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O Natal dos Imigrantes Italianos e seus descendentes

Por Simone Zamprogno

Nas minhas lembranças dos almoços de Natal, estão meus avós, Alvina Ronconi e Alcebiades Feller, sentados à mesa despejando um pouco de vinho em um prato de agnoline (capeleti). Nas semanas que antecediam a família se reunia para fazer os agnolines, vovô fazia alguns com um formato com pouco diferente, nós as crianças na época, nos esforçávamos para fazer os “chapeuzinhos” e adorávamos comer algumas bolinhas de recheio. A novena de natal também era muito esperada pelas crianças, era a oportunidade de brincar com as crianças vizinhas. Mas de onde surgiram estas tradições?


Os imigrantes trouxeram em suas malas muito mais que alguns poucos utensílios, peças de roupa e de enxoval. Suas tradições os acompanharam e muitas delas sobrevivem até os nossos dias. Dentre as tradições dos imigrantes está a religião católica e os festejos do Natal, onde comemora-se o nascimento de Jesus. Além de ir à igreja para comemorar tão importante data, dentre os preparativos do Natal estava reunir a família para preparar o agnoline e providenciar um bom vinho. Virgínia Tamanini descreve uma dessas cenas típicas do Natal em seu romance Karina:

Começou o Natal em nossos corações – pensei.
À noite, ninguém quis sair à rua. Aguardavam para ajudar a fazer os ‘capeleti’.
(…) eu desossava a galinha, Juntei em seguida a carne de galinha com a linguiça e o toucinho e passei na máquina. Condimentei com bastante queijo, uma pitada de noz-moscada, outra de pimenta do reino, amassa bem e o recheio ficou pronto.
Apanhei trigo, ovos, uma xicrinha de água morna e em pouco a massa estava pronta.
Com o pau de espichar – longo e roliço- comecei a abrir a massa (…) cortei-a em quadrinhos (…) Chamei, então, a meninada, que veio correndo. (…)
Uns separavam os quadrinhos de massa desfolhando-os; outros faziam bolinhas com recheio e as colocavam nos quadrinhos da massa. Eu ia armando os ‘capeleti’ um a um (…) Vez por outra, as crianças cochichavam entre si, disfarçando. As bolinhas de recheio erravam o caminho (TAMANINI, 1980, p. 202-3).


Hoje o município de Santa Teresa está repleto de pequenas fábricas de capeleti e este prato é consumido durante todo o ano. Precisamos destacar ainda, a presença do vinho e da uva no Natal. Santa Teresa está atualmente em destaque no cenário estadual quanto à produção de vinho e uva, mas esta tradição foi “trazida na mala dos imigrantes”. Como podemos observar no depoimento de 2014, do senhor Melício Montibeller:

Quando a minha avó veio da Itália para o Brasil, ela falava em negócio de uva. Ela falou assim: Vamos levar umas mudas de uva pra plantar no Brasil. Porque dia de Natal se não tiver uva a gente não tem sorte e faltando a uva na mesa não é Natal. Daí eles trouxeram nove mudinhas de uva em batatas da Itália. (…) Eles vieram abriram um lugar e plantaram as mudas de uva, mas só salvaram seis pés. (MONTIBELLER, 2014).

Vamos chegar ao Natal 145, desde que as primeiras famílias italianas da Expedição Tabacchi se instalaram em Santa Teresa. E mesmo após tanto tempo, muitas tradições se reproduzem nas famílias dos descendentes. As mesas hoje provavelmente vão estar mais fartas do que daqueles Natais dos 1800, contudo, vinho e o capeleti continuam nas mesas. E esperamos o aniversariante do dia, Jesus Cristo, continue a ser lembrado e possa estar presente em todas as famílias.