Geral

Caminhoneiros X Patrões

Por Aparecida Rampinelli

O trânsito nacional, constando de um alto índice de mortalidade; uma morte a cada 14 minutos, faz-se necessário um olhar mais atencioso em relação aos nossos motoristas profissionais. Essa clientela se lança, diariamente no trânsito, enfrentando a falta de infraestrutura das vias rodoviárias, as paradas regulamentadas pela Lei do Caminhoneiro (Lei N 13.103/2015), que não favorecem a todas as necessidades fisiológicas, como: alimentação, higienização e sono. Nas paradas estipuladas, após horas de trabalho, precisam, muitas vezes, cuidarem da própria alimentação, com poucos recursos do local. Lugar precário para banho, e contando com a boleia de seu veículo para dormirem algumas horas, correndo o risco de assalto, por falta de fiscalização nas estradas.

E, muitas vezes, tendo que satisfazer as perversidades de alguns patrões, que incentivam a velocidade acima dos limites permitidos pela Legislação de Trânsito, ignorando qualquer tipo de acidente, dizendo que o veículo está com o seguro em dia. Muitos se sentem ansiosos pela rapidez programada para a entrega do produto transportado, tendo que percorrer longas distâncias em um tempo reduzido, e muitas vezes, fazendo uso de substancias psicoativas, como: rebite, craque e cocaína. Algumas empresas não presam por treinamentos aos seus funcionários, exigindo apenas a CNH com a categoria D ou E, específicas para caminhões ou carretas, e já entregam a chave do veículo com a droga, juntas. A preocupação com a chegada da carga ao local destinado é maior doque a vida do profissional que está em busca de seu sustento, e também, da sobrevivência de sua família.

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O motorista em uma jornada diária de 8h, o que pouco acontece, geralmente é ampliada para 12h a 14h, dentro de uma pequena boleia barulhenta e aquecida pelo motor veicular, onde fica muito tempo sentado, respirando o ar poluído dos gases emanados, e muitas vezes, do próprio cigarro, sem ingerir líquidos ou se alimentar adequadamente, comprometendo dessa forma, a sua saúde física, gerando doenças como: gastrite, dor lombar, problemas na coluna, hipertensão arterial, obesidade, descoordenação motora, problemas respiratórios, renais, vasculares, oculares, entre outros.

O tempo de descanso entre a viagem e o seu retorno, nem sempre é satisfatório, e a droga utilizada, potencializa o tempo de vigília do motorista, fazendo-o percorrer mais quilômetros nas estradas, encurtando o tempo de entrega do produto. O sono para esse motorista, não acontecerá de forma natural, com os tão comuns bocejos e leves fechamentos dos olhos, e sim, em forma de apagão, onde dormirá repentinamente, perdendo o total controle do veículo, gerando gravíssimos acidentes.

No contexto laboral, essa classe profissional está mais propensa as vivências estressantes e traumáticas, levando em conta, as pressões exercidas em seu âmbito de trabalho, aos noticiários mostrando os colegas acidentados e mortos no trânsito, e a pouca convivência com a família. Tudo isso se reflete nas dificuldades emocionais, comprometendo a direção veicular, que vão diminuindo a atenção difusa e concentrada, aumentando a impulsidade e a agressividade, assim como, nas inter-relações familiares, empresariais e sociais. Os sintomas aparecem, como: irritabilidade, síndrome de pânico, depressão, desorientação mental, delírios e suicídios.

Como poderão, os nossos heróis do asfato, tão necessários ao país, construírem um trânsito mais humano e seguro, diante de uma realidade tão cruel?