principalmente ao ouvirem que quem deve decidir se vai haver ou não estacionamento na rua são os moradores. Mas como?

Se o espaço da via de rolagem ficou limitado à largura de um veículo e as calçadas cidadãs, apesar de estarem no mesmo nível, estão delimitadas pelo ladrilho e meio-fio, abre-se um parêntese para lembrar o Código de Trânsito Brasileiro.

A Lei 9503/97, em seu art. 181, inciso VIII, estabelece que comete infração grave, sujeita à penalidade de multa e medida administrativa de remoção aquele que estacionar o veículo no passeio ou sobre faixa destinada a pedestre, sobre ciclovia ou ciclofaixa, bem como nas ilhas, refúgios, ao lado ou sobre canteiros centrais, divisores de pista de rolamento, marcas de canalização, gramados ou jardim público.

Portanto, como fantasmas assolando moradores e empresários da rua do lazer ficam os questionamentos sobre a drenagem e o estacionamento.

Afinal, nada melhor que registrar trechos aleatórios da música “Rua da passagem” de Lenine: “Sem ter medo de andar na rua… Porque a rua é o seu quintal… Todo mundo tem direito à vida…Todo mundo tem direito igual… Boa noite, tudo bem, bom dia… Gentileza é fundamental… Pisca alerta pra encostar na guia… Com licença, obrigado, até logo, tchau.”