O Romance Histórico “Karina”: A Imigração Italiana Para Santa Teresa/ES
O romance histórico Karina nos fornece detalhes do processo migratório da Itália para Santa Teresa/ES sob o olhar da protagonista Karina, uma jovem grávida recém casada que é obrigada a migrar seguindo seu marido. Ao chegar à Província do Espírito Santo é relatado, sob o olhar feminino de Karina, os difíceis primeiros momentos da colônia e a frequente reafirmação do discurso da “terra prometida”. O romance da autora capixaba Virgínia Tamanini apesar de ser uma história fictícia, conta através das personagens, episódios e fatos que remetem a aproximações de sua própria história familiar. Virgínia viveu na casa da fazenda do Vale do Canaã, cenário onde se desenvolve parte da trama deste romance.
No romance Karina, personagens reais e fictícios se misturam para contar a história de imigrantes italianos que partiram no norte da Itália e se instalaram na região que hoje corresponde ao município de Santa Teresa/ES. Tabacchi era um italiano da região do Trento, que fugiu para o Brasil em 1851, provavelmente por problemas financeiros. Enviado pelo governo da Província do Espírito Santo para agenciar migrantes no Norte da Itália, Tabacchi pretendia agenciar colonos para sua fazenda. O empreendimento não deu certo e algumas famílias acabaram se dirigindo para a região de Santa Teresa. O romance não conta este episódio, mas dá grande importância ao discurso de Tabacchi.
Diante do discurso da emigração emoldurado nos relatos apresentados no livro, a princípio, é descrito um alvoroço, as pessoas se empolgam com as promessas de uma vida melhor, longe das incertezas que os afligiam no Norte da Itália. No entanto, Karina sentiu-se insegura por não poder imaginar a dimensão que este discurso tomaria.
A possibilidade de “colher ouro”, representada na obra como argumento forte para a partida, fascinou Arthuro (marido de Karina) que, mesmo possuindo boas condições de vida, ao contrário de grande parte da população de sua região, fica deslumbrado pelo discurso da ‘terra prometida’. Percebemos também a prevalência do poder da identidade masculina como força motriz para a migração.
Para Karina acreditar no discurso de Tabacchi, seria também acreditar no sonho do marido e no seu próprio sonho. Os primeiros momentos na nova terra, não se configuraram propriamente na vida em um paraíso.
(…) Em Cachoeiro recebemos mantimentos, ferramentas e já na madrugada seguinte pusemo-nos em marcha. Havia chovido e o barro dificultava nossa caminhada pela mata. Ao lado de Arthuro e ajudada por ele, eu me esforçava por não parecer atemorizada e fraca. E considerava, com orgulho, aqueles homens todos, trentinos como eu e destemidos, picuá às costas, machado nas mãos e refletindo nas faces, cobertas de suor, firmeza e determinação. Paravam, vez por vez, a contemplar o cerrado da mata com uma expressão de esperança retida no olhar. Os mais experimentados sabiam que aquelas terras representavam o verdadeiro ouro que buscavam. (TAMANINI, 1980, p. 26)
Apesar da dificuldade encontrada, a protagonista tenta reafirmar o discurso afirmando que “aquelas terras” seriam “o verdadeiro ouro”. Um diferencial do romance analisado, Karina, a narradora/protagonista retrata ao seu modo, a história da imigração a partir de seu olhar feminino, apresentando os medos e dificuldades que a afligiram e como processo imigratório foi enfrentado por muitas mulheres e pelos imigrantes em geral. Este romance é, sem dúvidas, uma indicação de leitura para todos que se interessam pela história de Santa Teresa e do Espírito Santo.