Attilio Colnago apresenta os Novos Viajantes
Nosso entrevistado de hoje é Attilio Colnago, professor de Arte há 45 anos, graduado em Artes Plásticas pela Ufes em 1977. Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis: Pintura de Cavalete e Esculturas Policromadas sobre Madeira (UFMG,1989) e mestre em Teoria da Arte, área de Patrimônio e Cultura (Ufes, 2011).
Um dos artistas mais respeitados entre seus pares, Attilio nos últimos anos tem sido objeto de pesquisas historiográficas, publicações e catalogação de suas obras.
Teve participação ativa nos festivais de inverno de Diamantina e Ouro Preto, onde entrou em contato com a arte religiosa barroca, influência marcante em seu trabalho artístico. Estuda materiais e técnicas artísticas no Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo desde 1980.
STN – Professor, sabemos que o senhor tem muitos projetos no campo da arte. Nos fale de um projeto interessante do seu ateliê.
Attilio – Tenho um atelier em Vitória que funciona desde 2001. Sempre trabalhei com desenho, principalmente desenho de figura humana. Mas têm uma disciplina criada por mim e pela professora Joyce Brandão, que também está nesta exposição, que é fruto de uma pesquisa de tintas, uma fabricação de tintas no ateliê. Percorremos um caminho na história da arte com tintas que foram utilizadas no período do Egito, em Roma e no período Medieval. Um retorno a estas tintas que são tradicionais na história da arte, porém dando a elas uma forma e um sentido contemporâneo.
STN – Mas também se dedica à restauração?
Attilio – Sim, montei um núcleo de restauração em 1995, inicialmente de restauração de pinturas e esculturas sobre madeira e depois partimos para a restauração de acervos em papel: livros, documentos, fotografias e obras de arte.
Me considero, na verdade, muito mais professor que artista. Sou um pesquisador na área da arte, continuo trabalhando na pesquisa de materiais, de tintas, e meu trabalho está sempre nessa conversa com o ensinar, transmitir.
STN – Como surgiu a ideia da exposição “Novos viajantes”?
Attilio – Essa exposição tem grande importância para o atelier porque comemora 21 anos de ação ininterrupta. Era um projeto que eu tinha escrito há algum tempo e que me interessava implantá-lo em algum local. Com o projeto do Paulo de Barros, onde ele faz toda a parte de produção da exposição e toda a parte gráfica da concepção da exposição, catálogos, folders, etc. Nesse projeto, que foi contemplado na Lei de Incentivo à Cultura da Secult, que se trata da conservação do acervo fotográfico particular de Augusto Ruschi, que está aqui em arquivo. Fizemos reuniões para discutirmos a possibilidade de irmos para Vitória com esse acervo para ser manipulado, pois neste primeiro lote, são cerca de 800 fotografias que vão ser conservadas, digitalizadas e catalogadas de forma correta. Nessas reuniões com o Sérgio Lucena, diretor do Inma, eu fiz a proposta desta exposição. Fomos amadurecendo e ela foi coincidindo com a possibilidade dessa exposição ser na semana da ciência e tecnologia.
STN – Percebi a grande quantidade de conteúdo de arte com a fauna e flora no centro, quantos artistas participam?
Attilio – O recorte que eu fiz para que os artistas pudessem compor, foi os 21 anos do ateliê com os alunos artistas que passaram pelo estúdio nesse período.
São 28 artistas, todos com trajetória ligadas ao ateliê e mais 5 artistas convidados: Joyce Brandão com desenho, Rosindo Torres com pintura, Roberto Burura com fotografia, Joelcio Freitas que faz parte da equipe do Inma, doutor em botânica, com desenho de ilustração botânica impecável.
STN – Nos fale um pouco sobre esses viajantes e porquê esse resgate?
Attilio – É um mergulho na história da arte no Brasil. Com os duzentos anos da Independência, nada como a gente voltar a olhar aquele período, no nosso caso, com o olhar no viés da arte. Era um período em que o Brasil ainda estava nesse processo de conhecimento, dessa nova terra, desse novo mundo. Com isso vem as equipes européias que são os naturalistas, que são chamados de viajantes. Nessas equipes, nessas missões vinham os geógrafos, botânicos, zoólogos, pesquisadores de mineralogia, e os artistas.
Então havia esses profissionais que faziam esse levantamento científico, era o primeiro conhecimento que se podia ter da fauna, flora, minerais, do desenho da geografia. E os artistas faziam esse registro em desenho e pinturas que eram uma forma de junto das descrições científicas ter exatamente a forma desses animais.
Temos missões artísticas desde o século XVI, depois no século XVII, os mais importantes, foram os que vieram com Maurício de Nassau, com a colonização holandesa no Recife, mas teve muitos outros pioneiros.
STN – Nessa exposição se faz um resgate de técnicas e uma nova leitura de toda essa história?
Attilio – Exato. Fizemos uma imersão nessa parte da história, com aulas teóricas e práticas, para que todos conhecessem os artistas principais desses períodos, qual a obra, qual o legado que eles deixaram. Mas na verdade não só fazer essa leitura do passado, mas a partir dos elementos do século XVI e XIX, fazer uma discussão sobre a Mata Atlântica, a importância desse bioma para o Brasil e para o planeta.
É uma discussão com a arte ambiental. Se a gente consegue tocar alguém através da arte, para esse bioma que está em grande processo de degradação, essa é a nossa parte na conscientização.
O Inma tem um público muito grande de escolas, com crianças e adolescentes de faixas etárias diferentes, que estão em um momento de sensibilidade, de criar uma consciência da importância do meio ambiente.
STN – A exposição traz essa consciência de uma forma muito lúdica, de forma bem sensível, quase palpável… Vemos que os artistas são os novos viajantes, certo?
Attilio – Sim. Os novos viajantes trazem esse olhar sobre o passado e como podemos contextualizá-lo aos dias atuais. Temos 33 artistas com formas e expressões diferentes.
Algumas com contexto mais lúdico e outras com contexto mais crítico. Ciência e arte sempre estiveram juntas, entrelaçadas.
STN – Até quando vai a exposição? Quanto custa a entrada?
Attilio – A entrada é gratuita! Para todos os públicos. E a mostra fica até o dia 26 de fevereiro de 2023. Lembrando que o museu abre de terça à domingo de 08h às 17h.