PDM, o que foi, o que deveria ser e o que acabou sendo
Acompanhe a entrevista com o Dr. Zurlo, e saiba um pouco mais da história da organização urbana da cidade. Entenda porquê o plano não foi seguido, como consequência, prejuízos ambientais, morais e financeiros para os teresenses. Conheça também um pouco da lisura dos homens públicos de outrora, que não eram movidos pela ganância, mas tinham amor à cidade, eram vereadores por uma vez, e já abriam caminho para outros contribuírem também.
STNews – O Sr. foi o idealizador do primeiro Plano Diretor Urbano de Santa Teresa, que mais tarde virou o PDM. Quando foi isso?
Dr. Zurlo – Em meados da década de 90, começava o adensamento populacional e Santa Teresa já tinha mais de 10 mil habitantes, havia um começo de ocupação e construções em áreas de risco. Pensei. “Se chegar aos 20 mil não vai mais ter o que organizar.” Então, peguei uma câmera fotográfica, andei pelas ruas, fotografei tudo que estava errado, foram meses de trabalho. Falei com o prefeito, na época era o Gilson Amaro, ele convocou uma reunião com o secretariado e outras pessoas, encheu o salão. Preparei um quadro grande e coloquei um painel com 80 fotografias e fiz a palestra explicando o que tínhamos que fazer para crescer numa cidade organizada, enfim, fui aplaudido, mas nenhuma providência foi tomada e nada foi feito.
Fui então à Câmara de Vereadores, fiz a mesma exposição, mas o tempo passou, também não houve providências. Então, na condição de advogado, entrei com uma ação na justiça, requeri ao juiz que citasse o prefeito e ele providenciasse o Plano Diretor Urbano (PDU) de Santa Teresa. O juiz abriu vista para o Ministério Público, que concordou e intimou o chefe do executivo. Cerca de 30 dias depois já tinha uma equipe que veio de Vitória para fazer o levantamento. Logo em seguida foi elaborado o projeto. Naquele tempo eram 5 leis que organizavam o ambiente urbano.
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STN – O Sr. era vereador nessa época?
Dr. Zurlo – Coincidentemente eu tinha sido eleito naquele ano, me candidatei e fui eleito vereador em 1996. Quando o projeto chegou na Câmara. Os vereadores, conhecendo meu entendimento sobre o assunto, me elegeram relator da Lei. Trouxe o projeto para casa e levei meses estudando ele. Pedi ao Cláudio Vereza, deputado na época, e ele me forneceu material de estudo, eu fui adaptando. O projeto ficou pronto. Chegou na Câmara e foi aprovado. Ninguém adicionou nenhuma emenda. O prefeito elogiou e sancionou, sem nenhuma ressalva.
STNews – A partir daí então a cidade teve seu ordenamento urbano?
Dr. Zurlo – Nada disso, todos os esforços para elaborar o Plano Diretor foram para a prateleira, não houve implementação. E seguiu-se o progresso desordenado como as construções na área de risco, sem água tratada e sem esgoto, e casebres pendurados na montanha. Parece até que foi uma resposta ao meu trabalho. Há poucos dias encontrei uma pessoa na rua que disse: “No Brasil, estamos precisando de uma lei que obrigue as autoridades a cumprir a lei”. Coloquei isso em um artigo meu.
STN – Me conta um pouco da sua vida, onde estudou, profissão… O Sr. foi vereador quando jovem?
Sr. Zurlo – Entrei na Escola Agrícola do Espírito Santo (Hoje Ifes) no dia 8 de Janeiro de 1948, tinha 14 anos, Dr Lúcio Fernandes Ramos, mineiro, foi meu diretor durante 7 anos e acompanhou meu trabalho. No primeiro ano, enquanto os alunos, na hora do esporte, iam jogar futebol, vôlei, basquete, etc, eu ia na casa dos professores, tinha as casas deles por lá, eu gostava de plantar laranjeiras. O diretor ficava de olho.
Fui presidente do Grêmio Estudantil em 1953, nessa época fomentamos a prática de todo tipo de esporte. Em 1954, os alunos estavam tão bem preparados que a Escola Agrotécnica do Espírito Santo foi campeã olímpica na Olimpíada Estadual.
Em 1955 o diretor me chamou à diretoria e disse: “Este ano termina seu curso aqui… Você poderia se candidatar a vereador”. Então me candidatei. Eu não fui à olimpíada porque estava trabalhando na campanha. E acabou que a escola foi campeã olímpica e eu fui eleito vereador. Eu morava em Santo Antônio do Canaã, tinha que sair toda terça feira de manhã, vinha de ônibus chamado galinheiro (sem porta), de paletó e gravata para as sessões na câmara. Nesse tempo vereador não ganhava nada. Em Junho, no dia 26, teve a comemoração da fundação de Santa Teresa, que perdura até hoje. Eu estava em casa, em Santo Antônio do Canaã (Patrimônio), recebi um ofício da Câmara me convocando para uma sessão solene em comemoração à fundação de Santa Teresa sendo o orador oficial, o mais jovem Edil, Antônio Ângelo Zurlo. Eu tinha 21 anos.