Festa do padroeiro!
O mesmo amor pela família e pelo trabalho, o colono cultivava pela igreja da comunidade. Esse tripé era a base da têmpera dos imigrantes e é ainda de sua descendência. Como pensar na família e no trabalho sem colocar a religião, a casa de Deus? Vejam como são bonitas as capelas da colônia, expressão concreta da fé e carinho a Deus nos seus santos e na santa Vergine! Querem comprovar isso? Busquem a história de seus templos. Se ele era o monumento expressivo da união comunitária, o padre, a alma. Como falar em festa do padroeiro sem a presença do padre?
Bem antes do dia, as famílias iam se preparando para a festa. Para as crianças, o morim do vestido novo das meninas e o brim, dos meninos. E assim toda a família ia pra festa com vestes festivas. Dois, três meses antes, havia outro empenho importante, a preparação da gengibirra gasosa e boa. As crianças que iriam comungar treinavam, abrindo a boca ao máximo e pondo a língua de fora, esparramada; nisso o irmãozinho lhe colocava um pedacinho de folha da laranjeira na língua, levada para o céu da boca como se fosse a hóstia santa, sem tocar os dentes. Sairia sangue!? Mamma mia!!!…
Na igreja se traçavam os mínimos detalhes desde os ensaios da missa cantada a tre voci d’uomo; visita às famílias, pedindo as prendas para o leilão, as guloseimas, ovos, galinha, porco, garrote, novilha, produção da colônia! Indispensável a capina do caminho que ia da canônica à latrina, usada só pelo padre; chamar a cozinheira de sempre, a melhor da região; levar o burro manso e marchador, arriado, atado ao arreio do cavaleiro que iria buscar o padre onde estivesse. Isso um ou dois dias antes da festa.
Na Paróquia, São Roque era uma das comunidades cuja festa do padroeiro ajuntava povo de toda a região do Munícipio, até de Colatina e do Norte; assim também a de São Pedro na localidade do mesmo nome. São Paulo…! Nelas, além da motivação religiosa, o que falava alto eram as barganhas e negócios que iam de animais de cela ou gado até relógios, maquinas de costura e boas armas de fogo ou algum apetrecho interessante; e nessas ocasiões, os rapazes e as moças tinham oportunidade de novos conhecimentos amorosos. Outra festa que ultrapassava os limites da paróquia, era a festa da Penha, aqui pertinho, célebre até hoje. Contudo em todas as comunidades, o padroeiro reunia muita gente e sempre no dia próprio do santo. Era dia santo de guarda. Falo dos tempos em que não se conheciam férias nem feriados a não ser as festas religiosas. Estradas, só de tropa. Enquanto demorasse o padre na comunidade, não se trabalhava na roça. Havia as confissões dos homens, das mulheres e, na tarde da véspera, as confissões das crianças. Ai-ai-ai…!
O problema era a volta pra casa, depois das confissões. Pelo caminho afora, um ia bem distante do outro para não se conversar e sair algum palavrão ou xingamento; jantar e dormir cedo para não pecar e, no dia seguinte, em jejum desde a meia noite, comungar na primeira missa com a alma limpinha … Mamma mia! Lá pelas oito horas, a missa solene cantada (longa-longa para as crianças)! A um sinal do sino, os batizados, em seguida os casamentos e, com toques pontuados, convidava a todos para a procissão. Impossível imaginar festa religiosa sem procissão com fogos e bimbalhar dos sinos. Joao Caninana não faltava a uma delas. Varapau de homem que nas procissões, com lenço branco na mão, firmava a imagem do santo pra não falsear e cair.
O boteco da comunidade era o mais sortido, groselha, limonada, gengibirra, soda e guaraná; a cerveja branca e a preta na temperatura ao ambiente, vinhos e alcoólicos; comestíveis variados nos pães e outros. Havia também muitos pequenos vendedores. De quando em vez sobrava algum tapa e outras cuangas mais. A grande dor de cabeça do padre, porém, era o jogo de azar (roleta, buso e caipira). Os inveterados jogadores amaciavam o bolso do soldado que fazia vista grossa e a banca corria solta. Cenas vexatórias aconteciam entre padre e jogadores: mesa esparramada por terra com dinheiro e tudo; confusão!… e o frei em apuros…socorrido…! Mamma mia!!!…
Nas festas, o padre permanecia, no mínimo, três dias. No último, aguardava o acompanhante para visitar outra comunidade, sempre a cavalo. Mamma Mia!!!…