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Fragmentos Teresenses

Extraídos dos escritos de Myrian Loureiro

 

A cidade

Nasci em uma minúscula cidade, Santa Teresa, cravada entre verdejantes montanhas de brancas cachoeiras espumantes.

Lá, em uma simples fazenda, cresci vendo minha mãe cultivar as mais lindas roseiras naquele jardim encantado, as rosas disputavam entre si, beleza, tamanho e perfume.

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Uma vez, caminhando entre as montanhas umedecidas pela chuva criadeira, tão pequena eu era, de mãos dadas com meu pai, vivi a magia de beber em uma folha de taioba a água colhida em uma nascente a nossos pés, água prateada, bela e pura. Indescritível.

A Colônia

Era o ano de 1939, Licínio e Fany Loureiro, meus pais, vieram morar no que chamavam de colônia, no distrito da Penha, trocando uma casa robusta em Santa Teresa (que permanece lá até hoje) pelo descampado exuberante da natureza com uma casa de estuque. Meus pais e cinco filhas, sendo eu a caçula de apenas 3 meses, desbravando o desconhecido selvagem, sem água encanada e sem energia elétrica. Minha sábia mãe argumentou: O mais importante da existência é a água, luz, temos os lampiões, Aladins, velas, lamparinas e a magia do fogão à lenha cozinhando e aquecendo. Na época, os pilares das construções eram troncos de árvores, e proporcionava ventilação até ao extenso porão que servia de depósito.

A sobrevivência imperativa na Colônia, fez com que meu pai, construisse do outro lado da estrada, no encontro das montanhas, uma pequena represa, que possibilitou canalizar o líquido puro e precioso que serpenteando as montanhas, passava pela tubulação embaixo da estrada e nos trazia a rega (é assim até hoje, divisa com a esplêndida fábrica de biscoitos Claids). 

A Tropa

O fascínio do intenso barulho de tilintar dos sinos, somados ao tropel dos cascos  dos muares desperta-nos o sorrir para vê-los chegar… acontecia em décadas passadas pois era o meio de transporte para a nossa charmosa cidade de Santa Teresa. Privilégio ao espetáculo da mula madrinha, à frente da tropa, com seus nove sinos de bronze – quatro de cada lado e um grande no meio, intercalados por guizos e chocalhos em aço inox. Para tal, o animal deveria ser escolhido entre muitos pois lhe cabia o comando da tropa.

Os Natais

O esplendor das comemorações festivas, os natais, as roupas vistosas, alegria na apresentação, cantoria, homenagens e agradecimentos eternos de estima aos nossos antepassados… inebriam sempre nesta festa nossos significados, transcorrendo pelo nosso corpo o choque prazeroso da sensação de bem-estar. Naquele tempo, a emoção já batia forte, despertando anseios, quer seja de euforia, saudosismo, reflexão, reconhecimento…Memória, buscar no tempo, Dulce Gama (in memoriam) entre tantos personagens importantes do Coral, ela que também cantava no Coro da Igreja Matriz de Santa Teresa, trazia um rastro de linda voz, serena, acolhedora, mistura de amor com doação, de boas lembranças a nos obsequiar…

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Myrian Loureiro e sua amiga irmã Aurora Dalmaschio durante uma visita à Colônia.

 

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408