Lavoro Sacro – Nair Vulpi Venturini
Por Mônica Ferrari – Escritora e psicóloga, dedica-se desde 2001 ao blog Cena Vitória, que visa promover a cultura capixaba.
Ofício alinhavado pelo fio da memória
NAIR VULPI VENTURINI passa e repassa linhas. Vai e volta com a agulha. Escreve sua marca no ofício que aprendeu aos dez anos de idade, observando os movimentos executados pela tia, numa máquina de costura centenária. Percorre a história. Reencena um legado. Avizinha-se com o tempo. Costura e faz bordados em richelieu. Funda seu percurso-vida na persistência e na liberdade do ato.
Ainda menina, trabalhou com o pai e os irmãos nas lavouras de café e milho. Fazia capina. Filha de imigrantes italianos, aprendeu, desde sempre, a cuidar da casa, do quintal, do paiol e da horta. Nair trabalha ao som da batida ritmada da máquina de costura da infância. Mãos e pés em perfeita sintonia. Marca o elo do tempo.
Com agulha, linhas, tesoura, bastidor e tecidos realiza seu ofício, revelando belíssimos bordados, contornados por pontos de costura. Faz sua arte com delicadeza. A execução de cada peça exige domínio da técnica, habilidade e paciência. “É um trabalho muito demorado”. O processo envolve o corte de alguns espaços do tecido e a abertura de áreas estratégias que são finalizadas com as chamadas brides, elos que ligam uma parte do bordado à outra.
Nair expande palavras. Emoldura memórias. Diz saudades. Lembra a história das peças que fez para compor o enxoval das cinco filhas. Colchas e lençóis. Todas bordadas em richelieu. Desejo de lembrança.
Nair é sentimento. Consagra sua arte na emoção da palavra revelada. “Eu gosto demais de fazer isso. É uma terapia muito boa”.