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Moeda única dos Brics podem promover mudanças drásticas o cenário mundial

Por Seixas Baré

Fotos: Ricardo Stuckert/PR; Anindito Mukherjee/Bloomberg; Marco Longari/Pool via Reuters;

A reunião da cúpula dos Brics que aconteceu em Johanesburgo no dia 23e 24 de agosto, trouxe a proposta de criação da “BricsCoin”  moeda com lastro em ouro, com depósitos equivalentes garantidos pelo banco do bloco. Seixas Baré fez uma compilação do entendimento de várias fontes internacionais e agências para fornecer um bom entendimento sobre a importante mudança global que está em curso, sendo  o Brasil, o pivô desse movimento geopolítico.

No complexo cenário econômico global, uma proposta tem chamado a atenção dos países emergentes, e gerado intensos debates: a criação da “BricsCoin”. 

Esta iniciativa busca estabelecer uma moeda comum entre os países membros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), oferecendo a perspectiva de uma nova era no panorama financeiro global.

A proposta da BricsCoin é audaciosa: ter lastro em ouro e ser usada dentro do bloco para realizar transações comerciais. 

Tentando sair da hegemonia do dólar, o Brics está preparando um caminho que pode gerar grandes impactos no cenário econômico mundial. 

A ideia da nova moeda do Brics, levanta questionamentos sobre o panorama financeiro mundial, põe em cheque o dólar dominante e até mesmo o bitcoin (BTC). Sabemos que o sistema econômico, desde sempre na história, é marcado por muitos e diversos interesses.

A proposta da bricsCoin e seu alicerce em ouro

Com base nesse lastro de ouro, tokens ou títulos representam o valor dessas reservas e seriam emitidos. Esses tokens serão utilizados para realizar transações comerciais entre os países do bloco, simplificando, reduzindo custos e agilizando a troca de bens e serviços.

Esse “novo padrão-ouro” também pretende eliminar a dependência e influência dos Estados Unidos na economia de grandes players globais.

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Barras de ouro Photographer: Anindito Mukherjee/Bloomberg

Apesar das vantagens potenciais, a implementação dessa nova moeda encara obstáculos logísticos e regulatórios, especialmente em um conjunto de nações com realidades econômicas e regulamentações bem diferentes. 

A necessidade do depósito em ouro no banco do bloco e a confiança mútua entre os membros do Brics é crucial para o êxito do sistema (porém o bloco já mostrou que é muito instável). A certeza de que os tokens podem ser convertidos em ouro legítimo é um alicerce essencial para a preservação da integridade desse sistema monetário.

Moeda dos Brics é uma ameaça ao bitcoin?

A inevitável comparação com o bitcoin surge com frequência. Enquanto ambas as moedas têm algum tipo de lastro como medida de segurança, suas abordagens são muito distintas.

O bitcoin, uma moeda digital descentralizada, se respalda em confiança matemática previamente estipulada desde o seu início, o que torna os riscos de manipulação praticamente zero. Por outro lado, a bricsCoin dependerá da confiança mútua entre as nações-membro e da conversibilidade de tokens em ouro físico.

Essa centralização pode abrir espaço para práticas questionáveis ou até mesmo corrupção, minando a própria solidez que a moeda busca estabelecer dentro do bloco.

Um futuro incerto

A busca do Brics por uma moeda compartilhada é um passo ousado em direção a uma maior independência econômica. De fato, a iniciativa, ancorada no lastro em ouro, abre novos horizontes no âmbito financeiro internacional. No entanto, é essencial questionar até que ponto uma moeda assim pode realmente ser imune a interesses econômicos e a tentações de controle concentrado. Enquanto o mundo observa essa evolução, é crucial examinar não apenas as oportunidades, mas também as ameaças que podem emergir de uma mudança tão substancial.

Em um mundo cada vez mais interconectado e influenciado por novos atores econômicos, sendo contra ou a favor da iniciativa, é indispensável observar atentamente os desdobramentos e as implicações que essa moeda pode ter na economia global.

Histórico

Quando um economista britânico cunhou o acrónimo Bric, há duas décadas, para designar Brasil, Rússia, India e China, não tinha em mente uma aliança que buscaria desafiar o domínio ocidental nos assuntos globais. Jim O’Neill, então banqueiro do Goldman Sachs, escrevia sobre oportunidades de investimento em países que se tornariam importantes mercados emergentes do mundo, foi então  que os países do Bric começaram a reunir-se formalmente.

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Cúpula do Brics em Johanesburgo 24/8/2023 MARCO LONGARI/Pool via REUTERS

Egito, Argentina e Emirados Árabes Unidos entram no bloco

A medida visa aumentar a influência do Brics como defensor das chamadas nações do Sul Global, muitas das quais se sentem tratadas injustamente por instituições internacionais dominadas pelos Estados Unidos e outros países ocidentais ricos.

Mas a expansão provavelmente significará mais divergências num grupo que já tem dificuldades para tomar decisões devido à necessidade de consenso, observou Patrick Lukusa, especialista em cooperação internacional na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo. “Já existem diferenças entre os cinco sobre moeda comum. O que acontece se você tiver mais 10?”

Em tudo, a Polarização

As promessas dos líderes do Brics de defender os interesses dos países não ocidentais fazem parte de uma mudança gradual de ênfase do grupo, da economia para a geopolítica.

‘Isso é o resultado da fragmentação e da polarização política que estamos vendo no mundo’, disse Daniel Silke, diretor da consultoria Political Futures, com sede na África do Sul, observando que a China citou ameaças de uma nova Guerra Fria com Washington como motivo para expansão.

No entanto, as nações do Brics têm um longo caminho a percorrer para se transformar em uma organização global unificada que possa desafiar o domínio ocidental sobre organismos internacionais como as Nações Unidas.

China e Índia estão frequentemente em desacordo. Nova Dhéli é mais amigável com o Ocidente e possui acordos militares com os Estados Unidos, enquanto está em conflito por vezes violento com Pequim sobre a fronteira no Himalaia.

Para o presidente russo, Vladimir Putin, o bloco é um fórum para contra-atacar o Ocidente, que tem procurado isolar Moscou devido à invasão da Ucrânia. Num discurso por videoconferência na quinta- feira (23), suas falas pareciam contradizer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disse numa transmissão nas redes sociais na terça-feira que o Brics não foi concebido para ser um contraponto ao G7, ao G20 ou aos Estados Unidos.

Lula também reiterou na cúpula a posição do Brasil de “defender a soberania (e) a integridade territorial” dos países – um aparente ataque à Rússia por sua invasão da Ucrânia.

A estrutura para que o Brics se torne mais parecido com uma organização atual está “em processo de construção, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, disse Tom Lodge, professor de estudos sobre paz e conflitos na Universidade de Limerick.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), criado pelo Brics em 2015 como alternativa ao FMI e ao Banco Mundial, prometeu aumentar os empréstimos em moedas locais como forma de reduzir a vulnerabilidade. Lodge afirma que “Se eles querem um reequilíbrio do poder econômico e das instituições de crédito não controladas pelos países ocidentais, o Brics alcançou francamente muito pouco em direção a esse objetivo.”

A adesão de vários países ricos ao Brics poderá trazer a liquidez tão necessária para instituições como o NDB, disse Gustavo de Carvalho, pesquisador sênior do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais.

Fiz aqui uma compilação dos artigos de Carien du Plessis e Anait Miridzhanian e Bhargav Acharya

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Joanesburgo, África do Sul, 22.08.2023 – Presidente Lula participa do Fórum Empresarial do BRICS, em Joanesburgo. Foto: Ricardo Stuckert/PR

A adesão de novos membros e o fortalecimento do bloco

JOHANESBURGO (Reuters) – Os líderes do Brics convidaram Arábia Saudita, Irã, Etiópia, Egito, Argentina e Emirados Árabes Unidos para aderirem ao grupo, em uma medida que visa acelerar seu esforço para remodelar uma ordem mundial vista como desatualizada.

Os líderes do grupo deixaram a porta aberta a uma futura expansão, abrindo potencialmente o caminho para a adesão de dezenas de outros países motivados pelo desejo de nivelar as condições de concorrência globais que consideram manipuladas contra eles.

A expansão acrescenta peso econômico ao Brics, cujos atuais membros são Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul. Eles também podem amplificar sua ambição declarada de se tornar uma referência no ‘Sul global’.

Tensões

Mas podem persistir tensões de longa data entre os membros que pretendem transformar o grupo num contrapeso ao Ocidente (China e a Rússia) e aqueles que continuam a nutrir laços estreitos com os Estados Unidos e a Europa. “Esta expansão do número de membros é histórica”, disse o presidente da China, Xi Jinping, em comentários após o anúncio. ‘Isso mostra a determinação dos países do Brics na unidade e cooperação com os países em desenvolvimento mais amplamente.’ 

A polarização geopolítica ligada à guerra na Ucrânia e ao declínio das relações da China com os Estados Unidos está estimulando os esforços de Pequim e Moscou para transformar o Brics em um contrapeso viável ao Ocidente.

Os novos candidatos foram anunciados pelo presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que organiza uma cúpula de líderes do Brics.

“O Brics embarcou num novo capítulo no seu esforço para construir um mundo que seja justo, um mundo que também seja inclusivo e próspero”, disse ele.

As nações candidatas se tornarão formalmente membros em 1º de janeiro de 2024. ‘Temos consenso sobre a primeira fase deste processo de expansão e outras fases se seguirão’, afirmou Ramaphosa em conferência de imprensa.

Lula disse que as promessas de globalização fracassaram, acrescentando que é hora de revitalizar a cooperação com os países em desenvolvimento, já que ‘há risco de guerra nuclear’ uma aparente alusão às crescentes tensões entre a Rússia e o Ocidente devido ao conflito na Ucrânia.

O presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed bin Zayed, cujo país já é membro do Novo Banco de Desenvolvimento do bloco, disse que apreciou a inclusão do seu país na expansão.

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, classificou a decisão dos líderes do Brics de convidar a Etiópia para aderir ao grupo como ‘um grande momento’.

Os países convidados a aderir refletem o desejo individual dos membros do grupo de trazer aliados.

Lula fez lobby pela inclusão da Argentina, enquanto o Egito mantém laços comerciais estreitos com a Rússia e a Índia.

A Rússia e o Irã encontraram uma causa comum na sua luta partilhada contra as sanções lideradas pelos EUA e o isolamento diplomático, com os seus laços econômicos se aprofundando na sequência da invasão da Ucrânia por Moscou.

O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, celebrou o convite do seu país para aderir ao Brics com uma sinalização a Washington.

‘A expansão do Brics mostra que a abordagem unilateral está em vias de decair’, disse ele, segundo a rede de televisão iraniana de língua árabe Al Alam.

Reequilibrar a ordem mundial

Em um reflexo da crescente influência do bloco, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, participou do anúncio de expansão na quinta-feira.

Ele repetiu um apelo recorrente do Brics por reformas de instituições como o Conselho de Segurança da ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, afirmando que as estruturas de governança global ‘refletem o mundo de ontem’.

‘Para que as instituições multilaterais permaneçam verdadeiramente universais, devem reformar-se para refletir o poder e as realidades econômicas de hoje. Na ausência de tal reforma, a fragmentação é inevitável’, disse ele.

O debate sobre a expansão esteve no topo da agenda da cúpula de três dias que ocorreu em Johanesburgo. Embora todos os membros do Brics tenham manifestado publicamente o seu apoio ao crescimento do bloco, havia divisões entre os líderes sobre quanto e com que rapidez.

Mais de 40 países manifestaram interesse em aderir ao Brics, dizem autoridades ​​sul-africanas, e 22 pediram formalmente para serem admitidos.

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408