Inma anuncia Memorial de Augusto Ruschi
Entrevista com o recém nomeado diretor do Instituto Nacional da Mata Atlântica (Inma) Sérgio Lucena. Ele fala dos três programas estruturantes que serão implantados em sua gestão e anuncia o projeto do Memorial Augusto Ruschi.
Gazzetta di Santa Teresa – Com a sua nomeação o Inma sai da gestação e nasce oficialmente aqui no MBML.
Sérgio Lucena – O Inma, não nasce do nada, ele nasce a partir do Museu de Biologia Mello Leitão criado há 68 anos atrás, O Museu era uma unidade do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), estava no terceiro escalão do MEC como um estranho no ninho, não tinha programas para apoio à pesquisa com biodiversidade flora, fauna, mata atlântica, apoiar coleções científicas de flora e fauna, percebemos que o museu não estava bem acomodado no Ministério da Cultura e vinha passando por dificuldades financeiras pondo em risco a missão e o Acervo do MBML. A partir daí começou uma articulação para vinculação ao MCTIC, foi uma luta que envolveu a comunidade científica, lideranças políticas do Espírito Santo, e conseguimos uma coisa extraordinária, trazer para o Estado, para Santa Teresa, o Instituto Nacional da Mata Atlântica. Outros estados também queriam o Inma, fomos muito felizes que eles aceitaram nossa proposta. Ao se tornar Instituto Nacional da Mata Atlântica o museu foi para um patamar superior, vai se relacionar diretamente com o MCTIC.
GST – O MBML está extinto?
SL – Não, o museu está previsto no regimento interno do Inma, O Museu de Biologia Mello Leitão será um departamento dentro do Inma, como era dentro do Ibram. No Inma, o museu deverá ganhar estruturas físicas para comportar todo o acervo e as coleções em uma nova sede, porque não podemos continuar com a administração na casa de Ruschi, temos um projeto para transformar a casa de Ruschi em “Memorial Augusto Ruschi” onde estarão os pertences, documentos obras do patrono, embora Ruschi tenha feito uma homenagem ao seu professor, a fama de Ruschi superou a de seu mestre e não existe ainda o nome de Ruschi na instituição que Ele criou. Fui servidor do Mello Leitão por 13 anos,na década de 80 e 90, nos últimos 4 fui diretor. Eu tenho um compromisso com a história e com a memória do museu e de Augusto Ruschi. Com o Inma vamos poder fazer a recuperação da mata atlântica, coisa que jamais poderíamos fazer como museu. O Inma possui uma dimensão que transcende ao Espírito Santo, que vai interagir com outras instituições ligadas à conservação no Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e outros estados.
As vezes pode haver boatos na cidade, que o museu vai acabar…Na verdade nós estamos construindo a perpetuidade da história e obra de Ruschi, como de todo seu acervo.
já firmei parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast) esse museu é especializado em história da ciência, em parceria com a Ufes vai fazer inventário, catalogar e organizar o futuro Memorial de Augusto Ruschi.
GST – Quais são os Eixos de gestão?
SL – São 3 programas estruturantes, o primeiro é criar uma rede de informações e compartilhamento da Mata Atlântica, há muitas instituições de pesquisa ligadas à mata atlântica, buscaremos parcerias para criar uma plataforma visando integrar as informações sobre o bioma, para que o público em geral possa acessar essa informação que ainda não está acessível ao público, ao gestor, ao tomador de decisão, contará com pessoal especializado para sintetizar essas informações, essa vai ser uma forma de nacionalizar o Instituto. Já fechamos uma parceria com o governo do estado através do Condema, para o projeto com a rede de compartilhamento de dados que servirá de piloto para o programa nacional. Esse recurso vem intermediado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Espírito Santo (Fapes), esse projeto vai trabalhar a parte de educação ambiental e científica aqui no parque do museu.
O segundo programa estruturante é transformar essa região com suas reservas num polo internacional de Pesquisa da Mata Atlântica , atrair pesquisadores de várias partes do país e do mundo, trabalhar a longo prazo a pesquisa e conservação da mata atlântica, esperamos que daqui a alguns anos possamos ser referência em local para estudo da Mata Atlântica. Em Brasília convidei o diretor do ICMBio que gere a reserva Augusto Ruschi, para uma parceria, falei da reserva, da infra estrutura que a gente precisa para abrigar pesquisadores, laboratórios, ele achou excelente a idéia, é uma região de uma biodiversidade fantástica a 1 hora do aeroporto de Vitória, não é qualquer lugar que reúne essas condições, isso facilita a vinda do pesquisador.
O terceiro programa estruturante é um programa de educação científica e ambiental, popularização da ciência com o público que visita o museu e com o público de locais onde vamos desenvolver projetos de pesquisa.
Vamos trabalhar um conceito que está ganhando o mundo, Ciência Cidadã, que é envolver leigos na coleta de dados, capacitar o cidadão como ornitólogo amador que pode fornecer informações através de seu celular para um banco de dados onde um cientista vai estar fazendo a moderação dessa informação, o MCTIC agora está trabalhando uma rede de ciência cidadã no Brasil, cadastrando projetos de diferentes lugares.
GST – Já existe orçamento previsto?
SL – A parte mais desagradável é o orçamento, que é um orçamento aprovado para 2017 e foi de 2 milhões e meio, que é muito pouco para estruturar um Instituto do porte do Inma, mas sabemos que houve cortes em todos os orçamentos, porém só foi liberado 1,8 milhões, para 2018 espero pelo menos esse valor, que só mantém as funções administrativas, o Inma precisa de muito mais para se estruturar como Instituto pois existem muitas áreas para se trabalhar e investir, desde a ciência, educação e expansão. Então inicialmente precisamos de 3 milhões e meio. Estamos assustados com a proposta do congresso que nos destina 1 milhão e meio, estamos buscando apoio na bancada federal para melhorar esse quadro, porque a proposta não pode mais ser mexida.