Lavoro Sacro – Valdemar Kipper
Por Mônica Ferrari Seidel – Escritora e psicóloga, dedica-se desde 2001 ao blog Cena Vitória, que visa promover a cultura capixaba.
“Todo trabalho a gente tem que fazer gostando”.
É preciso percorrer alguns quilômetros a partir do centro da cidade de Santa Teresa para se chegar à oficina, identificada com uma placa, que destaca o sobrenome de uma família de origem germânica. O terreno de terra batida está em desnível em relação à rua asfaltada, que lhe permite o acesso. Um galpão chama atenção por sua coloração uniforme. As tiras de eucalipto, o pó de serra espalhado por toda parte e as fibras naturais de ubá dão à pequena oficina um tom que se mistura à força de um trabalho marcado pela herança familiar. Há ali o registro de um tempo que une passado e presente. De um ofício circunscrito nas mãos e marcado no corpo. Nesse espaço são produzidas peneiras, utilizadas especificamente para a colheita de café. Terra e arte se integram.
Natural de Santa Teresa e fiel a um legado iniciado pelos antepassados familiares – “o pai já sabia, já fazia antes, então ele passou para a gente” –, VALDEMAR KIPPER trabalha como artífice, em parceria com o irmão LINDOMAR há aproximadamente doze anos. O ofício artesanal é exercido em paralelo com o trabalho na lavoura. A reserva postural que caracteriza uma vida fundamentada em consonância com princípios alemães ganha voz, sorriso e leveza quando o assunto é trabalho. O homem que tem o cheiro da terra impresso na vida empolga-se ao explicar o passo-a-passo que caracteriza a produção das peneiras. Elaboradas em tamanho único, as peneiras são produzidas por meio de diferentes etapas. Máquinas destinadas a picotar as fibras uniformemente e a trançá-las, como num tear, fazem parte de um processo cuidadoso. Um forno à lenha permite que os arcos de eucalipto tomem a forma arredondada. Pedaços de mangueiras, arames e pregos dão o acabamento necessário às peças. Valdemar diz que é preciso ter “inteligência”, habilidade e força. O aprendizado tem o tempo de uma história.
Da taquara às fibras de ubá, nota-se que a matéria-prima natural começa a dar lugar ao uso do plástico: elemento que reconfigura a originalidade do produto. O meio ambiente solicita cautela quanto à utilização de seus recursos. Almeja proteção. Deseja reinvenção para que a arte não saia de cena.