Lavoro Sacro – Angélica Maria Refelon Matiello
Trabalho com toque angelical
“É uma terapia para mim”.
| Por Mônica Ferrari |
Várias orquídeas compõem o cenário do quintal da casa. O muro alto da residência, localizada em uma rua ampla da cidade de Santa Teresa, não evidencia a diversidade de cores que se descortina ao abrir do portão. É com delicadeza e minúcia que ANGÉLICA MARIA REFELON MATIELLO relata sua história e descreve sobre seu ofício. Diz de um trabalho que demanda tempo, “boa vontade e paciência”, e que traz a marca de uma vida sustentada por densas raízes, numa tradição estruturada sob a influência da família e da cultura. Herança de um tempo em que as mulheres eram orientadas a realizar serviços domésticos e trabalhos manuais. Período em que o universo feminino seguia na direção de afazeres protagonizados pela coexistência no lar.
Natural de Várzea Alegre, distrito do município de Santa Teresa, e neta de italianos, Angélica teve seu primeiro contato com as agulhas e linhas quando, aos oito anos de idade, no colégio interno de freiras que frequentava, passou a ter aulas de trabalhos manuais. “Bordava aqueles pontinhos da vovó, que quase todo mundo do interior sabia fazer”. A convivência com a avó, também bordadeira, com quem ficava enquanto os pais iam trabalhar na roça, fortaleceu o aprendizado e a certeza de que seu repertório de vida seria igualmente configurado pela força da tradição.
Devota de Nossa Senhora Aparecida e de Nossa Senhora das Graças, Angélica conduz a vida à maneira dos que têm coragem e fé. Atuante e engajada na vida da comunidade, é presidente do Conselho do Idoso e tesoureira da Associação dos Vicentinos. Trabalha com bordado à máquina, à mão, em sianinha e em fita, crivo com bainha aberta, macramê, pintura em tecido, patchwork, tricô e crochê. Ama o que faz e bebe na fonte daqueles que mantêm o foco no aprendizado contínuo.
Em sua residência, Angélica conserva um espaço destinado a guardar a matéria-prima que utiliza para realizar os trabalhos manuais: tecidos, linhas, lã e tintas. Cores e texturas compõem seu mundo particular. Realiza seu ofício individualmente, num tempo que varia de acordo com o tipo de linha e o estilo do trançado. Na memória, cultiva a lembrança de peças produzidas e comercializadas. Foram peças que marcaram vidas. Afirma que cada trabalho concluído imprime a vontade de que outro seja imediatamente iniciado, num contínuo processo de realização.
Angélica deseja que seu trabalho crie raízes tão significativas quanto a habilidade que traz em suas mãos. Para manter ativa a roda de aprendizagem, percorre estradas. Vence as distâncias que separam os distritos que compõem o município. Agrega pessoas. Capacitando-as, garante que seu ofício se perpetue. Leva adiante uma tradição.
