Meio Ambiente

Entrevista com Sérgio Lucena, diretor do Instituto Nacional da Mata Atlântica

Atualmente vinculado ao Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), o MBML é uma das mais importantes referências brasileiras para pesquisas voltadas à biodiversidade da mata atlântica, desenvolvendo trabalhos de botânica, comportamento, ecologia e biogeografia de grupos de animais do estado. Também possui forte atuação na área educacional, recepcionando anualmente cerca de 80 mil visitantes.
Nessa entrevista o diretor do INMA, Sérgio Lucena, destaca a trajetória da entidade nesses 70 anos, os desafios a serem enfrentados e a polêmica em que o nome do Museu se envolveu quando foi transferido para o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Prancheta-8-3-742x1024 Entrevista com Sérgio Lucena, diretor do Instituto Nacional da Mata Atlântica

Leonardo Meira – O Museu Mello Leitão é um dos locais mais visitados do Espírito Santo. São turistas, estudantes, moradores e pesquisadores que comparecem ao parque do Museu para admirar a fauna e flora do local. Qual o segredo dessa longevidade do Museu?

Sérgio Lucena – Creio que se deve, em primeiro lugar, ao legado de Augusto Ruschi, que deixou uma mensagem de valorização da natureza, bem como uma infraestrutura de pesquisa, educação e contemplação das riquezas naturais esplêndida. Em segundo lugar deve-se à equipe de servidores, pesquisadores voluntários, estagiários, bolsistas e estudantes que sucederam Ruschi e se apropriaram dessa mensagem, buscando dar continuidade ao trabalho iniciado por ele. Além disso, ao transformar o Museu em instituição pública federal, Ruschi deu um passo fundamental para a perpetuação de seu trabalho e missão.

Leonardo Meira – Quem foi Mello Leitão e por que Augusto Ruschi batizou a chácara da família com esse nome?
Sérgio Lucena – Cândido Firmino de Mello Leitão foi um renomado cientista do Museu Nacional do Rio de Janeiro que atuou como incentivador e professor do Ruschi, tornando-se seu amigo. Após o falecimento de Mello Leitão, em 1948, Ruschi fundou o Museu, homenageando o seu professor.

Museu-70-anos-Diretor-do-INMA-Sérgio-Lucena.-Foto-by-Leo-Meira Entrevista com Sérgio Lucena, diretor do Instituto Nacional da Mata Atlântica

LM – O senhor está como diretor do Instituto Nacional da Mata Atlântica, mas já foi diretor do Museu Mello Leitão. Que diferenças o senhor enxerga nas duas administrações?
SL – Na década de 90, quando fui Diretor, o desafio era consolidar o Museu como uma instituição pública, voltada para a pesquisa sobre a biodiversidade, o colecionamento de material biológico (plantas e animais) e a educação científica e ambiental. Para isso, o Museu tinha uma equipe de servidores que atendia, minimamente, as suas atividades operacionais, mas carecia de pesquisadores. Hoje, a consolidação do INMA é um desafio muito maior, porque além de manter toda a missão que o Museu já tinha, o INMA, como Instituto Nacional, tem a missão de contribuir para a conservação e desenvolvimento sustentável no âmbito da Mata Atlântica brasileira. É motivante participar do processo de consolidação de uma instituição com uma missão tão nobre e desafiadora como INMA.

LM – O Museu já foi gerido pela Fundação Pró-Memória e pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Atualmente é o Instituto Nacional da Mata Atlântica que gerencia o local. Inclusive isso gerou uma polêmica de que o Museu seria extinto. Pode explicar para nosso leitor o que essa mudança de Ministério acarretou para o Museu?
SL – O Museu estava no Ministério da Cultura que, apesar de sua grande relevância para o País, não era o local adequado para uma instituição que lida com pesquisa biológica e acervos de zoologia e botânica. Diante disto, o Museu não era uma prioridade institucional e veio sofrendo, historicamente, de carência de recursos humanos e financeiros, sem perspectiva de crescimento, chegando à situação muito crítica, com carência de recursos mesmo para sua manutenção básica. Com a ida para o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – MCTIC e a transformação em Instituto Nacional, por intermédio da Lei 12.954, de 05 de fevereiro de 2014, novas perspectivas e crescimento se abriram, além de um melhor posicionamento no governo federal. Por exemplo, em menos de dois anos, após a implantação do INMA, o orçamento efetivo foi praticamente dobrado, mesmo em período de crise, apesar de ainda ser pequeno se comparado a outros institutos do MCTIC. Ou seja, as perspectivas futuras são bem melhores do que eram antes. A mudança de nome, determinada pela Lei, criou uma certa confusão, mas o nome do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão foi preservado no Regimento Interno do INMA. Ou seja, em termos regimentais, o Museu é uma unidade do Instituto Nacional da Mata Atlântica. Evidentemente o nome do Museu, dado pelo seu criador, já é de domínio público e precisa ser preservado. Por isso que neste ano de 2019 nosso tema principal é a comemoração dos 70 anos do Museu Mello Leitão, fundado em 1949 por Augusto Ruschi. Por outro lado, não tenho dúvidas de que transformar a sua obra em um instituto nacional de ciência, tecnologia e inovação é a melhor homenagem que podemos fazer a Augusto Ruschi.

LM – Em junho serão comemorados os 70 anos do Museu Mello Leitão. Como está a programação de eventos?
SM – Vamos comemorar essa data com homenagens à Mata Atlântica e à cidade que acolheu o projeto de Augusto Ruschi sete décadas atrás. Então, nosso presente para o bioma será a entrega à sociedade capixaba dos resultados das pesquisas do último ano e meio, realizadas no INMA, para um maior conhecimento e conservação da Mata Atlântica. Quanto ao presente para a comunidade teresense, teremos dois momentos de destaque: o primeiro será o lançamento da exposição de arte naif, a chamada “arte ingênua”, envolvendo trabalhos de artistas do Brasil e do exterior, incluindo uma importante artista teresense, a Virgínia Tamanini. O segundo momento será uma surpresa, que não posso revelar, mas adianto que vai unir, em uma coisa só, os diversos elementos dessa comemoração: ciência, conservação, arte, cores, história, memória. Vai ser um evento muito importante para a cidade de Santa Teresa e para o Espírito Santo. Por isso estão todos convidados desde já a participar conosco!

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408