Lavoro Sacro – ADELAIR MARIA MAGDALON VENTURINI
Por Mônica Ferrari – Escritora e psicóloga, dedica-se desde 2001 ao blog Cena Vitória, que visa promover a cultura capixaba.
Artefatos com toque de amor
história de vida de ADELAIR MARIA MAGDALON VENTURINI ecoa à maneira de um compasso musical. É sonora. Partitura marcada por movimentos e pausas, alternada pelo pulsar do desejo e do tempo. Durante anos foi diurnamente evocada pelo trabalho realizado junto aos familiares, nas lavouras de tomate, milho e arroz. Na juventude, a serenidade do anoitecer trouxe para junto de si a marca das agulhas e linhas de crochê. Enlace perfeito na formação de pontos que o tempo não desfez. Adelair aprendeu a adubar a terra e a fazer arte com fios. Compreendeu a necessidade de equilibrar os afazeres com harmonia, no contrassenso entre as mãos que trabalhavam ao ritmo da natureza e a mente que acalmava, sob a criatividade das horas fugidias.
Aos 15 anos, ousou iniciar, de forma grandiosa, o aprendizado transmitido pela irmã. Fez parceria com a persistência. A colcha de casal vermelha feita em crochê desafia o tempo e atravessa a história. Objeto exposto em inúmeras mostras de artesanato do município de Santa Teresa, esse seu primeiro trabalho ganhou ares de patrimônio material da cultura local. Invendável memória. Lembrança presente. “Uso-a mais aos domingos”.
Pacientemente ritmado e individualmente elaborado, o ofício executado por Adelair surge caracterizado pela presença de um trançado semelhante ao de uma malha rendada. Reflete beleza e zelo. O processo de confecção de cada peça é tão específico e particularmente único que não há possibilidade de um mesmo padrão se repetir. Ao ser iniciado, necessita que seja igualmente finalizado. Relaciona forma com identidade. Unicidade pontuada.
Em alguns momentos, circunstâncias provocaram pausas em seu enlace com as linhas. O casamento e o nascimento dos três filhos pediram dedicação. Solicitaram outro ritmo na partitura da vida. Impulsionada pelo sentido de realização que o ofício confere a sua existência, Adelair, no entanto, não abriu mão de sua arte. “Faço para distrair, pelo prazer de fazer”. Costura bolsas, marca tapetes com lã, faz blusas, boleros e bonés em crochê. Inspirada nas peças que vê nas revistas e nas novelas da tevê, atribui significado a uma atividade, que, acima de tudo, concretiza ato em encanto.