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Entrevista com a escritora Regina Ruschi

Um bate papo com a escritora Regina Maria Ruschi, sobrinha de Augusto Ruschi, nasceu em Linhares em 1964, formada em Arquitetura e Urbanismo, ainda jovem ingressou por concurso na receita federal, onde foi servidora por longos anos, pós graduada em ecologia e recursos naturais e também em paisagismo. Atualmente dedica-se ao resgate da cultura e tradição da Barra do Jucu, onde vive há 24 anos. Regina esteve em Santa Teresa no dia 05 de março lançando a obra “Mulheres Capixabas Incríveis”.

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STN – É uma honra tê-la como entrevistada em nosso periódico teresense. Você é arquiteta e escreve um livro sobre resgate de tradição popular, “Mulheres Capixabas Incríveis”, você é muito ligada na cultura?.

Regina Maria Ruschi – Dentro da arquitetura eu gosto muito de patrimônio imaterial, ao qual me dedico hoje cuidando de coisas da cultura da Barra do Jucu, Vila Velha, e especialmente coordenando o grupo barra de renda, de rendeiras de bilros aqui da Barra do Jucu. Participo muito de eventos sócio-culturais aqui da Barra do Jucu, onde vivo há 24 anos, e escrevo bastante sobre isso, ajudei a fundar o Museu Vivo aqui da Barra do Jucu do qual participei por alguns anos. Hoje me dedico as rendas de Bilro, esse resgate de tradição, e fiz vários inventários de bens culturais daqui, como o inventário de gastronomia, o inventário de algumas pessoas importantes da vila, algumas pessoas nascidas aqui e importantes, e também inventários sobre algumas coisas de cultura ou de tradição como é o caso das rendas de bilro, e como conheço a Mônica Boito já há algum tempo, e a Mônica é uma das idealizadoras desse livro, ela conhece as coisas que eu escrevo, sabe as coisas que penso, que defendo, e aí me convidou pra participar da elaboração deste trabalho também. 

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Myrian Loureiro, Gilcéia Guimarães e Piero Ruschi prestigiando o lançamento do “Mulheres Capixabas Incríveis”

STN – Nos fale um pouco dessa obra recém lançada em Santa Teresa

Regina – Esse livro foi confeccionado, digo confeccionado porque ele não foi só escrito, ele foi todo feita à mão, o original, por várias artistas plásticas, com aquarelas, com trabalhos de colagens, feitos pelo papel recriado da Emanuelle Righetti, tem rendas, tem bordados, então por isso trabalho feito à mão, e escrito à várias mãos também, é um trabalho importante, primeiro, a forma do livro, já existiam livros europeus que eram feitos a mão, na época não tinha gráfica, e eles por exemplo, falavam num vestido, ou um modelinho, eles até faziam em miniatura, dobravam e colavam ali, a renda, falava de uma determinada renda, colavam um pedacinho, do bordado, então, existe essa cultura, antiga essa coisa de fazer livro adicionando colagens exemplificando o que se falava. 

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Artistas estiveram presentes no lançamento da obra de Regina Ruschi

STN – Em sua fala você se mostra interessada e preocupada com a história local, fale um pouco de sua trajetória profissional

Regina – Trabalhei muitos na receita federal, fiz concurso público muito cedo mas sempre gostei muito de arquitetura também, eu não me conformava em ser formada em arquitetura e não exercer, eu queria mesmo era ser arquiteta, e por gostar muito de meio ambiente, fiz especialização em ecologia e recursos naturais pensando em trabalhar com paisagismo que trabalhasse também a questão de recuperação ambiental, essa foi minha ocupação por muitos anos. Em arquitetura e urbanismo a gente estuda também bastante sociologia, bastantes coisas ligadas às relações humanas, e isso sempre foi uma área que eu gostei muito, sempre gostei muito da área social, e quando me aposentei já a alguns anos, eu acabei me dedicando a isso, cultura, resgate de tradição, relações socioeconômicas culturais do lugar onde eu trabalho, são áreas que eu gosto de trabalhar e é a isso que eu me dedico atualmente.

WhatsApp-Image-2022-03-20-at-08.06.18-1-225x300 Entrevista com a escritora Regina Ruschi

STN – Uma mensagem ao povo teresense?

Regina – A mensagem que eu tenho para os moradores de Santa Teresa, é que essa cidade é muito especial, ela tem uma história muito peculiar, muito própria, e a cidade com tudo isso que vem passando, por esse desenvolvimento turístico grande, que vive Santa Teresa, isso tem que ser aproveitado como uma coisa boa, mas a cidade não pode perder as sua referências, minha mensagem é: registrem tudo, porque senão, passa um bonde na história e transforma lugares especiais em outro qualquer, e não é assim, cada cidade tem sua peculiaridade, e Santa Teresa tem demais, Santa Teresa tem muita coisa escrita, mas ainda tem muita coisa sendo perdida, digo isso com exemplo na minha família, que tem bastante coisa escrita, porque o tio Gut era uma pessoa pública, então, tem bastante coisa escrita, mas ainda sim, tem tanta história da minha família que está se perdendo, que eu imagino que isso está acontecendo em cada uma dessas casas, então: registrem tudo, que seja num celular, pra um dia ser transformado em um vídeo, em alguma coisa, porque os idosos estão indo embora, e eu falo pelo meu pai, meu pai era o mais novo dos Ruschi aí de Santa Teresa, era o mais novo de uma família de doze irmãos, foi o último a falecer e eu sei de muita história do meu pai que não está registrada em lugar nenhum, história que ele contava da nonna, do nonno, dos irmãos, que não está registrada em lugar nenhum, e muitas eu mesma já perdi, muitas dessas histórias, então registrem tudo.

Acreditem em vocês

E ao pessoal do artesanato, acreditem no trabalho que vocês tem e tentem buscar alguma coisa que tenha a iconografia daí, porque é muito importante você fazer um artesanato que seja próprio daquele lugar, e não fazer uma coisa que a gente sai encontrando em qualquer feirinha. Existem produtos que em qualquer lugar você encontra igual, se a gente acreditarmos em nós, então criamos coisas diferentes e aí realmente vai ser um símbolo  que vai levar a história do local junto. 

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Myrian Loureiro. Jurema Tonini e Regina Ruschi posam para as fotos de lembrança.

STN – Você possui uma ligação com a cidade?

Regina – Minha ligação com a cidade é que eu sou filha de José Ruschi Filho, meu pai é filho de José Ruschi e Maria, a minha avó era filha de família Staltzer e Roat, meus avós tiveram 16 filhos, dentre eles, dois não chegaram a nascer, dois faleceram pequenos, e doze cresceram, um deles a gente chama de tio Gut que é o Augusto Ruschi, quando nova minhas visitas a Santa Teresa eram constantes,  por que o tio Gut morava aí, morava na chácara onde hoje  é o museu, que era a propriedade do meu avô, onde eles passavam férias, e depois a gente não ia mais tanto a Santa Teresa porque na verdade todos os irmãos mudaram daí, e os primos também, hoje temos o Piero que mora aí, mas a gente sempre teve uma ligação afetiva muito grande com a cidade.

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408